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Insegurança

Execução de adolescentes expõe disputa do tráfico de drogas em Campo Grande

Segundo a polícia, o atentado foi orquestrado por um detento de dentro da Penitenciária Máxima de Campo Grande. Os adolescentes foram mortos por engano na noite da última sexta-feira (3).

6 MAI 2024 • POR João Gabriel Vilalba e Judsom Marinho • 15h47
  Divulgação/ Instagram

As mortes por engano de Aysla Carolina de Oliveira Neitzke e Silas Ortiz Grizakay, ambos de 13 anos, expõem a briga entre facções criminosas pela disputa do tráfico de drogas na região do Jardim das Hortências, em Campo Grande. Segundo a polícia, o atentado foi planejado por Kleverton Bibiano Apolinário da Silva, de 22 anos, de dentro do Estabelecimento Penal 'Jair Ferreira de Carvalho', a Penitenciária de Segurança Máxima.

Segundo a polícia, os atiradores conseguiram acesso à arma usada no crime com Kleverson de dentro do presídio. Até o momento, cinco envolvidos no crime estão presos, sendo que um deles se entregou. Apenas um dos criminosos permanece foragido.

O alvo era outro jovem, conhecido como Pedro Henrique da Silva Rodrigues, de 19 anos, que sobreviveu ao ataque.

Após o crime, equipes do Batalhão de Polícia Militar de Choque, com apoio da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO), do GOI (Grupo de Operações e Investigações) e do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Bancos, Assaltos e Sequestros), iniciaram investigações e conseguiram identificar Rafael Mendes de Souza, conhecido como Jacaré, como um dos integrantes do grupo criminoso responsável pela organização do atentado.

Rafael foi localizado em sua residência, na Rua Flor de Maio, no Jardim das Hortênsias, mesmo bairro onde houve o homicídio, na companhia de sua mãe.

Inicialmente, o suspeito negou participação no crime, mas revelou que tinha uma arma de fogo no imóvel, sendo esta apreendida no guarda-roupas de seu quarto. 

Diante disso, ele recebeu voz de prisão e acabou contanto que tinha vago conhecimento sobre os autores do atentado, indicando dois nomes, sendo Nicollas Inácio Souza da Silva e João Vitor de Souza Mendes.
Nicollas foi encontrado e preso em uma casa de massagem, na Vila Jacy. Com ele foi apreendido um revólver calibre .357, que ele confessou ser uma das armas usada nos assassinatos.

No entanto, o suspeito negou ter feito os disparos e disse ter sido o responsável por pilotar a motocicleta, enquanto João Vitor efetuou diversos disparos de pistola 9 mm. Ainda segundo Nicollas, ele apenas passou, sem parar a moto, enquanto o carona disparou com o veículo em movimento, atingindo e matando pessoas que não tinham relação com a desavença.

Ainda segundo Nicollas, na residência, posteriormente eles observaram que João Vitor descarregou a pistola, ou seja, efetuou aproximadamente 16 disparos.

Depois do crime, todos os envolvidos se reuniram na residência de Rafael, onde ocultaram a moto no quintal e acionaram um motorista de aplicativo, indo para outra região.

Nicollas disse ainda que a arma apreendida com ele, a de calibre .357, pertencia a um interno da Penitenciária de Segurança Máxima de Campo Grande, que teria conhecimento da intenção inicial de matar Pedro Henrique.

A moto usada pela dupla foi apreendida em um imóvel no Aero Rancho, constando como furtada em boletim de ocorrência registrado no dia de 10 abril de 2024.

Rafael e Nicollas foram presos e encaminhados a Delegacia de Polícia Civil. O outro envolvido citado pelos suspeitos, que teria sido o autor dos disparos, não foi localizado.

