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ARTIGOS As urnas, sempre elas! 4 JUN 2024 • POR Antonio Carlos Siufi Hindo - Promotor de Justiça aposentado • 07h30

A condenação do ex-presidente Donald Trump por um júri popular de Nova York e amplamente divulgado pela imprensa nacional e internacional apontou indicativos auspiciosos, para alguns, preocupantes para  outros e nem tanto para o grosso do eleitorado norte americano que num índice surpreendente das pesquisas não deu importância nenhuma para a decisão do júri. A Justiça não precisa ser ultrajada para fazer prevalecer os princípios da democracia.

Donald Trump há muito tempo vem ditando a melodia da sua campanha política.

Aponta a perseguição política da qual resultou na vítima mais preciosa como seu sustentáculo para empolgar o seu eleitorado. Biden, por outro lado  perdeu um tento precioso se permanecesse calado. Mas a soberbia que resulta na irmã gêmea da arrogância, não disciplinou a sua consciência. Afrontou as mais delicadas inteligências a interpretar a decisão de mérito da justiça ao sustentar que somente as urnas podem afastar o ex-presidente  do salão oval da Casa Branca. Poderia ter evitado esse desastre, essa derrapada. Sim, porque, pela legislação americana mesmo que seja condenado, o ex-presidente poderá concorrer no pleito presidencial  que se avizinha.

E se o sorriso largo e rotundo das urnas abraçarem as cores republicanas o festival da democracia no mundo inteiro estará completo, pronto e acabado. Não existe uma casa de  teatro melhor para o descortinar o grande espetáculo aguardado por todos ansiosamente. Vários memes poderão surgir. O candidato sentenciado, se vencedor, derrotará o ocupante da Casa Branca que deixará a sua marca indelével de ter sido derrotado por um adversário tisnado pela justiça. Esse, certamente  será o enredo da campanha pra lá de trilionária que sustentarão os postulantes nas entranhas do  maior mercado financeiro do mundo e a sua principal locomotiva a conduzir o planeta. 

Enlouquecidos pela conquista do poder os postulantes rasgarão o território americano várias vezes de norte a sul de leste a oeste e sempre com as melhores propostas para empolgar o eleitor a sufragar nas urnas o seu nome. As mentiras serão grandes. Os estelionatos eleitorais inimagináveis.  Aqui reside substancialmente a beleza da democracia. Democracia que teve o seu nascedouro na Grécia antiga sempre festejada pela lucidez dos seus protagonistas, pela nobreza de caráter dos seus filósofos e a beleza da inteligência dos seus outros tantos luminares, mas que ganhou forma e objeto de juízo de interpretação contemporânea nas terras de George Washington. 

Os americanos são inigualáveis nesse tema patriótico, cívico e de acendrado amor às suas raízes. A América ensinou para o mundo a grandeza infinita da democracia, da liberdade de imprensa, de opinião e mostrou ainda a  coragem de um povo escravo para se libertar da sanha avassaladora dos seus dominadores. Influenciaram o mundo civilizado. A França seguiu os seus passos. A onda da luta pelo encontro com a Democracia resultou em algo sem volta. Esses ares da liberdade democrática, de imprensa, de opinião e ainda de poder escolher livremente seus representantes políticos pelo voto direto e livre e democrático bateu em nossas terras. O Alferes foi o nosso protagonista. Esses princípios agasalhados pela cláusula pétrea vivem ainda intensamente no seio da nacionalidade norte americana. 

Onde existir uma tênue linha de perseguição política e que possa empanar o brilho da grande festa democrática que é a eleição ou mesmo do abandono aos princípios democráticos por parte das autoridades constituídas certamente receberão o repúdio do grosso da nossa população.  Eis aí, uma grande verdade, talvez, quem sabe, sem sofismas. O lado sul do nosso continente poderá ser essa vertente preciosa.   O tempo lançará a sua sentença. Incontroversa e inarredável.