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Ifood Polícia de MS só investigou morte de entregador atropelado por Porsche após repercussão na mídia O inquérito policial só foi aberto 10 dias após acidente, depois da publicação da reportagem do Correio do Estado 4 ABR 2024 • POR Suelen Morales • 18h00
Família cobra identificação de motorista de Porsche que matou o trabalhador.   Reprodução/câmeras de segurança

Após uma espera de 10 dias, a Polícia Civil de Mato Grosso do Sul deu início à investigação da morte de Hudson Oliveira Ferreira, de 39 anos, entregador do iFood, atropelado pelo condutor de um Porsche Cayenne que fugiu sem prestar socorro. A resposta só veio após a matéria do Correio do Estado viralizar nacionalmente, mas o motorista ainda não foi identificado.

No dia do acidente, em 22 de março, na Rua Antônio Maria Coelho, tanto a Polícia Civil quanto a perícia não compareceram ao local. O moto entregador, gravemente ferido, foi socorrido com fratura exposta e perda de sangue, mas faleceu dois dias depois, em 24 de março, no Hospital da Santa Casa de Campo Grande.

A família denunciou ao Correio do Estado a demora na investigação policial, que até então não identificou o autor do crime. Segundo a apuração da reportagem, os documentos foram anexados ao inquérito policial apenas em 2 de abril, e a primeira testemunha do caso, a policial militar Simoni Mascarenhas, foi ouvida apenas ontem (3).

"Se o motorista não tivesse fugido e prestado os primeiros socorros, meu esposo poderia estar vivo hoje. E em vez de irem atrás do acusado, a polícia foi atrás de Hudson como se ele fosse fugir. De alguma forma estão querendo desumanizar a vítima por ser pobre e moto entregador", lamentou a esposa do entregador, Kelly Ferreira.

Apesar de investigações preliminares indicarem um mandado de prisão em aberto para a vítima (por atraso de pensão alimentícia), até o momento não houve identificação do autor do crime de trânsito, que fugiu sem prestar socorro, causando a morte do trabalhador.

Hudson deixa quatro filhos e quatro enteados.

Outro Porsche?

Conforme noticiado pelo Uol, no blog do colunista Leonardo Sakamoto, tal como em São Paulo, um vídeo — no caso de Campo Grande, de uma câmera de segurança de um imóvel em frente — mostra o momento exato em que um carro atingiu Hudson.

A morte de Hudson ocorreu uma semana antes do falecimento de Ornaldo da Silva Viana, de 52 anos, também trabalhador de aplicativo, mas motorista. Ele estava na avenida Salim Farah Maluf, na zona leste da capital paulista, quando seu Renault Sandero foi destruído pelo Porsche 911 Carrera de Fernando Sastre de Andrade, de 24 anos, na madrugada deste domingo (31). A causa da morte também foram fraturas múltiplas.

O colunista ligou para a Secretaria de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul, mas não conseguiu a informação se há uma investigação aberta e se diligências estão ou não sendo realizadas. 

Em São Paulo, Andrade também evadiu-se do local, mas de outra forma. Dois policiais que atenderam à ocorrência permitiram que sua mãe o levasse embora para tratar de um ferimento na boca. Só depois, PMs foram ao hospital para fazer o teste do bafômetro e foram informados de que ele nunca deu entrada no local informado. Tampouco atendeu aos telefonemas, muito menos respondeu à campainha de casa.

Sua mãe, Daniela Cristina de Medeiros Andrada, afirma que ele estava em choque e com dores e acabou não sendo levado para o hospital. Ambos teriam dormido sob efeito de medicamentos na residência de Fernando.

Ele se apresentou ao 30º Distrito Policial no Tatuapé mais de 38 horas depois, quando o exame do bafômetro não seria mais eficaz. O delegado do caso o indiciou por homicídio doloso, com intenção de matar, e pediu sua prisão, mas a Justiça a negou.

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