Mediada pela professora doutora, Adma Cristhina Salles de Oliveira, a mesa tratando sobre a "Luta das Mulheres" na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul contou com a presença da ministra da Pasta, Cida Gonçalves, que frisou a necessidade de disputa do campo mais progressista, contra o fascismo, pelo discurso construído que classifica e tipifica o que é família.
Aproveitando tratar-se de uma mesa de conversa, ela salientou que o discurso tem sido parte da estratégia política que coloca certos grupos, como as mulheres, a ocuparem determinados espaços.
Conforme a ministra das Mulheres, quando analisado na prática o que vem junto do discurso: a ausência de políticas públicas e de recursos, seguida pela desconstrução do ministério e acúmulo de pautas em sobre o "colo" das mulheres, isso sujeito a figura feminina a determinada posição.
"Quando passamos por esse período, que eu vou dar nome para ele, o período fascista do nosso País... quando você transforma 'mulher' em 'família', é uma concepção que está colocada. Quando você deixa de ser uma Secretaria de Especial de Política com status do Ministério, e passa a ser o Ministério da Família, da Igualdade Racial e da Cidadania, está dito qual é o discurso que vai ser colocado e qual é o lugar que está sendo colocado as mulheres", comenta Aparecida Gonçalves.
Nas palavras da ministra, essa disputa do discurso e contra a hegemonia de pensamento é fundamental para a democracia e precisa ir de encontro com a estratégia consolidada pela oposição, uma vez que, por exemplo, Damares Alves (senadora e ex-ministra) e Michelle Bolsonaro estão "nas igrejas" falando o oposto dos movimentos feministas.
Cida comenta que, enquanto essas frentes "desconstroem" as lutas femininas dizendo que o papel da mulher é de "fazer chazinho", o crescimento dos direitos e avanço das políticas públicas pelo campo progressista a partir da luta, como no espaço político para as mulheres, precisa estar aliado à análise estratégica do período.
"Inclusive para pensar políticas que nos ajudem a enfrentar o fascismo e consolidar a democracia. Temos que discutir, por exemplo, o discurso: o que é uma família? Porque esse discurso é como se fosse papai e mamãe. E nós temos hoje no País a realidade que mais de 50% das famílias são compostas por mulheres chefes de família e mães solo", pontua.
Lutas por direito
Além dela, a subsecretária de Políticas Públicas para Mulheres do Mato Grosso do Sul, Manuela Nicodemos, lembra que no âmbito político, as mulheres têm lutado incansavelmente pela representatividade no cargo de liderança e por políticas públicas que promovam a igualdade de gênero.
"O que a gente tem foi na base de muita luta, muito suor, muitas prisões, muitas mortes, a cada momento que a gente avança, a sociedade, os setores patriarcais, fascistas, se organizam também para colocar em risco cada direito conquistado, para colocar em risco a nossa vida e para tentar tirá-lo, como conseguiram no caso da Marielle Franco. Porque eu não acredito numa sociedade com igualdade de gênero, uma sociedade igualitária, sem a gente destruir o racismo e o genocídio", comentou Nicodemos.
Para a Ministra das Mulheres essa apropriação sobre o termo não é para desconstrução das famílias que já existem, mas para o reconhecimento de todas as possíveis.
"Precisamos reconhecer que as famílias são diferentes. Precisamos fazer algumas disputas que são estratégicas, discutir a questão da concepção da palavra mãe e da maternidade. Mas não para fazer o que eles dizem, que mãe é a estrutura da família que tem que ficar apanhando, sofrendo, sendo violentada para a manutenção de uma família tradicional", completa.