A delegada Daniela Kades, integrante da força-tarefa da polícia civil que prendeu Jamil Name Filho, é a primeira testemunha ouvida no tribunal do júri na manhã desta terça-feira. Ele confirmou mais uma vez que a fazenda Figueira, de 19,1 mil hectares, foi o pivô do atentado mal sucedido que resultou na morte do estudante de Direito Matheus Xavier, de 20 anos, em abril de 2019.
Ela revelou, inclusive, que durante as negociações sobre a posse da fazenda, Jamil Name Filho chegou a jurar de morte o advogado Antônio Augusto de Souza Coelho, que teria se apossado de parte destas terras, hoje avaliadas em R$ 700 milhões
As ameaças de morte foram feitas em público em meio a jantar, do qual participara inclusive um desembargador. O assassinato só não ocorreu, segundo o depoimento da delegada, porque o advogado ficou escondido atrás de uma pilastra e depois levado embora de Campo Grande às pressas.
O advogado, especialista em transações imobiliárias, é de São Paulo e, segundo a investigação, tem relação próxima com ministros do STJ e do STF, o que teria sido fundamental para que as autoridades locais levassem adiante as investigações sobre a morte de Matheus Xavier.
Jamil Name, o autor das ameaças, morreu vítima de covid em Mossoró, aos 83 anos, em junho de 2021.
A delegada deu detalhes também sobre o hacker Eurico, que foi fundamental para que a polícia descobrisse provas contra a milícia. A pedido dos supostos assassinos, esse hacker monitorava em tempo integral o telefone do ex-capitão da PM Paulo Xavier, pai de Matheus.
A perícia dos celulares tanto do hacker quanto do pai de Matheus, segundo a delegada, confirmaram que esse monitoramento efetivamente aconteceu dias antes do atentado.
Ela relatou, ainda, que dias antes do crime, José Moreira Freires, o Zezinho, que seria o autor dos disparos fatais, teria passado pelo menos vezes na frente da casa de Matheus. A descoberta de que ele vigiou a casa ocorreu porque Zezinho estava com tornozeleira, cuja movimentação ficou toda registrada. Depois da morte de Matheus, ele rompeu a tornozeleira e fugiu, sendo morto em dezembro de 2010.
Apesar das prisões e da descoberta de um arsenal com 22 armas, entre fuzis, pistolas, revólveres e escopetas, o fuzil utilizado para matar Matheus, a arma do crime nunca foi localizado. Segundo a delegada, cinco dias depois do crime esse fuzil teria sido vendido por um comprador paraguaio. Esse negociação teria sido feita pelo ex-policial Vladenilson.
Jamil Name Filho, o policial civil aposentado Vladenilson Daniel Olmedo e Marcelo Rios começaram a ser julgados nesta segunda-feira e a previsão é de que o julgamento se estenda por quatro ou cinco dias.
A defesa do policial aposentado Vladenilson fez uma série de questionamentos à delegada para tentar evidenciar que ele não teria relação com o assassinato, já que as provas contra ele são poucas. A delegada, porém, afirma que a falta de provas ocorre porque ele e outros policiais trocavam de chip até 13 vezes por dia, o que dificultou a juntada de provas.