Na última terça-feira (7), o deputado estadual, João Henrique Catan (PL), causou polêmica ao exibir o livro "Mein Kampf" (Minha Luta, em português), na sessão plenária da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS).
O vídeo viralizou nas redes sociais a nível nacional e causou grande repercussão na imprensa brasileira.
Porém, de acordo com Catan, o vídeo foi editado e distorcido.
O trecho em que o deputado se dirige ao presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, deputado Gerson Claro (PP), com o livro em mãos, e afirma: "senhor presidente, é com a apresentação do Mein Kampf, de Hitler, que peço para que este parlamento se fortaleça, se reconstrua, se reorganize, nos rumos do que foi o parlamento europeu da Alemanha", viralizou nas redes sociais e em jornais de todo o País.
Em entrevista coletiva, na manhã desta quarta-feira, Catan afirmou que se trata de uma “fake news”, e que irá processar veículos de comunicação da mídia nacional, como revista Veja, UOL, Band, Jornal Metrópoles e ISTO É.
“Tenho capas dizendo que eu exaltei Hitler, quando a minha fala é inteira antagônica. Eu mostrei que o parlamento europeu após a vitória dos aliados, na Segunda Guerra Mundial, assumiu o protagonismo do país, quer dizer, a saída foi democrática, a saída foi o parlamento”, afirmou.
Segundo o deputado, mostrar o livro foi uma forma de chamar a atenção para a atuação do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul.
Durante a sessão, Catan comparou ações do governo de Eduardo Riedel (PSDB) a atitudes nazistas, e criticou o chefe do executivo estadual.
“Eu disse: ‘essa construção maciça da base de apoio do governo aqui está ateando fogo nas funções do parlamento, sem a gente precisar esperar ver queimar esse prédio, e cair em ruínas’”, explicou.
O Governo do Estado havia orientado sua base a votar contra um requerimento de João Henrique Catan, que visava detalhar as contratações com cargos comissionados do Estado. A requisição teve 16 votos contra e dois a favor.
“Vamos pegar o exemplo da Alemanha, e ver se não choca mais de 90% dos parlamentares irem contra um requerimento de informações de 2.500 cargos comissionados, sem a gente ter o salário, as complementações, saber quanto eles ganham”, afirmou.
Ainda segundo o deputado, o Governo do Estado estaria tirando o poder do parlamento.
"Eu tenho ojeriza ao Hitler, eu repugnei o que ele fez. Eu estava explicando como ele desconstruiu o parlamento na Alemanha, e como o parlamento, depois do Hitler, conseguiu modificar o regime e transformar em algo que o PSDB defende, que é o 'parlamentarismo' como forma de Governo", comentou.
Repercussão
Na manhã da última terça-feira, logo após a fala do deputado João Henrique Catan (PL), Pedro Kemp (PT) foi à tribuna, e afirmou que o deputado "pegou pesado" ao comparar a votação do requerimento com o nazismo, e afirmou que ser contra o pedido de Catan não o "tornava" nazista.
“Eu penso que o deputado pegou pesado aqui quando trouxe o exemplar do Mein Kampf (...), e eu vim aqui porque eu vou votar contra esse requerimento e não quero ser taxado de nazista”, afirmou.
Em entrevista ao Correio do Estado, nesta quarta-feira (8), Kemp afirmou que a fala de Catan repercutiu de forma equivocada, e que em momento algum o deputado elogiou o líder nazista, Adolf Hitler.
“Longe de defender o deputado, porque eu tenho muitas diferenças com ele, ele não fez apologia ao nazismo, ao Hitler e nem ao livro. Ele quis comparar o fato do requerimento dele não ser aprovado aqui, por orientação do Governo, ele quis comparar o governador a Hitler, que tentou calar o parlamento alemão", afirmou.
Para Kemp, o erro de Catan foi ter utilizado o livro em sua defesa.
"O que eu achei que foi infeliz da parte dele foi utilizar aquele livro. Livro que já foi até proibida a circulação, a venda. De fato é um livro que incita o ódio", afirmou.
"Minha Luta"
O livro Mein Kampf, traduzido como "Minha Luta", em português, foi escrito por Adolf Hitler, e relata, além de sua biografia, seus ideais políticos.
O livro é dividido em dois volumes, e foi escrito para um público específico: os membros do partido nazista. Ele se popularizou entre os alemães, e passou a ser considerada "a bíblia do nazismo".
Durante a administração nazista, era costume oferecê-lo a recém-casados, a soldados prestes a servir, e era ensinado nas escolas primárias de toda a Alemanha.
O primeiro volume foi publicado em 1925 e o segundo em 1926. Segundo o autor Emerson Santiago, autor do site "Info Escola", o livro possui discurso e narrativa própria, e o texto é marcado pelo radicalismo e pela violência, buscando ao mesmo tempo responder perguntas que afligiam à sociedade alemã, entre elas uma crucial: a razão da perda da guerra, a qual atribuiu aos judeus e aos comunistas, que seriam inimigos do povo alemão e de seu progresso.
Segundo o autor do artigo, o "Mein Kampf" pregava ainda a volta do império e uma retomada no sentimento de orgulho alemão, além de um ódio pelo liberalismo e sua consequente modernidade democrática.
"Curioso notar que seu livro não dá uma descrição pormenorizada do que seria o nacional-socialismo, ao mesmo tempo que seu movimento ia estabelecendo laços com empresários e financistas", diz Santiago.
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, o livro se tornou uma prova dos crimes cometidos pelo regime, já que (quase) tudo foi relatado nele.
Até os tempos atuais, o livro nazista é proibido em muitos países, devido ao conteúdo de intolerância política, religiosa e racial que este apresenta.
"O fato é que o livro permanece como o documento primário para se entender a doutrina nazista, e o porquê da necessidade desta de ser combatida", conclui Emerson Santiago.