Em mais um capítulo do imbróglio que é a retomada da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III (UFN3), a due diligence (processo de auditoria) da estrutura da fábrica de fertilizantes deve apontar um novo cronograma para a finalização da obra e início da operação.
Conforme informou ao Correio do Estado, o secretário de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, o relatório deve ser entregue em três meses. E com isso, o início das obras deve ser empurrado para 2025.
“A empresa contratada está terminando a chamada due diligence tecnológica e ambiental da fábrica, para estimar exatamente qual o custo efetivo de término dessa retomada da UFN3. Isso ainda não terminou, a gente espera que nos próximos dois ou três meses a empresa entregue esses estudos para a Petrobras efetivamente saber qual é o tamanho [do investimento] e qual é o cronograma que nós vamos ter para terminar a obra”, afirma Verruck.
O Correio do Estado já havia adiantado, na edição de 27 de outubro de 2023, que a fábrica começaria a funcionar apenas em 2025. No entanto, sem o início das obras até o momento, o começo do funcionamento da fábrica também será postergado por mais um ano, já que a fase de obras deve levar de 12 a 18 meses.
O término da fábrica é um pleito importante não somente para Mato Grosso do Sul, mas para todo o Brasil. A unidade tem o intuito de reduzir a dependência do País na importação dos fertilizantes nitrogenados. Projeções da Semadesc apontam que somente com a ativação da fábrica de Três Lagoas, seria possível reduzir entre 15% e 30% a importação dos adubos nitrogenados.
A expectativa local era que com a troca de presidente da estatal, ocorrida em meados de maio, houvesse uma aceleração no processo de retomada da indústria de fertilizantes. A engenheira Magda Chambriard foi a indicada pelo governo Lula após a demissão de Jean Paul Prates. Assim que assumiu o comando da Petrobras, Magda prometeu que iria tirar do papel os investimentos, nos quais se inclui a UFN3.
Conforme informações dos bastidores do Palácio do Planalto, o entendimento é que os investimentos da Petrobras em infraestrutura caminharam a passos lentos na gestão de Prates.
PARCERIA
O secretário Jaime Verruck ainda frisou que a estatal precisa de um parceiro comercial para dar o início nas operações. “A Petrobras tem caixa para executar essa obra, mas ela está procurando um parceiro.
Recentemente saiu um comunicado oficial da Petrobras de um termo de acordo com a Yara Fertilizantes, que seria a ideia exatamente que ela pudesse vir a terminar a fábrica e fazer a operação”.
No início de julho, o Correio do Estado já havia informado sobre a possibilidade de a empresa norueguesa, Yara, ser sócia da estatal no projeto de retomada.
“A Petrobras entende que a operação da fábrica, a venda da uréia ao mercado de fertilizantes deveria estar na mão de terceiros. Então acho que está um pouco nessa fase. Mas eu continuo ainda otimista dentro da linha estratégica da Petrobras do término da fábrica da UFN3”, finaliza Verruck .
A fábrica de Três Lagoas deve receber aporte de pelo menos R$ 5 bilhões (US$ 1 bilhão) para sua conclusão. A unidade deve consumir 2,3 milhões de metros cúbicos de gás natural, tranformando-os em 1,3 milhão de toneladas de ureia e de 0,8 milhão de toneladas de amônia.
IMBRÓGLIO
No final de abril, durante sua visita à UFN3, o então presidente da Petrobras Jean Paul Prates, abordou a possibilidade de retomada das obras da planta, mas sem confirmar detalhes específicos. A visita, aguardada desde o ano passado, gerou a expectativa de um anúncio sobre um novo cronograma, alocação de recursos e conclusão do complexo industrial.
Conforme publicado pelo Correio do Estado em 27 de abril, o presidente enfatizou que o evento não era uma reinauguração, mas o início do processo de aprovação do projeto.
Ele destacou que, paralelamente à visita técnica, já estava em andamento uma avaliação abrangente do projeto em termos técnicos, econômicos e ambientais. No dia 15 de maio, foi anunciada a troca de presidente da Petrobras.
PROCESSO
A UFN3 começou a ser construída em 2011 e teve as obras paralisadas em 2014, após integrantes do consórcio serem envolvidos em denúncias de corrupção. Na época, a estrutura da indústria estava cerca de 80% concluída. O processo de venda da UFN3 começou em 2018 e incluía a Araucária Nitrogenados (Ansa), fábrica localizada em Curitiba (PR). A comercialização conjunta inviabilizou a concretização do negócio.
No ano seguinte, a gigante russa de fertilizantes Acron havia fechado acordo para a compra da unidade, mas a crise boliviana impediu o negócio. Em fevereiro de 2020, a Petrobras lançou nova oportunidade de venda. As tratativas só foram retomadas no início de 2022, com o mesmo grupo russo.
Já no dia 28 de abril de 2022, a petrolífera anunciou que a transação de venda da fábrica para o grupo Acron não havia sido concluída. Ainda em 2022, a Petrobras relançou a venda da fábrica ao mercado.
Em 24 de janeiro de 2023, a estatal anunciou o fim do processo de comercialização da indústria e desde então há a expectativa do reínicio das obras.