Após publicação de reportagem do Correio do Estado mostrando que as apreensões de cocaína feitas pelo Departamento de Operações de Fronteira (DOF) despencaram neste ano, o comando do departamento rechaçou a possibilidade de esta queda ter algum vínculo com a chegada do sargento Ygor Nunes Nascimento à corporação.
O policial foi preso na última sexta-feira (30) sob suspeita de integrar a quadrilha de traficantes internacionais de cocaína supostamente comandada pelo sul-mato-grossense Antônio Joaquim Mota, conhecido como Motinha, ou Don.
Em nota, “a direção do DOF (Departamento de Operações de Fronteira) informa que o período em que o Sargento PM Igor esteve na Unidade, de 7 de abril de 2023 (sua primeira escala como estagiário) a 30 junho de 2023 (data de sua prisão em serviço) as apreensões de cocaína e pasta base de cocaína somaram aproximadamente cem quilos. No mesmo período do ano anterior, as apreensões foram de 5,7 quilos de cocaína e pasta base de cocaína.”
A nota diz ainda que “a direção do DOF enfatiza que o policial em questão estava em período de Estágio e não integrava, efetivamente, o departamento (não usava o fardamento do DOF); e não fazia parte dos grupos operacionais, de inteligência ou administrativo, além de não ter nenhum canal de acesso às informações internas”, explicou a nota.
A reportagem contestada mostra que as apreensões de cocaína feitas pelo DOF no primeiro semestre do ano passado somaram 1.777 quilos. No mesmo período de 2023, foram apenas 98 quilos. A nota do Departamento não traz nenhuma possível explicação para esta queda drástica nas apreensões.
E, enquanto que as retensões do DOF praticamente pararam em 2023, as interceptações da Polícia Rodoviária Federal quase dobraram nos primeiros seis meses deste ano.
No primeiro semestre de 2022 a PRF reteve 5.123 quilos de cocaína ou pasta base no Estado. Em 2023, o volume aumentou mais de 90% e saltou para 9.571 quilos, o que é recorde para a história da instituição no Estado. No ano passado inteiro foram 10,7 toneladas.
A maior apreensão do ano anunciada até agora pelo DOF ocorreu justamente uno dia da prisão do sargento Ygor, na sexta-feira. O DOF interceptou 40,2 quilos de cocaína na BR-262, que liga Campo Grande à fronteira com a Bolívia. Antes disso, o recorde do ano havia sido de 20,4 quilos, no dia 9 de junho, em Laguna Carapã.
No mesmo dia em que foi preso, o sargento foi excluído do grupo de elite que atua ao longo de toda a fronteira com a Bolívia e o Paraguai, inclusive em rodovias federais. Com ele foram encontradas uma pistola 9 milímetros e dezenas de munições, inclusive para fuzil. Segundo policiais que conhecem o sargento, a arma e munições eram utilizadas por ele para
“DON CORLEONE”
O chefe do bando especializado em traficar cocaína para a qual o policial estaria trabalhando, Antônio Joaquim da Mota, conseguiu escapar da Polícia Federal na operação da última sexta-feira. No dia 11 de maio, em outra operação da PF na região de Ponta Porã, ele também escapou. Nas duas fugas ele teria utilizado helicóptero. Conforme a PF, a quadrilha já perdeu 12 helicópteros para a polícia nos últimos anos.
Também de acordo com a PF, a seu serviço ele tem um grupo paramilitar composto por brasileiros, um italiano, um romeno e um grego. Os estrangeiros conseguiram fugir no helicóptero o chefe. E, além de fazer a segurança de Motinha, que se autodenomina Don Corleone, eles também seriam responsáveis pela segurança dos carregamentos de cocaína.
FAMÍLIA TRADICIONAL
Antônio Joaquim Mota é de tradicional família do agronegócio da região de Ponta Porã. Além da produção de grãos e atuação na pecuária, a família Mota é proprietária de um frigorífico de abate de bovinos e de uma das mais tradicionais casas de carne da região de fronteira.
Em 28 de julho do ano passado, por exemplo, o DOF apreendeu 568 quilos de cocaína num caminhão frigorífico no anel viário de Dourados. Foi uma das maiores apreensões do ano da corporação, que fechou 2022 com a retensão de cerca de 2.350 quilos de cocaína e base. Porém, não foi divulgado se o carregamento pertencia á quadrilha que supostamente seria comandada por Motinha.
Durante as investigações, a Polícia Federal constatou que a organização criminosa possui grande poder bélico, com coletes balísticos, drones, óculos de visão noturna, granadas, além de armamento de grosso calibre, a exemplo de fuzis 556, 762 e ponto 50, este capaz de perfurar blindagens e abater aeronaves.
Na operação da última sexta-feira foram realizadas duas prisões em Minas Gerais, uma em São Paulo, uma no Rio Grande do Sul, e duas em Mato Grosso do Sul, nas cidades de Ponta Porã e Dourados. Além disso, foram apreendidas pelo menos 14 armas, além de 40 caixas de munição, seis granadas e colete balístico.