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O Brasil na segurança nutricional da China: uma parceria estratégica

O Brasil se consolidou como o principal fornecedor agropecuário da China, com exportações que alcançaram US$ 63 bilhões em 2023

22 JUL 2024 • POR Bruno Blecher / Edição podcast Denis Felipe • 00h10
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Às vésperas dos 50 anos de relações diplomáticas entre Brasil e China, o Insper Agro Global lançou um estudo abrangente sobre a segurança alimentar da China e a crescente demanda por alimentos no país asiático, destacando as oportunidades para o Brasil.

O Brasil se consolidou como o principal fornecedor agropecuário da China, com exportações que alcançaram US$ 63 bilhões em 2023, superando os Estados Unidos (US$ 36 bilhões) e a União Europeia e Reino Unido (US$ 27 bilhões).

O estudo, conduzido pelos pesquisadores Pamela Borges e Leandro Gilio, revela que a política de segurança alimentar e nutricional é crucial para a China, sendo um componente central de sua política de segurança nacional.

Ouça na íntegra:

Desde 1952, a segurança alimentar tem sido parte integrante de todos os planos quinquenais da China. Em 1996, foi estabelecida a política de autossuficiência alimentar, em resposta a desafios como o êxodo rural, a escassez de terras agricultáveis e água, e a necessidade de alimentar uma população urbana crescente. A política visa priorizar a produção de culturas básicas como arroz, trigo, milho e carnes de porco e frango.

Autossuficiência Alimentar e Importações Estratégicas

Apesar da política de autossuficiência, a China ainda depende de importações para suprir sua demanda. Produtos como soja, açúcar e carne bovina são os principais itens importados, com a soja ocupando posição de destaque. Importar alimentos permite à China economizar recursos naturais, como terra e água. A produção do volume de soja importado pela China em 2023 exigiria 42 milhões de hectares adicionais de terra e 180 trilhões de litros de água, de acordo com dados da FAO.

A soja brasileira, principal produto agropecuário exportado para a China, é essencial para a produção de óleos vegetais e ração animal. O consumo de carne e ovos na dieta chinesa tem aumentado, impulsionado pela urbanização e o aumento da renda per capita. Entre 2010 e 2020, o consumo diário per capita de calorias na China passou de 3.098 para 3.337 calorias, e o de proteína cresceu de 95,2 gramas para 106,53 gramas.

Perspectivas para o Futuro

As projeções indicam que a demanda chinesa por soja continuará a crescer, embora em ritmo mais lento devido à desaceleração do crescimento da renda. As importações de soja pela China podem atingir 135 milhões de toneladas até 2032, um aumento de 34,6% em relação a 2023. O consumo de carne bovina e de aves na China ainda é baixo comparado a outros países, sugerindo potencial de crescimento nesse mercado.

Para Marcos Janckes, coordenador do Insper Agro Global, as oportunidades para o Brasil expandir seu comércio com a China não se limitam a proteínas animais, mas também incluem milho, açúcar, algodão, celulose e frutas. Em 2020, as importações chinesas de milho do Brasil chegaram a quase 30 milhões de toneladas. Recentemente, o governo chinês autorizou a exportação de 38 frigoríficos brasileiros, o maior número da história do setor, segundo o Ministério da Agricultura.

Conclusão

A parceria Brasil-China na área agropecuária é estratégica e benéfica para ambos os países. O Brasil tem a oportunidade de consolidar e expandir sua posição como fornecedor crucial para a segurança alimentar da China, aproveitando as vantagens competitivas em produção agrícola e pecuária.