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NEGACIONISMO?

Enquanto que 320 mil menosprezaram a vacina da gripe, outros 12,4 mil pagaram caro

A partir desta quinta-feira a vacina está disponível para todas as pessoas com mais de seis meses em 70 postos da Capital

2 MAI 2024 • POR Neri Kaspary • 12h00
Dos 134,4 mil idosos que poderiam ter procurado os postos, menos de 36 mil haviam sido vacinados até a semana passada  

Ao mesmo tempo em que 320 mil pessoas do chamado público-alvo estão literalmente menosprezando a vacina gratuita contra a gripe nos postos de saúde de Campo Grande, pelo menos 12,4 mil haviam colocado a mão no bolso e buscaram a imunização em clínicas particulares até o fim da semana passada, conforme dados da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) da Capital. 

Ainda de acordo com a Sesau, na Capital residem 367,5 mil pessoas que tinham direito à vacinação gratuita na primeira etapa de atendimentos. São pessoas com mais de 60 anos, crianças de seis meses a seis anos, professores, indígenas, gestantes, trabalhadores da segurança pública e outras. 

Porém, até o fim da última semana, apenas 44,8 mil delas haviam procurado os postos de vacinação, o que significa apenas 12,2% do público que poderia ter buscado o imunizante gratuitamente. 

E por conta desta baixa procura, que não ocorre somente em Campo Grande, é que a partir desta quinta-feira (2) a vacina está sendo oferecida para todos das pessoas acima de seis meses. As doses ficarão disponíveis a partir das 14 horas em cerca de 70 postos de saúde da cidade. 

Em média, o custo da vacina nas clínicas está na casa dos R$ 90,00 a R$ 130,00. A diferença é que, em quase todas elas, a dose é tetravalente, sendo que a vacina oferecida nos postos protege contra apenas três tipos de vírus. 

Entre aqueles que tinham direito à gratuidade, o maior interesse foi dos idosos. Das 134,4 mil pessoas com mais de 60 anos, 35,8 mil foram aos postos desde o dia 21 de março, quando a campanha teve início. Isso significa 26,6% do total. 

Entre as crianças de até seis anos, este percentual foi bem menor, de apenas 11,9%. Das 62,6 mil aptas, epenas 7,4 mil foram levadas aos postos pelos seus pais. 

As próprias autoridades de saúde já sabem que boa parcela da população não se interessa pela vacina. Prova disso é que a cidade recebeu apenas cerca de 225 mil doses, embora o público-alvo supere os 367 mil. Deste montante, em torno de 160 mil vacinas ainda estão disponíveis e nem mesmo as autoridades se arriscam a fazer uma estimativa se haverá interessados em número suficiente para que seja todas aplicadas. 

A ampliação do público-alvo ocorre em meio à disparada de casos de síndrome respiratória em Campo Grande, que passou a ser registrada nas últimas três semanas. Por conta disso, a prefeitura a decretou situação de emergência em saúde na semana passada. 

De acordo com a secretária municipal de Saúde, Rosana Leite de Melo, em quatro meses, foram registrados 1.033 casos graves de síndrome respiratória na Capital, o equivalente a um terço dos 3,1 mil registros em 2023. 

A preocupação da secretaria é referente à influenza A, a qual, entre as síndromes respiratórias, tem mais casos registrados em Campo Grande. Dos cinco óbitos que ocorreram por Influenza,nos quatro primeiros meses do ano, quatro eram pacientes que morreram em decorrência da influenza A.

"Queremos que a população entenda esta gravidade e tome as medidas [necessárias], usar a máscara, lavar as mãos, utilizar álcool em gel e tomar a vacina. Nós temos vacina disponível especificamente contra a influenza A, que está causando os óbitos, mas, infelizmente, só vacinamos 17% do público-alvo. Oriento as mães que evitem sair muito com os bebês porque esse vírus pode evoluir para uma pneumonia em alguns casos", disse a secretária.

O aumento do número de casos de síndrome respiratória vem sobrecarregando o sistema de saúde da Capital, já que o período de internação, que normalmente é de cinco dias, está se estendendo para uma média de 15 dias atualmente.

"Continuamos com um grande número de atendimentos nas UPAs [Unidades de Pronto Atendimento], chegamos a registrar mais de 5 mil atendimentos. A nossa média é de 4 mil atendimentos por dia", segundo Rosana Leite.

Em para tentar reduzir o tempo de espera por atendimento e internação, a Sesau prometeu abrir  mais 10 leitos hospitalares, que serão oferecido no setor de emergência da Santa Casa. Além disso,  pelo menos, mais um médico em cada uma das UBSs para o atendimento dos pacientes também foi anunciado.