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DESVIOS

Suposto esquema de corrupção põe na cadeia presidente do futebol de MS

Operação do Gaeco intitulada de "Cartão Vermelho" prendeu Francisco Cezário, que comanda o esporte de Mato Grosso do Sul há 27 anos; outros dirigentes e familiares dele também são investigados

22 MAI 2024 • POR Judson Marinho • 09h00
Presidente da Federação de Futebol de MS foi preso na manhã de ontem por agentes do Gaeco   Foto: Henrique Kawaminami / Campo Grande News

Operação realizada pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS) por meio do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), que investiga suposto esquema de corrupção na Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul (FFMS)prendeu ontem o presidente da entidade, Francisco Cezário.

Segundo as investigações, o esquema tinha como principal objetivo o desvio de dinheiro que era proveniente do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, através de convênios, subvenção ou fomento ao esporte, e da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para uso em benefício próprio ou de terceiros.

A principal forma de desvio era a realização de saques das contas da Federação de Futebol, em valores pequenos, de até R$ 5 mil, que após mais de 1.200 saques, ultrapassaram o montante de R$ 3 milhões.

O MP aponta que, além disso, o esquema também incluia desvio de diárias dos hotéis pagos pelo Estado para jogos do Campeonato Estadual.

Levantamento feito pelo Ministério Público no período de setembro de 2018 até fevereiro de 2023, identificou que o desvio de dinheiro total na Federação de Futebol superou a casa dos R$ 6 milhões.

A operação, intitulada como “Cartão Vermelho” cumpriu de 7 mandados de prisão preventiva, além de 14 mandados de busca e apreensão, nos municípios de Campo Grande, Dourados e Três Lagoas.

Os alvos de investigação do Ministério Publico são: o presidente da Federação de Futebol, Francisco Cezário; Aparecido Alves Pereira; Francisco Carlos Pereira; Umberto Alves Pereira; Valdir Alves Pereira; Rudson Bogarim Barbosa; Marcelo Mitsuo Ezoe Pereira. 

Além desses nomes, o diretor de patrimônio da Federação, Jamiro Rodrigues de Oliveira, e o vice-presidente da Federação de Futebol, Marco Antonio Tavares também são investigados, junto com os donos da empresa de confecção de materiais esportivos de Dourados, Invictus Sports, Marcos Antonio de Araujo e Patricia Gomes de Araujo.

Em nota a empresa Invictos Sports se pronunciou sobre a operação, informando que os proprietários foram autuados pelo Gaeco e forneceram as informações solicitadas a eles. 

“A empresa de confecção de uniformes Invictus, de Dourados, é prestadora de serviços para a Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul e tem os referidos serviços registrados através de fornecimento de nota fiscal e pagamento registrado em conta corrente da empresa.

Marcos Araújo, proprietário, acompanha o trabalho do Gaeco e está fornecendo todas as informações solicitadas. Está à disposição e confia no trabalho desempenhado pela Justiça de Mato Grosso do Sul”, disse a nota.

O advogado de defesa da FFMS e do presidente Francisco Cesário, André Borges, também enviou um pronunciamento referente a Operação. 

“Nessa fase qualquer investigação é sempre unilateral; logo ela será submetida ao necessário contraditório; devemos aguardar os esclarecimentos, que serão prestados, oportunamente”, declarou.

De acordo com o Gaeco, na casa do presidente da FFMS foram apreendidos mais de R$ 800 mil.

DIRIGENTES

A reportagem do Correio do Estado procurou os presidentes dos principais clubes do Estado, para prestarem um posicionamento diante da operação que prendeu o presidente da Federação de Futebol do Estado, que está a frente do cargo há 27 anos. 

Campeão do Estadual neste ano, o Operário Futebol Clube informou que aguarda o desenrolar da operação, após ter o conhecimento do caso apenas do que foi divulgado na imprensa.

“Para não cometermos nenhuma injustiça, preferimos nos pronunciar depois que tenhamos mais conhecimento das acusações e imputações contra os acusados. A expectativa da diretoria é que de alguma forma, essa operação possa colaborar para o crescimento e desenvolvimento do nosso futebol, pois precisamos de credibilidade para crescer e levar o nosso futebol novamente a ser destaque a nível nacional”, disse nota do clube.

Representando o futebol do Estado no Campeonato Brasileiro da Série D, o Costa Rica relatou que está acompanhando as movimentações dos fatos, e aguarda o desenrolar das investigações.

“Este acontecimento não passa despercebido por nenhum de nós, e deixa todos os envolvidos com futebol sul-mato-grossense consternados com tal situação. Existe uma preocupação muito grande por parte de toda nossa equipe, afinal, somos o representante de Mato Grosso do Sul nas competições nacionais. Nós nos posicionamos contra qualquer ato de corrupção no futebol, pois milhares de pessoas tem seu ganha pão tirado do futebol diariamente, e não é aceitável e nem justo que haja desvio nas funções da Federação em benefício próprio”, declarou.

Procuradas pelo Correio do Estado, as diretorias do Dourados Atlético Clube, atual vice-campeão do Estadual e do Comercial Esporte Clube, que deve disputar a segunda divisão neste ano, não se pronunciaram.

OPOSIÇÃO

O ex-presidente do Cene, o advogado Paulo Telles, que tentou se candidatar a presidência da Federação de Futebol em 2022, na última eleição para o quadriênio (2023 até 2027), falou que as acusações contra o presidente são “profundas”.

“Ainda é muito cedo porque o presidente Cezário e a Federação podem apresentar as suas justificativas, mas é lógico que as acusações são pesadas e profundas. Tentamos nos candidatar no último pleito porque entendemos que esta atual diretoria não tinha mais competência legal para poder ser reeleito, e que deveria ter uma alternância no poder, mas, infelizmente não tivemos apoio dos clubes que votavam”, declarou Telles.

O ex- dirigente do Cene, clube que foi hexacampeão Estadual e foi extinto, também falou o que pode acontecer dentro da Federação de Futebol, durante a  investigação de corrupção dentro da entidade. 

“Acredito que agora os próprios clubes devem se manifestarem, convocando uma assembleia geral que afaste a atual diretoria e eleja uma comissão para tocar a Federação neste período de investigação, para que os campeonatos continuem. Penso que a CBF também deve mandar um interventor para organizar este processo no Estado”, disse o advogado.

CORRUPÇÃO NO FUTEBOL

Não é de hoje que casos de corrupção no futebol “estouram”, na principal entidade esportiva do país, a CBF desde o início dos anos 90 há investigações e criações de CPI relacionadas ao tema.

Em 1996 contrato de US$ 160 milhões com a Nike foi alvo de uma CPI. Ricardo Teixeira, então presidente, foi acusado de remessa ilegal de dinheiro para o exterior.

Entre 2001 e 2003, 13 inquéritos foram abertos na Superintendência da Polícia Federal, no Rio, tendo como alvo Ricardo Teixeira e a CBF.

Em 2012 Ricardo Teixeira e renunciou e o sei vice que assumiu, José Maria Marin, foi é preso na Suíça, em 2015, acusado de vários crimes. O posto foi assumido por Marco Polo Del Nero, que foi banido do futebol em 2017 por de corrupção.

SAIBA

Cezário comandou a entidade pela primeira vez em 1987, 37 anos atrás. Neste período, ele ficou fora do do comando por quatro anos, entre 2001 a 2004, quando assumiu a prefeitura de Rio Negro, mesmo assim ainda controlava a entidade.

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