Logo Correio do Estado

exclusivo

Taxistas denunciam transporte clandestino na rodoviária da Capital

Pessoas se passam por motoristas de aplicativo para conseguir passageiros, inclusive para o interior do Estado; conforme as denúncias, os imigrantes são as principais vítimas do transporte irregular

2 MAR 2023 • POR ketlen gomes • 09h30
Taxistas denunciaram casos de transporte clandestino no terminal rodoviário de Campo Grande   Gerson Oliveira

Taxistas que atuam no terminal rodoviário de Campo Grande denunciaram ao Correio do Estado que o ponto está sendo local de abordagens para viagens clandestinas.

Pessoas se passam por motoristas de aplicativo e aproveitam para conseguir passageiros – principalmente imigrantes –, inclusive para transporte até o interior de Mato Grosso do Sul. 

A reportagem esteve no terminal em dois momentos durante a semana do Carnaval e conversou com taxistas. Todos relataram a ocorrência de viagens clandestinas.

Dois motoristas, que não quiseram se identificar, por medo de represálias, informaram que essas pessoas são perigosas e sempre provocam os taxistas. 

Um dos motoristas confirmou a ocorrência de viagens para o interior do Estado e disse que já realizou esse tipo de transporte, mas de maneira regularizada. 

“Se a gente faz por R$ 1.000, eles fazem por R$ 600, porque a gente é regularizado, não pode levar um passageiro e voltar com outro, e eles fazem isso, aí têm lucro em cima. Um companheiro nosso fez isso e está pagando até agora uma multa”, relatou o taxista. 

Os profissionais regularizados encaminharam para a reportagem um vídeo em que aparece um grupo de cinco pessoas que, segundo os taxistas, é responsável por oferecer o transporte clandestino aos passageiros do terminal. 

O capitão da Polícia Militar Rodoviária Kléber Oliveira informou que os taxistas são credenciados para realizar esse transporte, mas seguindo algumas regras. Tirando a liberação para esses profissionais, o transporte sem regulamentação é crime. 

“Nas rodovias, uma vez que seja flagrado esse tipo de veículo irregular, é feito o encaminhamento para a delegacia, onde executamos todo o procedimento criminal e a responsabilização do proprietário do veículo e do condutor”, disse Oliveira. 

Além dos taxistas, pessoas que trabalham nas empresas de ônibus também relatam esse tipo de abordagem ilegal e oferta de transporte clandestino no terminal rodoviário. 

Funcionário da Andorinha, Rafael Mendes relatou que sempre se depara com pessoas oferecendo viagens para o interior do Estado em frente à agência. O supervisor já foi ameaçado pelos motoristas clandestinos, por denunciar a atividade irregular aos órgãos competentes. 

“Eles são bastante maldosos, ameaçam, falam que vão descobrir onde moramos e que vão mandar nos bater. Inclusive, eu mesmo na hora de ir embora tenho de ficar esperto, porque vários me ameaçaram. E isso acontece com frequência, ainda mais com os imigrantes haitianos e bolivianos: eles se aproveitam que o pessoal não sabe se é correto ou não e acabam, às vezes, indo pelo valor mais baixo, que é pouca coisa”, informou o supervisor. 

FISCALIZAÇÃO

Em relação às viagens clandestinas para outros municípios, a Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos (Agems) é a responsável pela fiscalização dessas atividades. 

Segundo Rafael Mendes, já foram enviados fotos e vídeos e feitas diversas denúncias ao órgão e, nos últimos dois meses, a Agems tem realizado fiscalizações no terminal. No entanto, ainda assim não é o suficiente para impedir esse tipo de atividade ilícita. 

“Eles [Agems] não ficam aqui o dia inteiro. A fiscalização da agência estadual e a polícia só ficam uma determinada hora do dia, de manhã e, às vezes, à tarde”, disse Mendes. 

“Mas no período da noite a fiscalização vai embora, e o pessoal que oferece o transporte clandestino fica na frente do guichê. Eles brigam conosco e, em meio aos gritos, anunciam os destinos. Tem cliente que infelizmente vai, porque não conhece o perigo que é”, complementou o supervisor. 

Em nota, a Agems informou ao Correio do Estado que realiza fiscalizações permanentes, inclusive no terminal rodoviário, a partir de denúncias ou da constatação dos fiscais.

Conforme a agência, as ações também ocorrem nas estradas do Estado e, no Carnaval, dois carros foram apreendidos ao serem flagrados transportando passageiros. 

“Viagem intermunicipal remunerada em veículo particular é um transporte individual e, portanto, é proibida, incluindo as praticadas por carros de aplicativos. Os aplicativos só podem rodar dentro dos limites de cada município, seguindo as normas de cada prefeitura”, informou a Agems em nota. 

TRANSPORTE MUNICIPAL

Além do transporte intermunicipal, há também o transporte irregular de passageiros dentro da Capital. Taxistas relatam que, além dessas pessoas não serem motoristas de aplicativos, também lesam os passageiros, pois cobram taxas abusivas sobre as viagens. 

“Eles falam que o táxi é mais caro, e eles cobram mais caro que a gente. Plantão passado mesmo, de madrugada, chegou um senhor aqui e eles começaram a gritar ‘é Uber, é Uber’, e não tem nada de Uber. O cara foi lá e perguntou quanto dava para ir no Residencial Betaville, eles falaram R$ 35, e no taxímetro dá R$ 25. A pessoa não compara preço e acaba aceitando a oferta deles”, comentou o taxista Centurião Ramos. 

Os profissionais afirmam que a Agência Municipal de Transporte e Trânsito (Agetran), que é a responsável pelas fiscalizações de transporte no município, pouco aparece na rodoviária, mesmo com as denúncias dos taxistas. 

“A Agetran algumas vezes passa aqui durante o dia, mas no período da noite eles somem. Me parece que o coordenador do ponto de táxi já foi na Agetran, já pediu para ficarem aqui até pelo menos meia-noite, mas eles alegam que não têm agentes suficientes”, disse o taxista José Carlos. 

Até o encerramento desta edição, a Agetran não tinha respondido à reportagem. A Socicam, empresa responsável pela administração do terminal rodoviário de Campo Grande, informou que não tem poder para fiscalizar e atuar nas situações que ocorrem na área externa do local.

Saiba: A Socicam, empresa responsável pela administração do terminal rodoviário de Campo Grande, informou que não tem poder para fiscalizar e atuar nas situações que ocorrem na área externa do local.

Assine o Correio do Estado