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Douradensses "desperdiçam" milhares de vacinas contra dengue

Aplicação, que deveria ter acabado dia 30 de abril, foi prorrogada para o dia 19 de maio, três dias antes do fim do prazo de validade das 150 mil doses. Mais de 60 mil estão sobrando

14 MAI 2024 • POR Neri Kaspary • 12h35
Às vésperas do prazo final, prefeitura de Dourados está levando a vacina para uma série de empresas, como a Sanesul  

Das 150 mil doses da vacina contra a dengue disponibilizadas gratuitamente para Dourados, apenas 76.414, ou 50,9% haviam sido aplicadas até esta segunda-feira (13), conforme dados disponibilizadas pela prefeitura da segunda maior cidade de Mato Grosso do Sul. Somando as pouco mais de 9 mil da segunda dose, o percentual sobe para 57,1% e a validade do medicamento acaba na próxima semana. 

Inicialmente, o prazo para aplicação da primeira dose estava previsto para acabar no dia 30 de abril, mas foi prorrogado para o dia 19 de maio, o próximo domingo. Por conta da baixa procura, os douradenses estão desperdiçando cerca de 64 mil vacinas disponibilizadas aos moradores que têm entre 4 e 59 anos. 

Inédito no mundo, o programa começou no dia 3 de janeiro e para atingir a imunização é necessário que a pessoa tome a segunda dose 90 dias depois da primeira, o que havia sido feito por 9.266 pessoas até esta segunda-feira em Dourados. 

Por enquanto, segundo a assessoria de comunicação da prefeitura de Dourados, não existe a possibilidade de nova prorrogação do prazo. E uma das prováveis explicações é que a validade das vacinas acaba no próximo dia 22, conforme informação repassadas no final de janeiro ao Correio do Estado pelo infectologista Júlio Croda, da Fiocruz. 

Mas apesar de as doses estarem no limite do prazo de validade, a assessoria da prefeitura de Dourados diz que nenhuma dose será descartada. “Não existe essa possibilidade. A priori, nossos estoques já são para atender DOSES 1 e DOSES 2”, limitou-se a informar o setor de comunicação social da administração municipal. 

No início do programa, porém, foi anunciado que seriam 150 mil doses para a primeira dose e o mesmo volume para a segunda etapa, com novo prazo e validade. Além disso, como deixou claro o infectologista da Fiocruz, a primeira remessa não pode ser utilizadas depois do dia 22. E, a assessoria da prefeitura não informou se ocorreu algum remanejamento das vacinas com algum outro município para evitar o descarte. 

Segundo Júlio Croda, é justamente na eficácia que está um dos principais diferenciais da vacina contra a dengue. Enquanto outras protegem durante seis meses ou um ano, a Qdenga, produzida pelo laboratório japonês Takeda, protege por até quatro anos e meio.  

NEGACIONISMO

Edvan Marcelo Marques, gerente do Núcleo de Imunização da Sems (Secretaria Municipal de Saúde), reconhece que a meta não foi atingida e e ele atribui isso “a várias situações. Inclusive vivenciamos desde 2016 uma onda de baixa cobertura vacinal como um todo, e isso também reflete na vacinação contra a dengue. Com a campanha da gripe,  que é a campanha mais tradicional que temos, acontece o mesmo”, lembra ele.

No ano passado, 42 pessoas morreram vítimas da dengue em Mato Grosso do Sul e justamente por conta da gravidade da situação é que Dourados foi escolhida para servir como uma espécie de laboratório dos pesquisadores. 

Neste ano, até agora, 18 óbitos foram confirmados em Mato Grosso do Sul, sendo um deles em Dourados, de uma criança de sete anos, conforme dados divulgado na semana passada. 

A quantidade de casos suspeitos no Estado já chega 17.141, sendo que 419 foram registrados em Dourados, que está em 64º no ranking estadual da incidência. Em todo o ano passado, o Estado registrou 41 mil casos suspeitos. 

Com 1,5 mil notificações e cinco mortes no ano passado, Dourados foi a primeira cidade do mundo com a aplicação gratuita da Qdenga. Em laboratórios, a dose custa em torno de R$ 450,00.