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ORTOPEDIA Fila de espera para consulta com especialista chega a 16 anos em MS Levantamento faz parte de projeto do governo para reduzir número de pessoas aguardando por atendimento 9 ABR 2024 • POR Judson Marinho • 09h00
Pacientes vem de diversas cidades de MS para se consultar no CEM   Foto: Gerson Oliveira / Correio do Estado

Com fila que chega a 13.981 pessoas na espera por exames e cirurgias de ortopedia no Sistema Único de Saúde (SUS), pacientes de Mato Grosso do Sul podem esperar até 16 anos para conseguirem realizar a primeira consulta nesta especialidade.

Os dados são do Sistema de Regulação (SISREG), desenvolvida pelo DataSUS, e divulgado ontem no Diário Oficial do Estado. Segundo a pulibcação, o tempo médio estimado em meses para primeira consulta ortopédica de coluna é de 194,13 meses (16 anos) e para a realização da consulta ortopédica de quadril são 103,64 meses (8 anos) em Mato Grosso do Sul.

Com relação as cirurgias desta especialidade, de acordo com o dados divulgados, os pacientes esperam na fila em média dois anos quando o caso é na coluna, e um ano e três meses para ser chamado para o procedimento do quadril.

O levantamento foi feito publicado pelo governo do Estado devido ao programa MS Saúde, que tenta zerar as filas para consultas e cirugias de todas as especialidades em Mato Grosso do Sul.

Segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES), o motivo desta demora tanto das consultas como das cirurgias se dá pela falta de hospitais habilitados para a realização dos procedimentos ortopédicos.

“Diante da atual situação das cirurgias de alta complexidade ortopédica no estado de Mato Grosso do Sul, a falta de hospitais habilitados para realizar esses procedimentos têm gerado graves consequências para a população, destacando-se longas filas de espera, desigualdades no acesso à saúde e a necessidade de deslocamento para outras regiões em busca de tratamento adequado”, disse análise da SES.

Apenas dois estabelecimentos de saúde são autorizados e habilitados para realizar este tipo de cirurgia no Estado pelo SUS, a Santa Casa de Campo Grande e o Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (Humap).

A  Secretaria de Estado de Saúde ainda acrescenta que a média de cirurgias feitas por ano nestes dois hospitais, vem sendo insuficiente para atender toda a demanda de pacientes que aguarda na fila do SUS, para serem chamados para os procedimentos de consultas e cirurgias.

“A média de cirurgias realizadas por ano nesses locais não tem sido suficiente para atender à demanda crescente, como evidenciado pelo grande número de pacientes aguardando avaliação ortopédica e pela quantidade significativa de procedimentos cirúrgicos judicializados”, acrescentou  a SES.

NA FILA PELA CIRURGIA

No Centro Especializado Municipal Presidente Jânio Quadros (CEM), onde são feitas as consultas para as cirurgias eletivas especializadas, Lurdes Rodrigues Gonçalves, de 72 anos, contou que está há dois anos esperando para fazer uma cirurgia de hernia de disco, e vem convivendo com dores na coluna todo este tempo, enquanto aguarda ser chamada para o procedimento.

“Está fazendo dois anos que estou na fila do SUS esperando. Neste tempo nem me chamaram para fazer fisioterapia. Fui em uma médica que está me passando medicamentos para aguentar a dor na coluna até chegar dia de cirurgia. Compro o remédio para dor que uma caixa custa R$ 230, e tomo todos os dias este remédio, de oito em oito horas”, disse Lurdes. 

Irman de Oliveira, de 60 anos, conviveu nestes últimos anos com a demora na espera de duas cirurgias no braço, decorrentes de acidentes no trânsito, além de ter problemas na coluna que até agora não foram analisados por médicos, devido a demora na primeira consulta. 

“Cheguei a ficar nove dias em casa com braço quebrado, com a minha filha me dando banho e medicamentos para eu não sentir dor. E quando eu fui internada, ainda fiquei cerca de 12 dias esperando no hospital uma cirurgia no braço, porque me diziam que não tinha vaga e meu caso não era grave”, contou Irman.

Ela também informou que depois de todo este procedimento, que aconteceu em 2020, os problemas de coluna, que ela já tinha, se agravaram. Quando ela pediu para fazer exames, demorou quase 3 anos para que a primeira consulta fosse agendada.

“Estou aqui [no CEM] para conseguir marcar o meu exame de coluna, um dia eu vim aqui questionar a demora para me chamarem, e o médico me disse para fazer outra solicitação, e agora depois de quase três anos esperando, eu vou fazer este exame”, declarou.

EXECUÇÃO DE CIRURGIAS

De acordo com os dados do DATASUS, de 2014 até 2023 a Santa Casa de Campo Grande e o Hospital Universitário realizaram 542 cirurgias de procedimentos ortopédicos de alta complexidade.

Entre estes anos informados, a Santa Casa chegou a fazer apenas uma cirurgia ortopédica em 2014, e duas em 2017 e 2018, já o Hospital Universitário executou 30 no período pandêmico (2020 até 2022) e 16 em 2023. 

No total de procedimentos ortopédicos nos hospitais de MS neste período de 10 anos, o Hospital Regional fez 199 cirurgias e a Santa Casa realizou 343 procedimentos.

Diante da fila imensa e da baixa execução de cirurgias, o governo do Estado autorizou ontem (8) que mais cinco estabelecimentos de saúde possam atender pacientes que estão na fila para cirurgia de ortopedia.

Entraram na lista: Santa Casa de Bataguassu, Hospital Adventista do Pênfigo Matriz de Campo Grande, Santa Casa de Cassilândia, Hospital Soriano Correa da Silva de Maracaju, Hospital Beneficente de Rio Brilhante e Unidade Mista Nossa Senhora do Perpétuo Socorro de Santa Rita do Pardo.

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