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ÁUDIO VAZADO Após condenação de Jamilzinho, delegada que peitou cúpula da polícia é punida Em 2021,Daniella Kades se recusou a divulgar nomes de investigados ao delegado-geral "por não confiar na polícia" 25 JUL 2023 • POR Glaucea Vaccari • 13h30
Delegada Daniella Kades foi a primeira testemunha a depor no júri do caso Matheus Xavier   Foto: Marcelo Victor / Correio do Estado

A titular da Delegacia Especializada de Atendimento a Infância e Juventude (Deaij), Daniella Kades, que integrou força-tarefa da Operação Omertà, foi punida pela Polícia Civil por uma discussão que ocorreu em 2021, com o então delegado-geral da Polícia Civil, Adriano Garcia Geraldo.

A sanção administrativa imposta a delegada é o afastamento do cargo pelo período de 30 dias, do dia 1º a 30 de agosto de 2023. A sanção foi publicada no Diário Oficial do Estado desta terça-feira (25). Durante o período, assume a delegacia o adjunto, Alberto Luiz Carneiro da Cunha Miranda.

Ao Correio do Estado, Daniella Kades confirmou que a discussão motivou a punição e disse que foi chamada por superiores no mês passado, quando foi avisada que seria suspensa. Mas em razão da proximidade do júri de Jamil Name Filho, Marcelo Rios e Vladenilson Daniel Olmedo pela morte do estudante Matheus Xavier e no qual seria testemunha, a suspensão foi adiada.

“Mês passado me chamaram, eu avisei do júri, que o meu delegado adjunto estava de férias e que poderia dar problema, aí acharam melhor esperar”, disse a delegada.

Ela disse ainda que tinha a opção de recorrer administrativamente da sanção, mas optou por não fazê-lo.

A sanção é em processo administrativo aberto após vazar um áudio gravado em reunião fechada entre os  titulares de todas as delegacias da Capital com o delegado-geral da Polícia Civil, em 2021, onde houve bate-boca entre Daniela e Adriano.

Discussão

Conforme áudio gravado na reunião, durante conversa sobre o andamento da Operação Omertà, a delegada se recusa a dizer o nome de alguns dos investigados. Quando questionada pelo delegado-geral sobre o motivo da recusa, ela afirma que é porque “não confia na polícia”.

Na época, durante o decurso da operação que culminou na derrocada da milícia comandada pelos Name, vários policiais, guardas municipais e integrantes de forças de segurança foram alvos por suspeita de corrupção e fazer parte da organização, motivando a desconfiança da delegada em compartilhar informações.

Ainda no áudio, o então delegado-geral responde afirmando que a delegada então não confia nela mesma, e inicia-se uma discussão, onde a delegada diz que confia nela e novamente se recusa a dar detalhes sobre grupos investigados por estar com a vida em risco.

O delegado-geral afirma que Daniella pensa pequeno, que há uma hierarquia e lamenta a falta de confiança da colega. Ao que Daniella responde que houve uma conversa entre ele e pessoas que representavam o Pantanal Cap, alvo de uma das fases da operação.

O delegado-geral foi alvo, posteriormente, de investigação por improbidade administrativa, por suposto envolvimento em esquema que protegia o jogo do bicho na Capital. Depois de um série de polêmicas, ele deixou o comando da Polícia Civil.

O áudio, gravado em reunião fechada, foi vazado. Não foi detalhado se a delegada foi punida pela discussão ou pela gravação, pois também não foi informado quem divulgou o áudio para a imprensa.

Importante ressaltar que, na semana passada, durante julgamento do assassinato do estudante Matheus Xavier, outros delegados afirmaram que existia desconfiança sobre envolvimento de mais policiais com a milícia dos Name e que algumas diligências não eram compartilhadas com todos os policiais.

Em depoimento, o delegado João Paulo Sartori disse que nem todos os policiais do Garras tinham conhecimento das provas obtidas no decurso das investigações.

Já Carlos Delano informou, em juízo, que foi afastado da titularidade da Delegacia Especializada de Repressão a Homicídios quando investigava a morte do estudante, sem esclarecimentos do motivo do afastamento, sendo reintegrado a força-tarefa posteriormente.

Daniella Kades foi a primeira testemunha a depor no júri do caso do estudante Matheus Xavier e detalhou como ocorreram as investigações da qual fez parte. 

O julgamento durou três dias e terminou com a condenação de Jamil Name Filho a 23 anos e seis meses de prisão, Marcelo Rios a 23 anos e Vladenilson Olmedo a 18 anos.