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Em Campo Grande Pivô de punição de delegada foi absolvido de briga em trânsito A delegada foi suspensa de suas funções por um bate-boca, enquanto o delegado foi inocentado por atirar três vezes no carro de uma jovem 26 JUL 2023 • POR Valesca Consolaro • 12h50
  Foto: Reprodução/Imagens de segurança

A Corregedoria-Geral da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul inocentou o ex-delegado Adriano Garcia Geraldo, que em fevereiro de 2022, perseguiu uma jovem de 24 anos no trânsito e atirou nos pneus do carro dela. O mesmo delegado foi o pivô da punição da  titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e Juventude (Deaij), Daniella Kades, afastada por 30 dias de suas funções, em razão de uma bate-boca com ele. 

Conforme o relatório da investigação da briga no trânsito, datado em 17 de maio deste ano, assinado pelo delegado Wilton Vilas Boas de Paula, a motorista que teve os pneus furados foi considerada culpada. 

“A desobediência à ordem legal de parada, emanada por agentes públicos em contexto de policiamento ostensivo, para prevenção e repressão de crimes, constitui conduta penalmente típica”, informa o texto. 

A conclusão do inquérito aponta que é “evidente que a abordagem realizada se tratava realmente de uma abordagem policial, um tanto questionável no início, mas muito evidente em seu desfecho”.

Desse modo, a alegação do ex-delegado, dizendo que a perseguiu por uma suspeita, foi aceita como um ato de proteção à população. 

Adriano dirigia um Hyundai Elantra descaracterizado, enquanto a moça dirigia um Renault Kwid. 

No relatório, é destacado que a jovem deveria ter parado imediatamente ao primeiro sinal de Adriano, mesmo ele estando descaracterizado. Entretanto, ela alega ter ficado assustada com a abordagem do carro descaracterizado.

Por fim, foi concluído que ela dirigia de forma irregular, já que ela teria invadido a faixa de rolagem, “fechando” o carro em que estava Adriano. 

Em nota, o Ministério Público de Mato Grosso do Sul informou que pediu mais diligências no inquérito sobre Adriano Garcia Geraldo. 

“A conclusão da esfera criminal é apenas o primeiro passo, e a Corregedoria-Geral dará continuidade à apuração na esfera administrativa, em procedimento próprio, visando esclarecer possíveis irregularidades funcionais decorrentes da situação que envolveu o ex-Delegado-Geral”. 

Lembre o caso da briga de trânsito 

Na noite do dia 16 de fevereiro, na avenida Mato Grosso, em Campo Grande, o então delegado-geral de Mato Grosso do Sul perseguiu uma jovem de 24 anos no trânsito, depois de irritar-se, primeiramente, com o fato do carro dela ficar afogado por um longo tempo. 

Adriano estava atrás do carro da jovem que, cansada das buzinas e tentando religar o carro, mostrou o dedo médio à ele. 

Houve perseguição que terminou na calçada de uma escola de idiomas. Antes do fim da perseguição, porém, Adriano Garcia Geraldo, que estava em um Hyundai Elantra descaracterizado, furou - à bala - os três pneus do carro da jovem, apontou a arma para ela, e ainda mobilizou pelo menos cinco outros policiais civis e militares.  

Acuada, a moça resistiu a sair do carro, enquanto o delegado gesticulava, conforme mostraram as imagens de segurança.

Por fim, mesmo tendo atirado, ele não pagou o conserto do veículo da moça, um Renault Kwid, e ela teve de acionar a franquia de seu seguro.  

Dois dias após o ocorrido e diante da repercussão do caso, Adriano pediu demissão do cargo. 

Briga com a delegada 

A titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e Juventude (Deaij), Daniella Kades, que integrou a força-tarefa da Operação Omertà, foi punida pela Polícia Civil por uma discussão que ocorreu em 2021, com o então delegado-geral da Polícia Civil, Adriano Garcia Geraldo.

À delegada, foi imposta a sanção administrativa com afastamento do cargo, pelo período de 30 dias, do dia 1º a 30 de agosto de 2023. 

A briga com Adriano aconteceu em meio às investigações da Operação Omertà. Em áudio gravado, a delegada se recusa a dizer o nome de alguns dos investigados. Quando questionada pelo delegado-geral sobre o motivo da recusa, ela afirma que é porque “não confia na polícia”.

Na época, durante o decurso da operação que culminou na derrocada da milícia comandada pelos Name, vários policiais, guardas municipais e integrantes de forças de segurança foram alvos por suspeita de corrupção e de fazer parte da organização, motivando a desconfiança da delegada em compartilhar informações.

O delegado-geral foi alvo, posteriormente, de investigação por improbidade administrativa, por suposto envolvimento em esquema que protegia o jogo do bicho na Capital. Depois de uma série de polêmicas, ele deixou o comando da Polícia Civil. (Colaborou Glaucea Vaccari).