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vacina contra a dengue Com oportunidade única no mundo, douradenses fazem pouco caso da Qdenga Meta era vacinar 1,5 mil pessoas por dia e aplicar 150 mil doses até abril. Porém, pelo ritmo atual, nem a metade será atingida pela primeira dose 27 JAN 2024 • POR Neri Kaspary • 11h59

Exatos 26 dias depois do começo da vacinação em massa contra a dengue em Dourados, apenas pouco mais de 14 mil pessoas receberam a primeira dose, o que representa menos de 10% da meta, que é de 150 mil pessoas. A expectativa era atender uma média de 1,5 mil pessoas por dia útil. Na prática, porém, a média tem ficado na metade disso. 

E essa média só está neste patamar por causa da boa procura nos primeiros dias, quando até duas mil pessoas procuraram os postos. Ao longo da última semana, em algumas datas foram vacinadas menos de 400 pessoas por dia. 

E uma das explicações para esta lentidão é que até agora a Sesai não permitiu a entrada das equipes de vacinação nas reservas indígenas, onde residem em torno de 12 mil pessoas entre 4 e 59 anos, que são o público-alvo da campanha, de acordo com Júlio Croda, médico infectologista a professor da UFMS e que está auxiliando na campanha. 

Ele não soube citar a data exata em que foi solicitada a autorização para entrada nas áreas indígenas, mas deixou claro que a única resposta que chegou até agora da Secretaria de Saúde Indígena (SESAI) é de que a vacinação não foi autorizada. 

“Isso é um absurdo. Parece que existem dois sistemas de saúde no País, que é o SUS e a SESAI. Se o SUS aprovou a vacinação em massa no município, não faz sentido esse tipo de burocracia, já que são todos douradenses, independentemente da etnia ou da cor da pele”. Porém, não existe impedimento para que os indígenas procurem atendimento em qualquer ponto de vacinação da cidade.

Além disso, conforme o infectologista, nem todas as 33 unidades de saúde estão atendendo em tempo integral e o fato de ter muita gente de férias são outros fatores que ajudam a explicar o ritmo lendo da procura. 

A partir do momento em que forem retomadas as aulas e todas as empresas e órgãos públicos retomarem seu ritmo normal de trabalho, a tendência é de que essa procura melhore, acredita o médico. Ele também lembra que está prevista a criação de equipes volantes de vacinação, que devem levar as doses a escolas e outros locais de grande circulação de pessoas. 

Júlio Croda descarta a possibilidade de esta lentidão estar ligada a algum tipo de preconceito ou rejeição pela imunização.  “A gente monitora as redes sociais e até agora não surgiu nenhuma fake news contra essa vacina, até porque ela foi produzida pelo método tradicional, do vírus atenuado”, explica. 

Por meio de uma parceria da Secretaria Municipal de Saúde com o laboratório japonês Takeda, que produziu a vacina Qdenga, Dourados recebeu 150 mil unidades para a primeira dose, cuja data de validade acaba em 22 de maio. 

A imunização só é alcançada depois da segunda dose, que deve ser aplicada 90 dias depois da primeira. No caso de Dourados, já existe a garantia de que o laboratório vai doar outras 150 mil vacinas. 

No início da campanha, dia 3 de janeiro, as autoridades municipais anunciaram que a meta era concluir a aplicação da primeira dose até abril. Mas, se não houver alteração radical no ritmo atual dos atendimentos (750 por dia útil), até lá terão sido atendidas menos da metade das pessoas. 

Com 1,5 mil notificações e cinco mortes em decorrência da dengue no ano passado, Dourados é a primeira cidade do mundo com a aplicação gratuita da Qdenga. Em laboratórios, a dose custa em torno de R$ 450,00.

Conforme as pesquisas iniciais, ela reduz em 84% as internações por dengue e ao contrário de outras vacinas, que precisam ser tomadas ao menos uma vez por ano, ela protege por até quatro anos e meio, segundo Júlio Croda. 

No restante do país, o Ministério da Saúde incluiu a vacina Qdenga no Plano Nacional de Imunizações (PNI) e recebeu as primeiras 720 mil doses na semana passada. O total adquirido é de 6,5 milhões de doses, a capacidade total disponível no laboratório para esse ano.  

Por causa da alta incidência da dengue no Estado (42 pessoas morreram no ano passado) todos os municípios vão receber parcela destas doses, que serão aplicadas em crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos. O quantitativo destinado a cada cidade ainda não foi anunciado, mas Mato Grosso do Sul é o único Estado que teve todos os municípios contemplados. 

Segundo estimativa do Ministério da Saúde, somente em Campo Grande, Três Lagoas, Corumbá e Ponta Porã residem 88.760 crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos.