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OPERAÇÃO PRIME

Quadrilha dos irmãos Martins usava token para identificar entrega de dinheiro vivo

Número de série de cédulas era utilizado para identificar pessoas autorizadas a receber grandes montantes em espécie

16 JUL 2024 • POR Daiany Albuquerque • 09h30
Operação Prime apreendeu jóias, relógios e cédulas de dinheiro   Foto: Divulgação / PF

A Polícia Federal identificou que a quadrilha comandada pelos irmãos Marcel Martins Silva e Valter Ulisses Martins, que operava o tráfico de cocaína em Dourados, fazia pagamentos utilizando doleiros paraguaios, e para identificar quem poderia receber o dinheiro eles usavam um sistema de token (uma espécie de senha).

Conforme a investigação, essa metodologia era utilizada para “pessoas não autorizadas” a retirar dinheiro com os doleiros e que iriam receber grandes quantidades em espécie. Para isso, eles utilizavam cédulas de dinheiro, e só faziam o pagamento para quem estivesse com a nota com determinado número de série.

“O procedimento é assim descrito: 1) a pessoa que irá receber valores em espécie envia ao pagador a foto de uma nota qualquer na qual apareça o seu número de série, que é único; 2) o pagador informa ao doleiro o valor que deve ser entregue ao portador daquela nota, sendo desnecessário comunicar o nome do responsável pelo recebimento; 3) como forma de garantir que a transação foi realizada, o doleiro mantém a guarda da nota após a realização do pagamento de dinheiro em espécie. Tal sistema permitiria evitar a entrega de valores a pessoas não autorizadas, ao tempo em que reforçaria a segurança dos envolvidos”, explicou a PF em investigação.

De acordo com dados obtidos pela Polícia Federal através da quebra de sigilo telefônico, essa metodologia foi utilizada para pagamento de  U$ 310 mil ao fornecedor de cocaína da quadrilha, Antônio Joaquim Mota, conhecido como “Motinha” ou “Dom”.

“Conforme os arquivos de troca de mensagens analisados, este método foi utilizado para a entrega de U$ 310 mil pelo operador Hector ao funcionário indicado por Dom (nominado Virgílio), por ordem de Valter. O procedimento é explicado na própria conversa entre Valter e Hector”, diz trecho da investigação.

“No backup da nuvem também foi encontrada fotografia de uma nota de 10 soles (moeda peruana), em que foram associados ao número de série outros números aparentemente manuscritos, possivelmente encaminhada pelo suposto fornecedor peruano do entorpecente ‘Parce’ a Valter, para viabilizar um pagamento”, completa a investigação.

INVESTIGAÇÃO

De acordo com a investigação da PF, que culminou na Operação Prime, realizada em maio deste ano, Marcel e Valter Ulisses eram os líderes de organização criminosa que atuava no tráfico de armas e de cocaína da fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai para Curitiba (PR), cidades de Santa Catarina, Rio de Janeiro (RJ) e municípios do Rio Grande do Sul.

Os dois residiam em Dourados, porém, o mais novo, Valter, seria quem teria contato com traficantes de outros países e quem cuidava dos negócios ilícitos da família, enquanto Marcel passava uma fachada de empresário e cuidava da lavagem de dinheiro por meio de empresas, conforme identificou a PF.

A quadrilha dos irmãos Martinhs tinha um patrimônio estimado em R$ 50 milhões. Eles usavam empresas em Dourados e doleiros paraguais para fazer a lavagem dos recursos vindos do tráfico.

No caso das armas, segundo o delegado da PF, Lucas Vilela, que coordenou a Operação Prime, as armas vinham do Paraguai, mas a polícia ainda apura a origem do armamento. De lá elas seguiam para facções criminosas.

“A chegada das armas, ao que tudo indica, era pelo Paraguai. A gente não conseguiu identificar os destinatários, os clientes do grupo, mas tem clientes no Rio de Janeiro, Curitiba (PR), Rio Grande do Sul e Santa Catarina”, declarou o delegado ao Correio do Estado, em maio deste ano.

A PF não informou quais são as armas que entraram ilegalmente e que são repassadas para as quadrilhas. No entanto, durante as operações realizadas em maio, que mirou o grupo, foram apreendidas duas submetralhadoras, uma espingarda calibre 12, um revólver e cinco pistolas, além de munições.

EXECUÇÃO

Matéria do Correio do Estado, publicada nesta segunda-feira (15) mostrou que investigação da Polícia Federal identificou que os irmãos Martins seriam também os mandantes do assassinato de Líder Ramón Ruiz Díaz Recalde, de 29 anos, que foi executado em agosto de 2022, na cidade de Arroyito, localizado no departamento de Concepción, próximo a Pedro Juan Caballero, na fronteira com MS.

Conversa entre Mario David Distefano Freitas e Valter Martins mostra que o irmão mais novo teria pedido para o funcionário “liquidar” o desafeto.

Líder Ramón foi morto no dia 24 de agosto de 2022, atingido por três tiros (um na cabeça, um no braço e outro na mão), segundo sites paraguaios. 

Um dia após o crime, Mario, Walter Ramón Duarte Espínola e Carlos Enrique Centurión Sosa foram presos pela Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) do Paraguai, ainda em Arroyito, suspeitos de praticarem o crime.

Saiba

Marcel Martins e Valter Ulisses Martins tiveram mandado de prisão emitido, mas apenas o primeiro foi preso.

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