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Leandro Provenzano: Fake News e Democracia, Um Equilíbrio Delicado

Como enfrentar a desinformação sem sacrificar direitos?

6 JUN 2024 • POR Leandro Amaral Provenzano (leandro@provenzano.adv.br) • 00h05
LEANDRO PROVENZANO  

Nos últimos anos, a disseminação de notícias falsas, as chamadas "fake news", tem sido um dos maiores desafios para a sociedade. No Brasil, a preocupação com a desinformação levou à elaboração de um projeto de lei que visa regular esse fenômeno. Entretanto, a proposta levanta questões cruciais sobre liberdade de expressão e o potencial de um Estado de exceção.O Projeto de Lei das Fake News

O projeto de lei das fake news, oficialmente denominado PL 2630/2020, propõe uma série de medidas para combater a disseminação de informações falsas na internet. Entre as principais diretrizes, está a exigência de maior transparência das plataformas digitais e a criação de mecanismos para identificar e punir aqueles que propagam desinformação deliberadamente. No entanto, um ponto controverso do projeto é a definição do órgão regulador responsável por decidir o que é real e o que é "fake" nas notícias.

Quem Decide o que é Verdade?

A atribuição de um órgão regulador para definir a veracidade das informações é uma questão delicada. Proponentes do projeto argumentam que um organismo independente pode ajudar a manter a integridade da informação e proteger a sociedade de manipulações prejudiciais. Contudo, críticos alertam para os riscos dessa concentração de poder.

Imagine um cenário onde um órgão governamental tem a autoridade para decidir o que pode ou não ser divulgado. Essa situação poderia facilmente ser explorada para censurar críticas ao governo ou suprimir opiniões divergentes. Em outras palavras, a linha entre a proteção contra fake news e a censura política poderia se tornar perigosamente tênue.

Liberdade de Expressão em Risco

A liberdade de expressão é um direito fundamental garantido pela Constituição Federal brasileira. A censura prévia, vedada pelo artigo 5º, inciso IX, deve ser um alerta para qualquer legislação que busque controlar o conteúdo divulgado na mídia.

A proteção contra fake news é, sem dúvida, uma necessidade contemporânea, mas o remédio proposto pode ser mais nocivo que a doença. A criação de um órgão regulador com poderes para censurar notícias pode abrir precedentes perigosos para a supressão de vozes dissonantes e críticas ao governo, minando a própria essência da democracia.

O desafio que se apresenta é encontrar um equilíbrio entre combater a desinformação e preservar a liberdade de expressão. Será que a solução está em um órgão regulador? Ou seria mais eficaz investir em educação midiática, promovendo a capacidade crítica dos cidadãos para discernir entre o verdadeiro e o falso?

A história nos ensina que a liberdade é um bem precioso, e qualquer medida que ameace essa liberdade deve ser examinada com o máximo cuidado.