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INFRAESTRUTURA Prevista há 9 anos, barragem no Segredo não sairá do papel O principal motivo apontado pela prefeitura de Campo Grande é a falta de recursos e a complexidade da obra; bacias de contenção serão feitas no lugar 16 MAI 2024 • POR Ketlen Gomes • 09h30
Barragem de contenção de chuvas do Córrego Sóter, uma das construidas em Campo Grande   Foto: Gerson Oliveira / Correio do Estado

Elaborado em 2008, e aprovado em 2025, o Plano Diretor de Drenagem Urbana (PDDU) de Campo Grande passou por uma série de dificuldades para implementação do pacote de obras previsto, entre elas, a instalação de uma barragem no Córrego Segredo, que teve seu projeto elaborado em meados de 2028, mas não sairá do papel por falta de recursos. 

Em nota, a Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos (Sisep), “informa que a questão no Córrego Segredo, dos alagamentos na Avenida Rachid Neder com a Avenida Ernesto Geisel, envolve estudos apontando investimentos muito elevados e inviáveis pela complexidade”. 

A pasta relata que optou por uma iniciativa “mais viável”, que é a construção de bacias de contenção nos bairros por onde o Córrego Segredo passa, “cujo modelo já se mostrou eficaz onde foi executado, como as bacias de amortecimento do Córrego Reveilleau e no Bairro Nova Lima”. 

A bacia ativada no final do ano passado no Córrego Reivelleau, faz parte das iniciativas de contenção de enchentes previstas para o Córrego Prosa, que também deveria receber uma barragem.

Entretanto, os valores previstos para a construção das barragens nos dois córregos, Segredo e Prosa, era de R$ 120 milhões. 

Até janeiro de 2023, o ex-secretário da Sisep, Rudi Fioresi, alegou que a obra do Segredo estava sendo estudada, porque um novo projeto estava sendo elaborado para a região. Além disso, os recursos já tinham sido obtidos, e faltava a viabilização das verbas para a obra em si.

A respeito do Prosa, Fioresi afirmou na época que não era mais necessário a implantação da barragem, já que bacias de contenção estavam sendo construídas. 

A bacia do Córrego Reivelleau, localizada entre as avenidas Mato Grosso e Hiroshima, é, de acordo com a Sisep, a maior em operação em Campo Grande, com capacidade para 34 milhões de litros, e a primeira construída no sistema Gabião, que tem maior durabilidade. 

Além disso, a prefeitura enfatizou que possui outras frentes de prevenção a enchentes na Capital, e realizou em março deste ano, a limpeza do Córrego Prosa, do canal do Córrego Imbirussu, entre outras obras emergenciais como na Rua Catiguá, onde foi feita a limpeza do canal que escoava água da chuva para o local, das bocas de lobo da Catiguá e vias próximas. 

“Para acabar com os alagamentos e problemas como a queda do muro de contenção na Avenida Filinto Muller, ocorrido no início do ano passado, a prefeitura construiu um vertedouro auxiliar, que é aberto quando há o risco do Lago do Amor transbordar, e o muro foi refeito com reforço na estrutura e também no aterro, que serve para evitar o desmoronamento”, acrescenta a Sisep. 

O transbordamento do Lago do Amor foi o último grande estrago em Campo Grande, devido a fortes chuvas.

No início de 2023, o lago, que também passa por um processo de assoreamento, transbordou e invadiu a Avenida Senador Filinto Muller, que, em decorrência da força da água, teve uma cratera aberta em parte da pista. 

HISTÓRICO 

Apesar de Campo Grande viver um período de fortes ondas de calor e falta de chuvas, com um início de ano com precipitações abaixo da média para o período, a Capital já enfrentou diversos problemas de enchentes e alagamentos nos últimos 15 anos. 

Em dezembro de 2009, devido a fortes chuvas, uma cratera na Avenida Ceará foi aberta, poucas semanas depois, em fevereiro de 2010, parte de um viaduto na mesma avenida, desmoronou, também por causa do impacto das precipitações.

Na ocasião, parte do asfalto da Avenida Paulo Coelho Machado cedeu, e carros foram arrastados após o Córrego Vendas transbordar. 

Matérias jornalísticas apontam ainda que em janeiro de 2012, a Avenida Via Park e a Afonso Pena também ficaram debaixo d’água, após uma obra de contenção não conseguir dar conta da quantidade de água, após uma forte chuva.

A Via Park, apesar das iniciativas de prevenção, ainda viveu momentos de alagamento anos depois, em 2016 e 2018. 

Outras vias da Capital, como a Avenida Ernesto Geisel, Rachid Neder, Dom Aquino e Chaad Scaff, também vivenciaram enchentes nesses anos.

Em janeiro desse ano, o atual titular da Sisep, Marcelo Miglioli, relatou ao Correio do Estado que possui o mapeamento de todas as áreas de risco de Campo Grande, no entanto, não há recursos suficientes. 

“É importante a gente falar que Campo Grande tem um passivo muito frande nessa área de drenagem, e esse passivo vem de muitos e muitos anos. Então, os problemas já estão levantados, já estão mapeados, e agora nós estamos em busca de solução”, pontuou o secretário em janeiro.

SAIBA

O professor doutor Paulo Tarso Sanches, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), aponta que apenas ações pontuais não combatem enchentes, e o mapeamento das áreas críticas e a construção de obras como barragens, bacias, aumento de canais e galerias de drenagem, são importantes para prevenir enchentes. 

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