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CAMPO GRANDE Jogo do bicho volta às ruas mais moderno após saída dos Name Agentes da Polícia Civil apreenderam ontem 700 máquinas da contravenção em residência onde estavam dois militares 18 OUT 2023 • POR Daiany Albuquerque e Valesca Consolaro • 09h30
Máquinas de jogo do bicho foram encontradas em residência no Monte Castelo, em Campo Grande   Divulgação

Quatro anos depois que Jamil Name e Jamil Name Filho, mais conhecido como Jamilzinho, foram presos, apontados pelas autoridades como os donos do jogo do bicho em Mato Grosso do Sul, a Polícia Civil fez uma apreensão de 700 máquinas da contravenção, o que mostra que, após a saída da família dos negócios, o crime foi "passado para frente" e agora opera de forma mais moderna.

As máquinas apreendidas são semelhantes a máquinas de cartão utilizadas diariamente em qualquer comércio, sendo facilmente confundidas. Inclusive, não é difícil encontrar máquinas de jogo do bicho à venda em sites populares de varejo e marketplaces.

Além das máquinas para fazer o jogo, a contravenção agora está on-line. Tanto o jogo quanto o resultado saem em site, em tempo real, e há jogos em vários horários diferentes.

Modernidade que há quatro anos, quando a Operação Omertà foi deflagrada, quando os Name foram presos, ainda não estava em prática.

A coordenação da operação do jogo de azar teve mudança a partir do dia 27 de setembro de 2019, quando a força-tarefa chefiada pela Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Bancos, Assaltos e Sequestros (Garras), com participação do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), prendeu Jamil Name, Jamilzinho e vários outros envolvidos na organização criminosa chefiada por eles e que também atuava como milícia armada e em crimes de pistolagem, conforme apontaram as investigações.

Depois que os chefões foram presos e mandados para o presídio federal de Mossoró (RN), o "negócio" foi entregue a outro grupo. A apreensão de ontem prova que a prática segue sendo praticada.

De acordo com o Garras, a apreensão das máquinas foi feita em residência localizada no Bairro Monte Castelo por coincidência.

O delegado Fábio Peró, titular do Garras já na época da Omertà, afirmou que uma equipe que estava investigando o sequestro de servidor da Caixa Econômica Federal se deparou com um veículo que havia sido roubado naquela noite, em frente a uma casa no bairro.

Como a informação passada era a de que eram quatro homens armados, foi solicitado reforço para a abordagem. Porém, a equipe saiu para tentar abordar uma outra pessoa e, ao retornar, o carro roubado não estava mais em frente à residência momento que os policiais decidiram tocar a campainha da casa, como contou o delegado.

Ao entrarem na residência, os policiais se depararam com as máquinas de jogo do bicho, as quais a maioria parecia ser nova. No local, encontravam-se 10 pessoas, entre elas dois militares (um sargento e um major da reserva), e nenhuma delas assumiu a responsabilidade pelo imóvel.

Quando a contravenção era comandada pelos Name, vários agentes da lei, entre policiais civis, federais e da Guarda Civil Metropolitana de Campo Grande, foram acusados de participar do esquema.

"As pessoas estavam ali somente para jogar um baralhinho, falaram os homens ao serem abordados", disse Peró.

Segundo o delegado, os 10 indivíduos que estavam na residência foram conduzidas ao Garras.

Ainda, alguns optaram por ficar em silêncio durante o interrogatório, enquanto outros declararam que só estavam no local para jogar baralho. Logo após serem ouvidas, as pessoas foram liberadas.

A partir de agora, o caso deve ser apurado pelo Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Dracco), atual responsável por investigar o jogo do bicho no Estado.

OMERTÀ

Da operação Omertà, as investigações resultaram em 19 ações penais contra variadas pessoas por parte do Gaeco, que é um braço do Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul (MPMS).

Entre essas está a denúncia de homicídio contra Jamil Name Filho pela morte de Matheus Coutinho Xavier, em 2019.

Em júri popular, Jamilzinho foi condenado a 23 anos por ser considerado mandante do crime. (Colaborou Ketlen Gomes)