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Juca Kfouri: Intervenção, recuperação e SAF

Para tirar o Corinthians da crise serão necessárias medidas drásticas e difíceis

10 JUN 2024 • POR Juca Kfouri • 00h05
Juca Kfouri   Divulgação

O mar de lama que cobre o Parque São Jorge não será saneado apenas com o eventual impeachment de Augusto Melo.

De que adiantará sua saída se, por exemplo, Andrés Sanches, fartamente responsável pela crise, sucedê-lo?

Ou Romeu Tuma Júnior, tão mitômano como Melo?

O passo inicial para a solucionar a vida alvinegra está na Justiça determinar, a pedido de sócio corintiano, a presença de um interventor no clube. Alguém sem nenhuma ligação com os atuais grupos que lutam pelo poder no Corinthians.

Lembremos: por mais que a Justiça resista, com razão, a intervir em entidades privadas, poucas são tão públicas como clubes de futebol de grandes massas torcedoras. E o Corinthians é o segundo mais popular do Brasil.

Interventor nomeado, ele contratará profissional respeitado para gerir o futebol com a finalidade de, ao menos, evitar novo rebaixamento como o de 2007, sob Sanchez.

Tão importante como, pedirá recuperação judicial para negociar a dívida de cerca de R$ 2 bilhões.

Esse foi o caminho de outros clubes, com muito menos poder de faturamento que o Corinthians, que viraram SAFs.

Exatamente por seu tamanho e potencial, a maior torcida do maior mercado do país, a SAF corintiana pode adotar modelo distinto das Sociedades Anônimas do Futebol em vigor entre nós: a um acionista acima de qualquer suspeita deveria se somar a abertura de capital da SAF corintiana que ofereceria ações, com prioridade, aos torcedores do clube. Respaldo maior para o acionista será difícil encontrar e o Bayern de

Munique assim fez com grande sucesso.

Tudo dando certo, remédios aplicados e seus primeiros efeitos detectados, seria convocada eleição para escolher o presidente do clube social e estabelecer suas relações com a SAF.

É importante lembrar que a Ernst & Young fez sugestões neste sentido ao ainda presidente corintiano e ele não aceitou nem sequer a contratação de um CEO, preferiu ouvir seu diretor administrativo Marcelo Mariano, sem currículo algum e bastante envolvido no atual contencioso que sangra o Corinthians.

Ao corintiano das arquibancadas, eventual acionista do time de seu coração desde que convencido da seriedade da governança, importa mais agora sair do fundo do poço do que se o desdobramento das investigações policiais levará cartolas à prisão — embora viesse a ser extremamente salutar e didático, algo que ainda não aconteceu nem no Inter, nem no Cruzeiro, outros dois casos recentes investigados e punidos pelo Ministério Público gaúcho e pela polícia mineira.


Salve o Corinthians, diz o hino.


E com a consciência de que nada é panaceia, porque até os melhores remédios têm de ser bem receitados e, principalmente, bem aplicados.


O modelo associativo está superado mesmo que clubes como o Athlético Paranaense, o Flamengo, o Fortaleza, o Palmeiras, mostrem ser possível aliar vida financeira saudável com desempenho técnico no futebol. Mas são exceções.


Entre abrir o capital na bolsa e dar oportunidade para a torcida ser, de fato, dona do clube, ou permitir que os coronéis do futebol se mantenham tratando as agremiações como se fossem deles, não deve haver dúvida sobre o que é melhor ou, para os românticos que têm ódio eterno do futebol moderno, ao menos, menos ruim.


É o que exige a situação desgraçada em que o puseram.


Que o Corinthians se SAF.