Delegado da Polícia Civil, Maurício Vargas, informou na tarde desta segunda-feira (18), por meio de mensagens divulgadas à imprensa, pelo Whatsapp, que o casal de indígenas, cujos corpos foram achados carbonizados, pela manhã, numa aldeia, em Aral Moreira, cidade de Mato Grosso do Sul, situada na faixa de fronteira com o Paraguai, foi passional, isto é, um parente, homem, matou os dois, já idosos, e depois pôs fogo na casa.
Nhandesy Sebastiana, a vítima, era bem conhecida na região, exercia a condição de líder espiritual, rezadora, no caso, para os indígenas. Rufino, era o marido dela.
O delegado ainda não soube informar detalhes acerca das circunstâncias da tragédia. No entanto, garantiu que o assassino já está preso e o policial preparava o pedido de prisão preventiva do capturado. A casa onde o casal moral foi totalmente destruída pelo fogo.
Logo pela manhã, entidades indígenas informaram que “as primeiras informações indicavam que ambos [marido e mulher] foram executados criminosamente, consequências de umas séries de discursos de ódio, a intolerância religiosa e o racismo religioso recorrente nos territórios Kaiowá e Guarani com o avanço desenfreado das religiões neopentecostais [evangélicas] em nossas terras”.
Entretanto, o delegado afastou essa hipótese. Ele disse que policiais civis e militares foram à aldeia na madrugada e, lá, viram os corpos carbonizados. “Não tem relação com ódio ou preconceito”, afirmou Vargas.
O delegado informou ainda que, à tarde, o suposto criminoso foi detido por militares numa região afastada da cidade.
Vargas contou que a indígena, idosa, era “curandeira” e muito conhecida na comunidade indígena da região.
Ele sustentou também que o episódio em questão expõe “um problema social recorrente” envolvendo indígenas que habitam aldeias localizadas na fronteira, que é consumo de droga e o alcoolismo.
ALERTA EM RELATÓRIO
Recente relatório divulgado pelo Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana de Mato Grosso do Sul, o CDHU-MS, fez um alerta contra a violência que estaria afetando mulheres indígenas tidas por suas comunidades como as rezadoras.
"Foram, pelo menos, 17 casas de rezas indígenas incendiadas nos últimos cinco anos, sem que se tenha notícia de que os autores fossem identificados e/ou responsabilizados. Nesses últimos anos cresceu vertiginosamente o número de parteiras, rezadores (as) perseguidas e demonizadas, assim como as pessoas que seguem religiões tradicionais indígenas sendo atacadas e xingadas por seus vizinhos e vizinhas que não professam a fé tradicional", diz trecho do relatório.
Diz ainda o estudo “essas mulheres [rezadoras] têm seus cabelos cortados por faca, carregam hematomas físicos profundos em suas cabeças e em muitas outras partes do corpo. Nos processos de ‘condenação’ pelos neopentecostais, seus joelhos podem ser vistos sangrando, suas casas são queimadas, elas são expulsas das comunidades e carregam consigo traumas de violência psicológica brutal, temendo serem queimadas vivas, enforcadas e mortas. São insultadas e xingadas de bruxas e de feiticeiras”.
“As igrejas estão entrando em massa nas comunidades indígenas, inferiorizando a cultura tradicional e desvalorizando os conhecimentos tradicionais de nosso povo. Os pastores usam as igrejas como instrumento para impedir e desorganizar uma estrutura tradicional que o povo Kaiowá e Guarani vêm ao longo do tempo, lutando para reconstruir – a despeito das graves consequências deixadas pela colonização que segue forte contra nossos corpos, costumes e tradições".
Segue o relatório:
"Exigimos das instâncias jurídicas nacional e internacional que apurem com urgência todos os ocorridos de violência contra os nossos corpos. Nossas anciãs estão correndo risco de vida e com elas, também nós!”