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COMPROMENTIMENTO

Em um ano, 23,8 mil famílias da Capital entraram para a lista do endividamento

Segundo levantamento da CNC, 214.402 unidades familiares de Campo Grande estão com dívidas

5 JUL 2024 • POR Evelyn Thamaris • 08h30
Em Campo Grande, 16,6% das famílias estão superendividadas   Foto: Gerson Oliveira

No período de 12 meses terminado em junho deste ano, 23.869 famílias de Campo Grande entraram para a lista do endividamento. Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), desenvolvida pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a Capital acumula o total de 214.402 endividados até junho, ou 65,9% da população economicamente ativa.

No mesmo mês do ano passado, 190.533 grupos familiares disseram estar endividados, ou seja, que possuem contas ou dívidas contraídas com cheques pré-datados, cartões de crédito, carnês de lojas, empréstimo pessoal, compra de imóvel e prestações de carro e de seguros, o que representa um aumento de 12,53% - acréscimo de 23.869.

Na comparação com o mês de maio o levantamento aponta também um crescimento no índice de famílias endividadas, que passou de 64,7% a 65,9% para junho. A elevação também se deu entre um mês e outro no percentual de famílias com contas em atraso, de 30,2% a 31,4%. Os  que informam que não terão condições de pagar, passaram de 10,4% a 11%.

Dos 214.402 endividados em Campo Grande,  os com conta em atraso somam 102.286, já os que não terão condições de pagar totalizam 35.834.

A economista do Instituto de Pesquisa da Fecomércio de Mato Grosso do Sul (IPF-MS), Regiane Dedé de Oliveira, explica que o endividamento por si não é considerado problemático, uma vez que são consideradas contas a prazo como cheques pré-datados, cartões de crédito, carnês de lojas, empréstimo pessoal, prestações de carro e seguros.

“O endividamento, quando dentro do planejamento familiar, é positivo para a economia. O que acende um alerta é o aumento dos indicadores de inadimplência. É sempre importante estar atento ao comprometimento da renda de forma a honrar os compromissos e manter a economia girando”, observa. 

O mestre em Economia Eugênio Pavão atribui o cenário de elevação do endividamento a oferta de produtos financeiros dos bancos. “Atualmente temos jogos virtuais que estão levando pessoas ao endividamento e inadimplência, com a perda de controle sobre a vida financeira”, pontua.

Para o doutor em Economia, Michel Constantino, um ponto importante a ser destacado é a alta taxa de emprego na Capital de Mato Grosso do Sul. “A gente tem uma alta taxa de emprego, as pessoas tendem a gastar mais. Então, a tendência a gastar mais é também se endividar”, analisa.

Segundo Constantino, se endividar, em geral, para o brasileiro é um problema, tendo em vista que essa condição pode evoluir para a inadimplência, que é quando se deixa de pagar a conta e ocorre a negativação em órgãos de proteção ao crédito. 

Entretanto, o doutor em economia salienta que em geral, todos possuem algum tipo de dívida.

“Você passa no cartão, você faz o financiamento, você está fazendo investimento. Você está se endividando. Não é muito problema essas questões, mas o problema maior é virar inadimplência. Então isso já é um indicador um pouco preocupante”, reforça.

Para os analistas o endividamento é um sinalizador onde o maior número de endividados aponta um indicador problemático. “Sinal que é preciso melhorar o planejamento financeiro, olhar que o Brasil está passando por uma taxa de juros bem alta e vai continuar com taxa de juros altas até o governo organizar a parte fiscal e isso Tudo influencia no bolso do consumidor”, analisa Constantino.

PESQUISA

Dentre os principais tipos de contas apontados como responsáveis pelo endividamento está o cartão de crédito com 71%, seguido pelos carnês de lojas representando 19,3%. Financiamento de casas corresponde a 9,3%, crédito pessoal 9,2%, seguido pelo financiamento de carros com um percentual de 7,5% e ainda 4,2% está comprometido com crédito consignado. Outros 4% atribuíram a condição a outros tipos de dívidas.

O índice é composto por níveis, sendo estes os muito endividado (16,6%); mais ou menos endividado (22,3%); pouco endividado (27,1%) e ainda os que não tem dívidas desse tipo que representam 34,1%. Conforme o levantamento, os campo-grandenses que apontam estarem com contas em atraso totalizam 31,4% e outros 11% que declararam não ter condições de pagar.

Um dos indicadores da pesquisa destaca que um total de 47,7% responderam positivamente quando perguntados se alguém que reside em sua casa têm atualmente alguma dívida atrasada. Por outro lado 51,5% disseram que não. Nesse sentido, ao considerar todos os entrevistados, o estudo aponta 31,4% das famílias com dívidas em atraso em Campo Grande.

SUPERENDIVIDADOS

Ao contrário do cenário nacional que apresentou aumento, o grupo considerado como muito endividado, na Capital sul-mato-grossense ganhou poucos novos integrantes, ao longo dos 12 meses compreendidos entre junho do ano passado e junho de 2023, com mais 3.962 famílias

No ano anterior o levantamento indicou 31.628 grupos familiares muito endividados em Campo Grande, enquanto no mês passado 35.590 afirmaram estar superendividados, o que conforme o Código de Defesa do Consumidor conceitua como a “impossibilidade manifesta de o consumidor pessoa natural, de boa-fé, pagar a totalidade de suas dívidas de consumo, exigíveis e vincendas, sem comprometer seu mínimo existencial, nos termos da regulamentação”.

No País, a parcela de brasileiros que se considera muito endividado atingiu no mês de maio deste ano o maior nível em sete meses. De acordo com recorte da Peic, a fatia dos muito endividados subiu para 17,8%, ante 17,2% em abril, o que representa o maior patamar desde outubro de 2023 (18,1%).

Após dois meses sem subir, o índice que representa os que têm mais de 50% da renda comprometida com dívidas, incluídos entre os que se declaram “muito endividados” e também superendividados na pesquisa, voltou a subir. Essa fatia avançou de 20,7% para 20,8% entre abril e maio, a maior desde fevereiro (21,1%), no Brasil.

Em entrevista ao jornal Valor Econômico, a economista Izis Ferreira, responsável pelo estudo, o levantamento da CNC não costuma ter grandes saltos porcentuais entre um mês e outro. “É uma pesquisa que não tem desvio-padrão alto. Por isso, mudanças em tópicos relevantes, são acompanhados com atenção por analistas”, explica.