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COLUNISTAS Juca Kfouri: John Textor e os sete bolsonaristas A praga invade tudo, da negação do aquecimento global aos campos de futebol 9 MAI 2024 • POR Juca Kfouri • 00h05
Juca Kfouri   Divulgação

Quem nega vacina, quem nega orientação sexual, quem nega a diversidade racial, o aquecimento global, o resultado eleitoral, não deixaria de fora o que acontece no futebol.


Aí aparece no Brasil, mais especificamente no Botafogo, um empresário trumpista chamado John Textor e, para não explicar por que seu time deixou escapar uma taça que estava no papo, faz denúncias com pé torto e cabeça artificial, sugerindo manipulação de resultados para beneficiar o campeão Palmeiras.


Aproveita da natural desconfiança do torcedor brasileiro, assolado por décadas de corrupção na CBF, três presidentes seguidos banidos pelo escândalo do Fifagate, além da Máfia da Loteria em 1982, caso Ives Mendes em 1997, Máfia do Apito em 2005 e, pronto! Joga areia no ventilador com meias verdades, muitas vezes piores que mentiras inteiras.


E encontra eco para usá-las como desculpa para maus resultados.


Assim fizeram nos últimos dias o técnico Renato Gaúcho, os zagueiros Felipe Melo e Wagner Leonardo, os cartolas Marcos Braz e Bruno Spindel, além dos senadores Eduardo Girão e Carlos Portinho.


O que os sete têm em comum?


Ganha uma passagem para a bela Budapeste, capital da Hungria, quem adivinhar. Embora a resposta seja óbvia por se tratar de papagaios do adepto de Donald Trump e, por consequência, de Jair Bolsonaro, cuja imoderada erisipela ainda infecciona boa má parte do país.


Renato Gaúcho, ardoroso fã do ex-presidente, usou Textor para não explicar a derrota do Grêmio para o Bahia.


Felipe Melo, outro bolsominion convicto, valeu-se do mesmo expediente depois de ser mais uma vez amarelado ao pegar dois atleticanos no mesmo lance -no empate com o Galo, cedido pelo Fluminense com dois gols na frente.


Wagner Leonardo, que segue o genocida em suas redes sociais, deu uma cotovelada em Calleri, recebeu o cartão vermelho, invadiu a área de entrevistas e endossou Textor.


A dupla Braz&Spindel, protagonista de célebre foto com Bolsonaro e a taça Libertadores, exclui Tite de entrevista coletiva, inventa que o time foi prejudicado pela pressão do dono do Glorioso em Bragança -e repercute sua voz.


Finalmente, mais dois bolsominions, Girão, ex-cartola do Fortaleza, e Portinho, suplente de Arolde de Oliveira, morto pela Covid, destratada pelo psicopata em 2020, fazem o triste papel de caixa de ressonância do americano -em CPI das casas de apostas esportivas presidida por garoto-propaganda de uma delas.

Tudo isso antes da partida entre Botafogo e Bahia, no estádio Nilton Santos.


Vem o jogo e o que acontece?


O VAR chama o assoprador de apito para assinalar pênalti para o Bahia, que abre o placar.


O Botafogo empata e o VAR chama de novo para anular o gol por impedimento. Resultado? Bahia, 2 a 1.


Mas, segundo os cartolas rubros-negros, a arbitragem não atua intimidada por Textor?!


E antes que a rara leitora e o raro leitor, talvez bissextos, estranhem, há décadas denunciamos corrupção no futebol brasileiro e clamamos por profissionalização da arbitragem, razão pela qual em vez dos nomes das vítimas (sim, são vítimas) usamos o termo assoprador de apito.


Do mesmo modo, fazemos referência à Casa Bandida do Futebol, além do mais, modernamente, também antro de assédio sexual.


Tudo fundamentado, tudo baseado em tudo o que aconteceu e acontece nela, com a cumplicidade dos clubes.

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