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O Tempo e as Jabuticabas

14 JUL 2024 • POR Dijan de Barros • 05h00
Dijan de Barros - colunista de empreendedorismo  

Neste artigo, exploraremos a profundidade das palavras de Rubem Alves em "O tempo e as jabuticabas".

Um texto que ressoa a urgência de viver com autenticidade e propósito. À medida que amadurecemos, nos deparamos com a percepção de que nosso tempo é limitado e precioso.

Alves, com sua sabedoria, nos convida a refletir sobre a maneira com o que estamos gastando esse tempo, destacando a importância de eliminar distrações e superficialidades para focar no que realmente importa.

Esse é um tema essencial para empreendedores e empreendedoras, que muitas vezes se veem presos em atividades que consomem tempo e energia sem agregar valor real.

O tempo e as jabuticabas

“Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente,
mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço. Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio.

Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de "confrontação", onde "tiramos fatos a limpo".

Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.
Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: "as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos".

Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado de Deus. Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.

O essencial faz a vida valer a pena.”

Aprendizado

Ao final desta reflexão, fica claro que o verdadeiro sucesso, tanto na vida pessoal quanto profissional, está em valorizar o essencial e cercar-se de pessoas e experiências genuínas. Rubem Alves nos lembra que a vida é curta demais para ser desperdiçada com futilidades e superficialidades.

Para empreendedores, isso significa escolher projetos que realmente façam a diferença, trabalhar com pessoas que compartilham os mesmos valores e, acima de tudo, não perder de vista a essência do que torna a jornada valiosa.

Aprender a "roer o caroço" das últimas jabuticabas é uma metáfora poderosa para viver com mais intensidade e autenticidade, aproveitando cada momento com sabedoria e propósito.