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Queimadas no Pantanal: a solução está no conhecimento do Pantaneiro e na Ciência de Dados

23 JUL 2024 • POR Michel Constantino • 00h05
MIchel Constantino   Divulgação

Já perguntaram para o Pantaneiro como resolver o problema das queimadas? Já observaram as práticas tradicionais de conservação, manutenção e produção no pantanal que fizeram do Pantanal a região de maior riqueza natural? E por fim, conhecem as especificidades do Pantanal e do pantaneiro?

Começo essa coluna de hoje com essas perguntas, observando os movimentos que ano a ano se repetem no Pantanal, em todos os anos sempre tentam achar respostas simples para a questão da seca, das queimadas, das enchentes e no fim surgem vários esforços que chamamos de “enxugar gelo”, pois são pontuais e depois que o problema já iniciou, como são as queimadas que acontecem entre junho e agosto de todos os anos.

Parece uma mistura de amadorismo, oportunismo e uma urgente vontade de usar recursos públicos de forma emergencial e sem planejamento.

Mas o que mais chama a atenção nos últimos anos é o comportamento das pessoas tentando encontrar a causa e o culpado sobre aquele evento. Em geral a causa são as mudanças climáticas, e o culpado o ser humano. Nos anos recentes, tentam personificar o culpado(a), ou seja, dar nome e endereço, e neste ano a persona identificada pelos deflagradores de notícias e curtidas de plantão foi o “Pantaneiro”.  

Para um Cientista de Dados, que cuida diariamente de pesquisas, de dados, de métodos e tem como propósito contribuir para análises e políticas públicas baseada em dados, dá uma tristeza quando observamos esses movimentos de busca simples por resposta, de falta de qualidade na investigação dos órgãos responsáveis e de vontade jornalística de publicar algo que chame atenção sem ter os devidos cuidados metodológicos.

Por isso, para mim, a solução está em entender as especificidades locais, dialogar com quem vive diariamente no Pantanal e conhece suas dinâmicas, entender como o clima vem mudando, tempo de cheia e seca, mudanças na vegetação, e como o Pantaneiro está convivendo com essas mudanças climáticas. 

Junto com o conhecimento tradicional, adicionar o conhecimento científico, produzir uma integração entre séries temporais da “Régua do Pantanal”, que tem dados desde 1900 diariamente sobre o nível do Rio Paraguai, misturar com dados do INPE, dados de mudanças no Sol, na Lua, e tudo que for influenciar o clima e direta ou indiretamente pode resultar em queimadas. 

Então! estou concluindo que o Pantaneiro, o fumante beira da Rodovia, o Produtor Rural, o Pesquisadores que fazem experimentos com fogo, e os frequentadores do Pantanal não são culpados pelas queimadas?

NÃO, só estou dizendo que esses são novos dados que vamos incluir na nossa análise, usar várias formas de mensuração e só com uma metodologia bem definida, bem delineada e testada é que teremos evidências ou não da real situação das queimadas.

Meu manifesto: Um pouco menos de achismos e busca por respostas rápidas e simples, e mais Ciência de Dados para apoiar nossos resultados, notícias e conclusões.