Os delegados Guilherme Scucuglia e Pedro Henrique Cunha relatando a cronologia do crime/ Fotos: Gerson Oliveira

Cronologia

Durante a coletiva de imprensa realizada na tarde de hoje na sede do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Bancos, Assaltos e Sequestros), os delegados Guilherme Scucuglia e Pedro Henrique Cunha relataram a cronologia do crime.  

A investigação localizou o motorista do veículo HB20, que foi encontrado em um imóvel na Vila Bandeirantes. Aos policiais, ele afirmou não ter nenhum envolvimento no crime, porém sua versão foi contestada. O delegado Pedro Henrique comentou:

"Ele disse que não tinha nenhum envolvimento, mas depois relatou que questionou os executores se o crime havia dado certo, pois ele estava próximo do local e não chegou a ouvir os disparos".

O veículo usado no crime era alugado, mas não especificamente para a execução. O motorista utilizava o carro para trabalho, e a suspeita da polícia é de que ele o utilizava para realizar corridas particulares para os envolvidos. 

Ainda durante as prisões, o caso acabou revelando que Kleverton Bibiano Apolinário da Silva, de 22 anos, orquestrou todo o atentado de dentro da Penitenciária de Segurança Máxima de Campo Grande. Segundo a polícia, o jovem utilizava um aparelho celular, fato que foi confirmado após os policiais terem acesso aos celulares dos suspeitos. 

Conforme relato dos delegados, o motorista foi quem buscou os jovens na noite de sexta-feira (3). A dupla disparou contra os adolescentes com a motocicleta em movimento, abandonando o veículo roubado na região das Moreninhas.

Segundo as investigações, a motivação do atentado se deu devido a uma desavença relacionada a disputa do tráfico de drogas na região. 

Até o momento, João Vitor continua foragido. As equipes da Polícia Militar e Polícia civil seguem em diligências para encontrá-lo. 

A polícia informou que os envolvidos no crime responderão por dois homicídios qualificados na modalidade consumada e um homicídio tentado. Além disso, enfrentarão acusações de motivo torpe, envolvimento de menores de 14 anos e posse ilegal de arma de fogo de uso restrito. O motorista de aplicativo também será responsabilizado pelos mesmos crimes, porém na modalidade participativa.

Os criminosos estão à disposição da justiça e aguardam por uma audiência de custódia, onde o Poder Judiciário decidirá sobre a prisão preventiva ou a liberação deles. 
 

Veículo HB0, utilizado pelos atiradores/ Fotos: Gerson Oliveira 


Adolescentes mortos por bala perdida 

Aysla Carolina de Oliveira Neitzke e Silas Ortiz Grizakay, ambos de 13 anos, foram mortos por engano, na noite de ontem (3), ao serem baleados, na Rua Flor de Maio, no Jardim das Hortênsias, região sul de Campo Grande. De acordo com a polícia, o alvo era outro jovem, conhecido como Pedro Henrique da Silva Rodrigues, de 19 anos, que sobreviveu.  

Conforme informações da Polícia Civil, Aysla e Silas estavam na calçada bebendo tereré e fumando narguilé, em uma roda de amigos. Por volta das 22h30, se depararam com Pedro Henrique, correndo em sua direção e logo atrás, dois suspeitos em uma motocicleta, de cor preta, atirando. 

A menina que foi atingida de raspão também foi encaminhada ao hospital, onde recebeu os atendimentos e passa bem. 

Conforme informações de testemunhas, Pedro Henrique, estaria vendendo drogas na região. De acordo com o boletim de ocorrência, no momento do crime, ele estaria "fazendo a correria", quando foi surpreendido pelos atiradores. 

Equipes da Polícia Civil e da Perícia Técnica estiveram no local e encontraram 14 cápsulas de pistola 9 milímetros em frente da residência onde os adolescentes estavam. 

O caso e a dinâmica da morte estão sendo investigados pela DHPP (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídios e de Proteção à Pessoa).

Celulares e armas foram encontrados com os criminosos/ Fotos: Gerson Oliveira

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