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Corixos secam e ameaçam sobrevivência de isqueiros no Pantanal

Imagens feitas em um local que não secava havia cerca de 25 anos mostra milhares de peixes mortos no meio da lama próximo ao Passo do Lontra

30 JUL 2024 • POR Neri Kaspary • 11h20
Milhares de tuviras, muito usadas para iscas, e de outras espécies morreram em meio à lama que restou no chamado Corixo do Cervo  

Além dos prejuízos causados pelos incêndios florestais, que já destruíram 692 mil hectares desde o começo do ano no Pantanal em Mato Grosso do Sul, a seca extrema está provocando a mortandade de milhares de peixes nos chamados corixos e colocando em risco o meio de sobrevivência de dezenas de pessoas que vivem da captura e venda de iscas para turistas que visitam o Pantanal. 

Um vídeo feito na semana passada no chamado Corixo do Cervo, a 88 quilômetros de Miranda e 12  antes da entrada para a Estrada Parque,  mostra milhares de tuviras, cascudos, acaris e curimbas mortos por conta da falta de água. 

Nas imagens ainda é possível ver alguns exemplares se mexendo, mas grande maioria está morta faz dias. Segundo Cícero Diomegues, isqueiro de 55 anos que há 35 tira o sustento da família catando e vendendo iscas na região, a única vez que viu o corixo secar tanto foi em 1997 ou 1998. 

Em anos de grandes cheias, o Corixo do Cervo vira um rio paralelo ao Rio Miranda e se estende até desaguar no Rio Paraguai, em uma distância superior a 120 quilômetros. Com as chuvas do ano passado, segundo o isqueiro, o corixo recebeu muita água a grandes lagos conseguiram “sobreviver” até junho. 

E, assim como no local em que ele e outro isqueiro fizeram as imagens, vários outros lagos secaram corixo abaixo nas últimas semanas. Prova disso, segundo ele, é que apesar da grande quantidade de peixes mortos , no local praticamente não havia aves de rapina, evidenciando que há sobra de alimento para estas aves em outros locais próximos no Pantanal. 

Por causa desta situação extrema, está cada vez menor a opção de locais para captura de iscas. Por enquanto, segundo ele, existem somente duas poças “vivas” na região. E ele espera que elas consigam manter água até o fim da estiagem.

 Historicamente, só a partir de outubro que chuvas mais volumosas chegam à região. E a falta de água agora é reflexo da escassez de chuvas desde outubro do ano passado. Elas foram 40% abaixo da média histórica em praticamente todo o Estado. 

As últimas chuvas na região onde foi feito o vídeo ocorreram nas primeiras semanas de abril. Na região urbana de Miranda, o volume naquele mês chegou a 242 milímetros. Em Corumbá, porém, foram apenas 70. E local onde foi feito o vídeo, está localizado entre as duas cidades. 

A família de Cícero Diomegues mora na cidade de Miranda, mas ele passa a maior parte do tempo em abrigos improvisados no meio do Pantanal. "Eu só vou pra casa uma vez por semana ou a cada dez dias. E além da falta de água no corixo, a quantidade de turistas no Pantanal está baixa e a venda de iscas não anda bem", lamenta ele.