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ARTIGOS Rastros 10 JUL 2024 • POR Luiz Fernando Mirault Pinto - Físico e administrador • 07h30

Aqui, neste espaço em 03/11/2022, escrevi um texto que se intitulava “As Pegadas da Ultra Direita” onde partir das noticias da época, sobre o mundo dito civilizado, que se referiam ao segundo turno da eleição francesa (2022), e entre nós, a polarização, o balão midiático da terceira via inventada, as agendas ufanistas e naturalmente as constantes interpretações equivocadas da nossa constituição, assuntos que exigiam de reflexão sobre a economia a partir de uma suposta da nova ordem política e econômica que se desenhava para o porvir.   

Na Europa, numa tentativa de reverter o “status quo”, a extrema direita se organizava e se preparava para uma disputa acirrada entre diversas correntes ideológicas antagônicas aos que se opunham e se juntavam para frear as ideias extremistas dos conservadores que se propunham a estabelecer uma administração contrária aos princípios republicanos básicos.

As tais “pegadas” passariam ao largo da França, mas se agrupavam na Espanha, se mantinham firmes na Alemanha, ocupariam mentes na Itália, e em direção à Suécia, um país com visões tradicionais socializantes até então. 

O nacionalismo pregado pela direita conservadora passou a ser uma contraposição aos direitos sociais conquistados, justificando-se pelo desgosto com a política partidária, a invasão migratória mundial, que supostamente se apropriam de suas oportunidades de trabalho, a segurança e o bem estar, levando a incerteza na economia, e assim como os riscos sobre os direitos à propriedade privada, todas politicas conceituais do neoliberalismo.

Tais discursos passaram a se propagar no Continente Europeu, nos EEUU, e em alguns dos nossos vizinhos próximos onde governos personalistas pregam o nacionalismo reservado, copiando o “mote”: América para os americanos. 

Aqui, enfrentamos um nacionalismo xenófobo, uma plêiade de comentaristas conservadores, uma miríade de notícias falsas, uma censura branca nas comunicações, veículos cooptados com grupos econômicos para garantir suas preferencias mercadológicas. O mais grave, a democracia em jogo, posteriormente colocada em risco com a invasão de instituições republicanas.

Como resultado após as expectativas de mudanças políticas na Europa, observou-se que ocorreu o respeito ás diferenças ideológicas, que a continuidade da polarização extremada não seria um motivo para acirrar as divergências, e o combate a extrema direita surtiu o efeito esperado. 

Hoje, vemos que o plano politico da ultradireita internacional continua crescendo ao cogitar sobre o controle severo à imigração, a revisão dos direitos nacionalistas em relação a acordos internacionais, a persecução relativa às ilegalidades e aplicação rígida de leis sobre a livre expressão, a redução de impostos para classes de privilegiados, e o reducionismo do estado nas políticas publicas sociais.   

Ao mesmo tempo supúnhamos uma esquerda retraída, sem eco, com falas mais amenas de modo a evitar a radicalização, de modo a não se por radicalmente às ideias xenófobas, nacionalistas, pela defesa do Estado mínimo, pelo livre mercado, todas posições contrárias aos direitos coletivos e ao bem estar da sociedade, mas com a intenção de manter uma posição de um discurso conciliatório.

O avanço sorrateiro da uma política ultra direitista na Europa foi retraído e minado por aliados de direita que passaram a divulgar e afirmar serem avessas às perseguições às questões étnicas, religiosas, e sociais, passando a um discurso palatável aos cidadãos. Além disso, o Presidente francês após a vitória da extrema direita ao ocupar espaços nas cadeiras do Parlamento Europeu apressou-se a dissolver o parlamento nacional francês e convocar eleições livres em dois turnos, de modo a salvaguardar e buscar a manutenção das ideias de centro.

O segundo turno das eleiçoes acordou os eleitores franceses, dando vitória e espaço à esquerda que passou a abrir dialogo como o partido de centro de modo extirpar as chances das ideias conservadoras.

A direita francesa insiste após a derrota democrática que vencerá futuramente, e ajudará na reconstrução de um novo país.

Realmente, as tais “pegadas da ultradireita” novamente passaram ao largo da França, estão fora da Espanha, ainda vívidas na Alemanha de centro- esquerda e na Itália, mas longe da social democracia de centro de Portugal, ou da vitória trabalhista no Reino Unido; e entre nós rechaçada, embora se exija a constante vigilância, pois os rastros denunciam que a democracia no mundo sempre está em risco permanente.