Se você já viu um cão-guia por aí, deve ter tido a curiosidade de saber: como será que é a vida desse cão, quando não está guiando uma pessoa? Será que em casa ele é como os pets comuns?
Nesta matéria, o Instituto Adimax, que abriga o programa cão-guia, o maior Centro de Treinamento da América Latina, desmistifica e esclarece muitos pontos sobre esse assunto.
O treinamento de um cão-guia, que demora em média 1 ano e meio, é um processo criterioso, que contempla muitos detalhes, como saúde e bem-estar animal, compatibilidade do usuário com o cão e também a preocupação com lazer e descanso dele.
“Antes de qualquer coisa, é fundamental esclarecer que um cão só se torna guia se ele tem vocação para a função, ou seja, se ele é feliz guiando uma pessoa, algo que é avaliado durante o tempo de formação dele. No Instituto Adimax, desde filhote e durante a socialização, temos áreas de soltura para que os cachorros possam se divertir, correr, bagunçar, brincar mesmo! Uma prática que também faz parte da rotina fora da instituição, seja nas saídas diárias de treinamento e na soltura durante essas saídas", explica George Thomaz, instrutor de cão-guia.
Segundo George, é possível fazer uma analogia com os seres humanos em que o lazer e o trabalho se equilibram. “Além das horas voltadas para brincadeira e descanso, durante o trabalho, quando estão guiando, eles também acabam se divertindo. O cão gosta de ter um objetivo a ser cumprido, além disso, ele passa o tempo todo na companhia do seu tutor, diferente de um pet comum, que fica em casa. É como um ser humano que trabalha com o que gosta”, comenta.
A advogada e analista Marcela Pandolfi, usuária da cão-guia Kate, afirma que a preocupação com os momentos de descontração começa desde o primeiro contato com o cão.
“Ainda em classe, quando estamos em treinamento, os instrutores nos orientam sobre a importância desse cuidado durante a soltura, as brincadeiras em casa, indicam quais brinquedos são melhores e nós vamos desenvolvendo isso com o cão conforme nossa rotina, nossos momentos. É como acontece em família, onde também temos nossas brincadeiras, cada um de seu jeito”.
Se para os pets comuns o lazer é fundamental, para os cães-guias isso ainda é mais importante: “é uma fonte de equilíbrio, é onde o cão extravasa é indispensável”, diz George.
Os cães-guias e seus tutores têm acompanhamento vitalício do Instituto e alguns indicadores mostram, ao longo da vida, se esse cão está tendo uma vida ativa, saudável e feliz. “Além de nós, instrutores, que periodicamente mantemos contatos com os usuários de cães-guias, a própria sociedade também é uma forma de vigia. A qualquer sinal de um cão apático, desanimado, por exemplo, as pessoas podem nos acionar e vamos averiguar o que está acontecendo.
Outro sinal de que um cão está equilibrado é o peso. Se ele está com sobrepeso é porque está comendo demais ou gastando menos energia do que precisa, ou seja, brincando e correndo menos. Aí o alerta também é aceso e imediatamente vamos analisar e reequilibrar essa rotina. Nada é mais importante que a saúde e o bem-estar do animal”, afirma George.
Marcela ainda ressalta outra vantagem dos cães-guias se comparados aos pets comuns. “O trabalho do meu cão-guia é me guiar por caminhos que não conheço, mais longos ou que podem me oferecer algum risco. Para a ida ao trabalho, por exemplo, ela está com o equipamento somente durante o trajeto. Chegando lá, ela fica comigo, descansando, recebe carinho dos meus colegas de trabalho, que ela adora, e ainda consigo soltá-la no gramado próximo ao escritório, na hora do almoço. Tenho certeza que ela está muito mais feliz do que se estivesse em casa, sozinha. Outro mito é achar que eles não gostam de nos guiar. É só ela perceber que estou me trocando, que já vem toda animada me cheirar e não sai mais do meu lado”, conta.
De acordo com o Instituto Adimax, todas as orientações de conduta, comportamento, brincadeiras que devem ser evitadas, que possam impactar no desempenho como guia, são passadas durante o treinamento realizado com os futuros usuários. Além disso, qualquer problema que possa vir a ocorrer com o cão, o Instituto está pronto a ajudar.
“A sociedade precisa quebrar esse estigma de que cães de trabalho só trabalham ou sofrem. Eles também são pets, são felizes e tem um propósito muito importante e bonito na vida dessas pessoas”, finaliza George.