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ESTIAGEM HISTÓRICA Por falta de água no rio Paraguai, transporte de minérios cai 38% Na régua de Ladário, rio amanheceu nesta terça-feira com 3,2 metros abaixo da média histórica para esta época e em três semanas embarques terão de ser suspensos 18 JUN 2024 • POR Neri Kaspary • 11h50
No primeiro quadrimestre do ano passado, 1,93 milhão de toneladas de minérios desceram o rio Paraguai, ante 1,18 milhão neste ano  

Por causa do baixo nível do rio Paraguai, que nesta terça-feira amanheceu com apenas 1,21 metro na régua de Ladário, o transporte de minérios e soja nos quatro primeiros meses do ano caiu 47% na comparação com igual período de 2024. Os embarques de minérios, o principal produto que desce pelo rio, caiu 38% e está prestes a acabar.

No primeiro quadrimestre do ano passado, segundo dados divulgados nesta segunda-feira (17) pela Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários), foram embarcados 2,44 milhões de toneladas. Neste ano, apenas 1,29 milhão. 

A principal retração, de 75,6%, ocorreu nos embarques de soja, que são feitos em Porto Murtinho. Nos primeiros quatro meses de 2023 foram exportados 412,3 mil toneladas pelo terminal, o que equivale a cerca de 8,5 mil carretas. Neste ano, o volume foi de apenas 100 mil toneladas, ou duas mil carretas.

Boa parte desta retração deve-se ao desinteresse das indústrias argentinas pela soja brasileira, já que neste ano o país vizinho voltou a ter safra normal e a produção local deu conta de abastecer as esmagadoras instaladas ao longo da hidrovia. No ano anterior a estiagem havia provocado quebra na safra e por isso os embarques em Porto Murtinho dispararam.

No caso dos minérios, a queda é um pouco menor, de 38%. No ano passado as empresas que operam a partir de Ladário e Corumbá escoaram 1,93 milhão de toneladas no primeiro quadrimestre, ante 1,18 milhão neste ano. 

E esta queda ocorreu porque o nível do rio demorou a subir. Em anos aneriores, os embarques podem ser retomados a partir do começo de fevereiro. Neste ano, porém, somente em abril a água chegou a um metro, o que obrigou as empresas a retardarem a retomada dos embarques, que haviam parado em novembro. 

COM OS DIAS CONTADOS

Porém, por causa do baixo nível do rio, o transporte está nos seus últimos dias, uma vez que nos últimos 18 dias o rio baixou 20 centrímetros. Em média, nesta época do ano o Paraguai está em 4,4 metros na régua de Ladário. Agora, está 3,2 metros abaixo disso. 

O pico deste ano foi de apenas 1,47 metro, um dos mais baixos da história. No ano passado, chegou 4,24 metros e o transporte de minérios e soja foi possível até o final de novembro. Agora, com queda de um centímetro por dia, as barcaças terão de parar já na primeira semana de julho.

Isso porque o transporte a pleno vapor só é possível quando o nível está acima de 1,5 metro em Ladário, depois disso, as embarcações com minério já começam a descer com parte da carga. Porém, depois de fica abaixo de um metro, o transporte é suspenso, já que existem três grandes bancos de areia entre Ladário e Porto Murtinho que impedem a passagem dos comboios. 

Segundo o professor e estudioso do comportamento do nível do Rio Paraguai, Carlos Padovani, da Embrapa Pantanal, a menor cheia desde 1900, quando começaram as medições, ocorreu em 1971, ano em que a máxima foi de apenas 1,11 metro. 

Antes disso, em 1964, o pico havia ficado em apenas 1,33 metro. Na maior cheia que se tem registro ocorreu em 1988, quando o rio chegou a 6,64 metros em Ladário.  

A pior seca do rio foi registrada em 1964, quando o nível caiu para 61 centímetros abaixo de zero no local de medição de Ladário. Depois disso, em 2021, a régua no mesmo local chegou a registrar 60 centímetros abaixo de zero. E, seguindo o atual ritmo de queda, é possível que fique abaixo disso, a não ser que ocorram chuvas atípicas nos próximos três meses.