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Conflito em MS

Ministra Guajajara aciona Força Nacional para trabalhar no caso do jornalista canadense agredido

Guajajara compareceu à Assembleia Aty Guasu e ao saber do ocorrido solicitou imediatamente reforço de segurança para os conflitos envolvendo produtores e indígenas nos municípios de Caarapó e Iguatemi

25 NOV 2023 • POR Laura Brasil • 10h30
Cerimônia de posse da Ministra   Reprodução TV Brasil

A Força Nacional está atuando em Mato Grosso do Sul, a pedido da Ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, após a denúncia da agressão sofrida pelo jornalista canadense e sua esposa, durante uma tocaia no município de Iguatemi.

"Nós pedimos a Força Nacional logo que fomos notificados sobre a situação e a Força Nacional já esteve na região no mesmo dia. O Ministério dos Povos Indígenas continua acompanhando por meio do departamento de mediação e conciliação de conflitos para que a gente possa garantir agora essa segurança para os jornalistas que estavam ali retornar para o seu Estado", comentou Guajajara.

Caravana Participa, Parente!

A Ministra, Sonia Guajajara esteve no Estado, nesta sexta-feira (24), para participar da Grande Assembleia Aty Guasu, em Caarapó. Com o tema "Caravana Participa, Parente!" o evento iniciou no dia 21 de novembro e encerra amanhã. 
 

Entenda

O jornalista canadense Renaud Philippe, 39 anos, e sua esposa, a antropóloga brasileira Ana Carolina Mira Porto, 38, estavam cobrindo a assembleia do povo Aty Guassu no município de Caarapó,  assim como conflitos por terras entre indígenas e produtores rurais.

Acompanhados de um morador da comunidade, identificado como Joel, e do engenheiro florestal, Renato Farac Galata, de 41 anos, o casal seguiu até Iguatemi, na quarta-feira (22) ao ter conhecimento de outro embate por posse de terras e decidiram registrar a situação. 

Tocaia

Conforme noticiado pelo Correio do Estado, o trio estava no local para verificar uma denúncia de sequestro de uma família Guarani Kaiowá. A trabalho, o objetivo era a produção de um vídeo documentário. 

"Por volta das 15:30, próximo ao território da retomada, encontramos uma série de veículos, a maioria caminhonetes, bloqueando a passagem e resolvemos dar a volta e retornar. Neste momento os veículos com mais de 30 pessoas não indígenas os seguiram e abordaram. Mesmo explicando que estavam lá somente cobrindo midiaticamente o acontecimento, os agressores os deitaram no chão e iniciaram uma série de agressões. Cortaram meu cabelo com uma faca e outros me deram chutes nas costas e costelas", relatou o jornalista canadense, Renaud Philippe de 39 anos.

Sua esposa, a antropóloga e também cineasta, Ana Carolina Porto, de 38 anos, conta que antes de caírem em uma emboscada passaram por um posto da Delegacia de Operações na Fronteira (DOF), mas que não foram alertados sobre uma possível área de conflito.

"Haviam pessoas armadas com revólver e uma alertou para que a gente saísse do local porque iria ficar perigoso. Tentamos retornaram ao veículo e no trajeto fomos interceptados, agredidos física e verbalmente. Enquanto eramos agredidos, outras pessoas levaram nossos objetos pessoais, como: documentos, duas câmeras fotográficas Fujiifilm, três lentes para as câmeras e seis baterias, aparelho de som com microfone acoplado, dois celulares, Iphones, óculos de grau e minha bolsa", relembra a repórter.


Em depoimento, o engenheiro florestal, Renato Farac, de 41 anos, disse que conheceu o casal durante essa a viagem de trabalho em Iguatemi. Após deixarem um indígena em sua aldeia e terem ido fazer um lanche, foram pegos de surpresa ao retornarem para a região rural.

"Renaud foi agredido com maior contundência, fomos xingados por inúmeras pessoas que surgiram no local. Estávamos num carro alugado e levaram minha mochila com carteira, documentação e dinheiro. Em certo momento, conseguimos escapar e vir para a cidade denunciar", conta o engenheiro florestal, amigo do casal.


Segundo um vídeo divulgado nas redes sociais, os jornalista e a cineasta e a antropóloga brasileira confirmam que foram abordados por homens utilizando capuz e acabaram agredidos. Além disso, policiais militares viram a agressão, mas não fizeram nada. 

Na fala Ana Carolina destaca que os jagunços tremiam de raiva e nem ao informar que eram da imprensa as agressões cessaram. "Eles estão com ódio é muito perigoso para quem está lá".


 

Defensoria acompanha caso 


A Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul está acompanhando o caso do jornalista, da antropóloga e do engenheiro florestal, que seguem acolhidos em um lugar seguro, que não foi informado por questões de segurança.

Segundo os relatos realizados na tarde de ontem (23), no Núcleo de Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas (Nupiir) da Defensoria Pública, as vítimas desembarcaram no estado no último sábado (18) para realizar um trabalho de jornalismo e documentário sobre as comunidades indígenas e, ao visitarem os locais das filmagens na segunda-feira (21), foram surpreendidas por aproximadamente 30 caminhonetes.

Na sede da Defensoria, o jornalista canadense contou que além dos chutes, socos, empurrões e puxões de cabelo sofridos pelos três, os agressores cortaram o cabelo dele, ameaçaram cortar o cabelo da antropóloga e roubaram todos os equipamentos de trabalho e documentos da equipe.

"Abriram nossas bagagens, levaram máquinas fotográficas, equipamentos cinematográficos, dois Iphones e demais instrumentos que utilizamos, nossos documentos pessoais e passaportes", avalia o jornalista Renaud Philippe.

Após roubarem todos os pertences, os jagunços ameaçaram os profissionais de morte caso não fossem embora e partiram.

"Quando as vítimas voltavam ao do local da agressão se encontraram com a nossa equipe do núcleo, que também realizava um trabalho próximo dali, e foram socorridas. O boletim de ocorrência foi registrado em Amambai, na delegacia de Polícia Civil, e posteriormente até o Instituto Médico Legal onde passaram pelo exame de corpo de delito", diz o coordenador do Nupiir, defensor público Lucas Colares Pimentel.

PF instaura Procedimento Investigatório Criminal


Em nota, a Polícia Federal reitera que não pode dar informações sobre o andamento das investigações, para não comprometer o andamento do caso.

"A PF acompanhou o caso, realizou diligências nas localidades próximas à aldeia e instaurou a Notícia de Crime em Verificação (NCV). Segue na PF as investigações.".

Deputada requer apuração imediata do caso


Em resposta à alarmante agressão a um jornalista canadense e sua equipe e à denúncia de sequestro de uma família Guarani-Kaiowá durante a assembleia Aty Guasu, a deputada estadual Gleice Jane (PT) protocolou um requerimento de informações a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp). 

"O requerimento, que busca informações detalhadas sobre ações implementadas, medidas de segurança, estratégias de prevenção, investigações em andamento e esforços para responsabilizar os autores, é um apelo por direitos humanos, justiça social e compromisso democrático na proteção dos povos indígenas sul-mato-grossenses", detalhou a deputada.

Ministra dos Povos Originários diz que "caso não é isolado"


Em visita a Mato Grosso do Sul, nesta sexta-feira (24), a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, disse a imprensa que o caso do fotojornalista canadense, Renaud Philippe, não é um caso isolado em áreas de fazendeiros e territórios indígenas.

"Esse não é um caso isolado, Dom Phillips é um exemplo, foi brutalmente assassinado", disse a ministra.

** Colaborou Suelen Morales

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