Logo Correio do Estado

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES

Juca Kfouri: Coisas nossas, muito nossas

Só no Brasil o time campeão continental num ano é lanterninha nacional no outro

23 JUN 2024 • POR Juca Kfouri • 00h05
Juca Kfouri   Divulgação

Se a rara leitora ou o raro leitor estiver lendo estas mal-traçadas antes das 16 horas deste domingo (23), note que o Fluminense, campeão da Libertadores de 2023, em campo contra o Flamengo, está em último lugar no Campeonato Brasileiro, com apenas seis pontos ganhos em dez jogos, só uma vitória, dez gols feitos, 18 sofridos, 20% de aproveitamento.


O Fluminense, é fato, não vive tamanho sufoco pela primeira vez, pois conheceu a Série B e até a C.
Em 1996 caiu pela primeira vez, a mesa foi virada para que disputasse a Série A em 1997, quando voltou a ser rebaixado e, não satisfeito, desceu para Série C em 1998.


Então chamou Carlos Alberto Parreira para tirá-lo do inferno e subiu para B em 1999, que não pagou fruto de outra virada de mesa que o pôs na Série A em 2000.


Eram tempos de Ricardo Teixeira presidente da CBF e não é preciso dizer mais nada.


A diferença daquele Fluminense para os dias que correm é, no entanto, abissal.


Tanto que o time é praticamente o mesmo do ano passado, tirante o negociado zagueiro Nino, que faz falta, e as circunstâncias das ausências do meia-campista André, machucado, e do atacante colombiano Jhon Arias, na Copa América.


Convenhamos, ausências que podem justificar posição intermediária na tábua de classificação, jamais o último lugar.


Alguém poderá dizer que excepcional foi o envelhecido tricolor das Laranjeiras ganhar a Libertadores, como um dia, em 2004, o Once Caldas também ganhou.


A comparação não cabe. O clube, tratado como médio no futebol colombiano com 63 anos, nem de longe pode ser comparado às glórias do Fluminense de quase 122 anos.


E, pelo amor dos deuses do estádios, também não cabe lembrar do Corinthians, detentor de apenas uma taça continental, em 2012, hoje também novamente na zona do rebaixamento, calamidade que conheceu em 2007 e está perto de repetir.


No ano seguinte à conquista da Libertadores, de ressaca, o alvinegro fez má campanha, mas terminou em 10° lugar.


A gangorra brasileira impressiona.


Estamos acostumados a dizer que não há campeonato mais equilibrado no Primeiro Mundo do futebol, que há, no mínimo, oito candidatos ao título antes do pontapé inicial, que pelo menos um grande sempre corre risco de cair, mas daí ao campeão da América do Sul viver a situação ora vivida de uma temporada para outra é estarrecedor.


Pela teoria de Pep Guardiola, perde-se um campeonato nas oito primeiras rodadas e ganha-se nas oito últimas.


Se é verdade, Flamengo, Botafogo, Palmeiras, Athletico, Bahia e Cruzeiro seguem no páreo, assim como o Inter que tem dois jogos a menos.


E não é que gigantes como Vasco, Corinthians, Grêmio e Fluminense já não têm chance alguma de título.
Estão é ameaçadíssimos de rebaixamento, desgraça experimentada também pelo Vasco por quatro vezes e pelo Grêmio, por três.


Aliás, experiência desagradável inédita só para Flamengo e São Paulo, porque, lembremos entristecidos, o Santos a vivencia neste ano e com muita dificuldade.


De tudo isso a conclusão inevitável diz respeito à permanente intranquilidade do torcedor brasileiro, capaz de sonhar em ser campeão em abril, e ter pesadelo, em novembro, diante do chamado fantasma do rebaixamento.


Culpa da caixinha de surpresas?


Não!


Culpa da incompetência, e muitas vezes da corrupção, na gestão de nossos clubes.