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Pantanal

Governo usa incêndio em caminhão para rebater discurso de ministra

Marina Silva havia dito que os incêndios no Pantanal eram, em maioria, provocados por humanos e dentro de áreas privadas, o que desagradou os produtores rurais

25 JUL 2024 • POR Alanis Netto • 09h45
  Divulgação: CBMMS

Atualmente, o Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul (CBBMS) está atuando no combate de seis incêndios florestais no Pantanal sul-mato-grossense, um deles na região da Nhecolândia, causado por um caminhão. Ele teria atolado na areia, e por ter sido "forçado" demais para tentar sair, acabou ficando sobrecarregado e pegou fogo.

Durante transmissão ao vivo para atualizar sobre a situação no bioma, realizada na manhã desta quinta-feira (25) pelo Governo do Estado, o subcomandante do CBBMS e comandante da Operação Pantanal, coronel Adriano Noleto Rampazo, aproveitou para "rebater" a Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que havia dito que os incêndios no Pantanal eram provocados por humanos, e que a maioria acontece dentro de áreas privadas.

"Nada é de propósito, nem todos os incêndios são de propósito", disse o coronel, "na verdade, a maioria não é, né? A gente costuma dizer isso", acrescentou.

No discurso, feito durante evento dedicado ao Dia Mundial do Meio Ambiente, a ministra Marina Silva havia chegado a mencionar Corumbá, onde acontece o grande incêndio mencionado acima, como exemplo do efeito da ação humana.

"Queria dizer que 85% desses incêndios estão acontecendo dentro de terra privada. Nesse momento, não temos incêndios em função de ignição natural (...) Todos eles são por ação humana, seja por desmatamento, seja por queimada. E digo ainda que os municípios que mais desmatam são os que mais têm incêndio. Município de Corumbá está respondendo por metade dos incêndios do MS, e ele aumentou desmatamento em 52%. Correlação direta", disse Marina.

A fala desagradou os produtores rurais. À época, a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul) e a Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrisul) emitiram notas oficiais contestando a fala da da ministra, defendendo que os incêndios no bioma não são de responsabilidade dos produtores rurais e nem estão associados ao desmatamento.

Agora, o Estado trouxe um exemplo de incêndio causado pela ação humana, mas de forma acidental, e em um local que não pertence a nenhuma propriedade privada.

Difícil acesso

O fogo teve início na região da Nhecolândia, próximo à fazenda Tupaceretã, na última terça-feira (23), mas os militares só conseguiram chegar ao local no fim do dia de ontem. Nesta quinta-feira (25) serão utilizadas aeronaves para facilitar a mobilidade na região e intensificar o combate ao fogo.

"A semana passada foi um pouco tranquila, devido àquela chuva e à baixa temperatura, mas essa semana foi bastante intensa. Hoje estaremos combatendo, principalmente, o incêndio da Nhecolândia. Vai ser o grande foco, porque essa região é muito sensível, tem muitas fazendas, e também está próxima do Parque Estadual do Rio Negro", disse Rampazo.

Além dos militares do CBB,S, o Ibama está apoiando no local, com aeronaves, e o KC-390 da Força Aérea Brasileira.

"As aeronaves são fantásticas, elas ajudam muito. Nossa equipe saiu para chegar lá na terça-feira à noite, e tentou acessar o local ontem o dia inteiro. Estragou uma viatura da Força Nacional, nossas viaturas estavam atoladas, pedimos auxílio de tratores para tentar puxar os veículos. Algumas viaturas não conseguiram chegar ainda. Deslocamos de helicóptero, para a Nhecolândia, equipes que tinham sido tiradas da região do Maracangalha. E esse helicóptero vai auxiliar na mobilidade dessas equipes durante o combate. E não é uma região mais inóspita do Pantanal, e mesmo assim o acesso é bastante complicado", acrescentou o comandante da Operação Pantanal.

Outros focos

Apesar dos esforços estarem mais concentrados na região da Nhecolândia, equipes do Corpo de Bombeiros continuam o combate e monitoramento nas seguintes regiões:

próximo da fazenda Caiman, em Aquidauana; região do Porto da Manga; região da Área de Adestramento do Rabicho; próximo à região de Maracangalha; proximidades de Rio Verde (MS). Tempo não vai colaborar

Segundo a diretora do Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de Mato Grosso do Sul (Cemtec), Valesca Rodriguez Fernandes, as condições climáticas nos próximos dias não devem colaborar com o combate aos incêndios, pelo contrário, serão aliadas do fogo.

Entre quinta e domingo, o tempo permanecerá firme, com sol, poucas nuvens e temperaturas estáveis e acima da média. As máximas podem variar de 34ºC a 37ºC, e as mínimas de 21ºC a 23ºC.

Além disso, o tempo continua seco, com umidades entre 10 e 30%.

“Todas essas condições previstas são favoráveis para a ocorrência de incêndios florestais”, disse Valesca. "O perigo de fogo, segundo o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa), está entre muito alto e extremo, sendo os piores dias entre 27 e 28 de julho", acrescentou..

Apesar da chegada de uma frente fria na segunda-feira, ainda não há previsão de chuva para o Pantanal, apenas para o município de Porto Murtinho.

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