Ao contrário de épocas passadas, quando raramente se colocava preço nos entorpecentes, praticamente todas as forças policiais passaram a adotar a prática de atribuir valor financeiro às apreensões de entorpecentes. Porém, cada uma faz sua própria precificação e a variação da cocaína, por exemplo, chega a 520%%, variando de R$ 29 mil a R$ 180 mil o quilo.
A cocaína mais barata é a da Polícia Federal. Conforme nota distribuída na última sexta-feira (15), quando foi preso em Campo Grande o piloto de um avião interceptado em janeiro com 528 quilos de cocaína, o prejuízo gerado ao narcotráfico foi estimado em “mais de R$ 15 milhões”. Ou seja, o quilo foi estimado em R$ 29 mil.
A Polícia Rodoviária Federal, por outro lado, tem avaliação bem diferente. Na maior apreensão da história da corporação, de 1.860 quilos de cocaína corrida no final de fevereiro na BR-060, a assessoria informou que o prejuízo ao narcotráfico havia sido de R$ 334 milhões, o que equivale a R$ 180 mil por quilo. Então, a PRF dá valor 520% maior que a Polícia Federal.
A Polícia Civil, por sua vez, fica entre as duas instituições federais. No último dia 6 de setembro, quando a corregedoria divulgou a apreensão de 538,1 quilos de cocaína e um policial civil foi preso em flagrante, o carregamento transportado em uma viatura oficial foi estimado em “mais de R$ 40 milhões”. Isso significa que o quilo foi estimado em cerca de R$ 75 mil.
E até mesmo a pasta base da PRF é “mais cara” que a cocaína pura das outras instituições. Em média, conforme dados divulgados pela instituição, o preço do quilo é estimado em torno de R$ 115 mil. Mas, quando da divulgação dos dados oficiais, tanto a pasta base quanto a cocaína são avaliados em R$ 180 mil.
E a disparidade de preço dos entorpecentes varia até mesmo de uma data para outras dentro das mesmas instituições. Em apreensão de 6,2 quilos de pasta base de cocaína divulgada pelo Departamento de Operações de Fronteira no dia 3 de julho, o quilo foi avaliado em R$ 50 mil. Em divulgação feita no último dia 28 de agosto, o valor atribuído ao mesmo tipo de entorpecentes foi de quase R$ 77 mil.
DISPARIDADE MUNDIAL
E não são só as policiais locais que não conseguem chegar num acordo sobre os preços dos entorpecentes. Conforme o Centro de Excelência para a Redução da Oferta de Drogas Ilícitas (CdE), que no final de 2022 publicou o estudo “Dinâmicas do mercado de drogas ilícitas no Brasil”, é normal que os preços dos entorpecentes tenham grande variação e nem mesmo a ONU tem avaliação precisa sobre esse mercado.
De acordo com esse estudo, o quilo da cocaína na Europa ao longo do ano passado variou entre R$ 140 mil, na cotação mínima, a R$ 270 mil, na máxima. E esses foram os preços no atacado. Ou seja, até mesmo o preço divulgado pela PRF pode estar subestimado, já que ele faz o cálculo sevando em consideração aquilo que os traficantes poderiam faturar caso a droga chegasse à Europa.
O mesmo estudo também tentou fazer a cotação dos preços da cocaína no Brasil, mas levou em consideração somente os estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso e Pernambuco. E, de acordo com esse estudo, o valor máximo no preço por atacado chegou a R$ 25 mil o quilo da cloridrato de cocaína, em Mato Grosso.