Logo Correio do Estado

CENTRO POP Município culpa moradores de rua pela depredação de unidade de acolhimento Após denúncia do MP que relatava más condições no local, SAS vai destinar um funcionário para cuidar do patrimônio 15 JUN 2024 • POR Ketlen Gomes • 09h30
Pessoas em situação de rua, que utilizam o Centro Pop. O local foi denunciado por más condições   Foto: Gerson Oliveira

Após o Relatório de Vistoria Técnica feito pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), em maio desse ano, apontar que o Centro de Referência Especializada para a População em Situação de Rua (Centro Pop) se encontrava em estado “calamitoso e insustentável”, a Prefeitura de Campo Grande respondeu que os problemas da unidade se deviam as pessoas que utilizam o lugar como abrigo, e que acabam violando o patrimônio público.

Por meio de documento judicial em resposta ao pedido de tutela de urgência do MPMS a respeito da situação do Centro Pop, a prefeitura relatou que a maioria das pessoas atendidas no local “são usuários de substâncias psicoativas, e em muitos casos, adentram a unidade sob efeito de drogas, ocasionando violação do patrimônio público, bem como, contra os servidores”.

Entretanto, só após a denúncia feita pelo Ministério Público, a prefeitura relatou que iria destinar um servidor para cuidar do local e evitar os danos.

“Visando minimizar a depredação, bem como o intuito de manter a higienização dos banheiros/lavanderias haverá um servidor para cuidar constantemente da higienização dos banheiros públicos/lavanderias instalados na Unidade, mantendo-os sempre, em condições adequadas de funcionamento e higiene para a população em situação de rua”, informa o documento.

Porém, as principais deficiências apontadas pelo MPMS também passam por falta de higiene e banheiros insuficientes no local, que possui apenas duas unidades para higiene e necessidades pessoais, sendo um masculino e um feminino, que são utilizadas por cerca de 120 pessoas diariamente.

O Ministério Público informa no relatório que o banheiro masculino estava em estado de calamidade, por falta de manutenção estrutural e limpeza, “ocasionando a humilhante situação dos frequentadores do local verem-se obrigados a defecar no chão por falta de uma alternativa ofertada pelo Poder Público”. Já o banheiro feminino, também estava em situação precária, com falta de manutenção estrutural nos sanitários e chuveiros.

No documento, a prefeitura aponta que o Centro Pop possui dois banheiros químicos, no entanto, essa iniciativa não foi encontrada na vistoria do MPMS, feita em maio deste ano. Além disso, o executivo municipal também informa que há previsão de ampliação para mais dois banheiros químicos no local.

Entre as iniciativas relatadas pela Secretaria de Assistência Social (SAS), como medida para adequar o Centro Pop, está a manutenção da unidade com a recolocação dos chuveiros, sifões, torneiras e pinturas; a ampliação do quantitativo de banheiros, sendo três femininos e três masculinos, com três áreas de banho cada; revitalização da lavanderia e abertura do portão de entrada, que dará acessibilidade direta à sala de atendimento.

No Relatório Informativo, a SAS disse ainda que tentou alugar um imóvel adequado para a instalação do Centro Pop, no entanto, não encontrou um local disponível na área central de Campo Grande, e que por isso está tramitando a construção de uma unidade própria, e o projeto já está na Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos (Sisep).

MORADORES

Além de pontuar que a maior parte do problema é devido à depredação das pessoas em situação de rua, que utilizam o Centro Pop como abrigo, a SAS salienta que realiza periodicamente a manutenção do local, mas que possui um “grande desafio”, pois essas pessoas não têm o sentimento de pertencimento à unidade e necessitam da “intervenção primária da saúde pública”.

“Após esse atendimento de desintoxicação o usuário teria condições físicas e psíquicas de receberem atendimento e acompanhamento das demais políticas, dentre elas, a Assistência Social, assim como articulação da Habitação, Emprego e Renda”, expõe o documento.

A Secretaria de Assistência Social informou ainda que ampliou a Unidade de Acolhimento Institucional para Famílias e Adultos (UAIFA II) e aumentou o repasse para as Organizações da Sociedade Civil (OSCs) que acolhem pessoas, principalmente dependentes químicos.

“Ampliou (a SAS) o Cofinanciamento para Organizações da Sociedade Civil (OSCs) de Acolhimento Institucional e Casa de Passagem Resgate, aumentando o valor de repasse por meta pactuada, e a quantidade de vagas, assim como, ampliou as vagas na Casa de Passagem São Francisco de Assis, e neste semestre está pactuando parceria com a OSCs Casa de Passagem Nova Criatura, para dar vazão as demandas de acolhimento e reordenou o Serviço Especializado de Abordagem Social (Seas)”, esclarece a pasta.

HISTÓRICO

Além dos problemas relatados nos banheiros, o documento do MPMS informa que o Centro Pop não tinha acessibilidade para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzidas, e a lavanderia da unidade estava alagada, com “águas sujas e pútridas, por falta de drenagem adequada, o que viola inclusive normas sanitárias exigidas pelo requerido (prefeitura) de todos os munícipes”.

Todas as observações feitas em maio já haviam sido pontuadas há seis anos, quando o Ministério Público realizou uma vistoria no Centro Pop e constatou que não havia condições de atendimento adequado à população no local, já que não tinha equipamentos de acessibilidade, como rampas; falta de banheiros para atender o público; ausência de lavanderia para uso administrativo, entre outros problemas.

Em fevereiro de 2015 foi instaurado um inquérito civil pelo MPMS, para investigar o funcionamento do local. Desde fevereiro de 2018, o Centro Pop foi instalado no local que se encontra hoje, e por isso foi realizada uma vistoria técnica em outubro do mesmo ano, quando foi atestada a série de problemas estruturais no local.

O Ministério Público Estadual expõe no documento ainda que empreendeu “todos os esforços possíveis visando a solucionar o impasse na esfera administrativa, contudo, o município de Campo Grande, em que pese tenha sempre prometido resolver espontaneamente o problema, deixou de cumprir o prometido, permitindo a continuidade das deficiências apontadas, sempre alegando que executaria projeto para a construção de uma nova sede para o Centro Pop”.

Saiba

O Ministério Público condenou o município a pagar R$ 1. 314.000,00 por danos morais coletivos, devido às “condições estruturais e falhas sanitárias degradantes e sem higiene”, “falhas na prestação dos serviços” e “falta de acessibilidade no local” que funciona o Centro Pop há mais de seis anos

Assine o Correio do Estado