Ator, diretor e autor, Miguel Thiré está comemorando 32 anos de carreira assinando a direção e como um dos criadores do monólogo “O Figurante”, estrelado pelo também ator Mateus Solano de quem é parceiro e amigo dentro e fora dos palcos. O projeto (totalmente feito sem patrocínio), fica em cartaz no Teatro Fashion Mall, no Rio, de julho a novembro de 2024.
Radicado em Portugal desde 2016, o carioca atuou na TV local nas novelas “A impostora” e “Valor da Vida”, na TVI. Por lá, também fez parte do elenco do longa “Submissão”, criou e estrelou os solos “Cidade Maravilhosa” e “Força Estranha”, e também trabalhou nos espetáculos “A Peça que dá para o Torto”, “O crédito” e “O regresso de Ricardo III”.
Na pandemia (2020 a 2021), Miguel lotou um galpão de mil metros quadrados com a sua adaptação da experiência Imersiva “Alice, O Outro Lado da História”. Em seguida, assinou a montagem dos sucessos teatrais “Dois+Dois” e “Trair e Coçar é só começar” - sendo esta a primeira versão do sucesso que ficou 34 anos em cartaz nos palcos brasileiros.
Em seu currículo ainda constam diversos trabalhos na TV brasileira, como as novelas “Porto dos Milagres” e “Em Família”, na TV Globo, “Paixões Proibidas”, na Band, e Poder Paralelo”, na Record. Ele ainda foi protagonista da série “Copa Hotel”, do GNT.
No cinema, o ator fez parte do elenco de projetos como “O Inventor de Sonhos”, de Ricardo Nawenberg, e “A Memória Que Me Contam”, de Lúcia Murat. Já no teatro, esteve em uma dezena de espetáculos, como tango, Bolero e Chá-chá-chá” e “A Babá” - ambos com direção de Bibi Ferreira - e encenou o monólogo “Pra Mim Chega”.
Ao lado de Mateus Solano, estrelou entre 2016 e 2018 a peça “Selfie”, que teve temporadas de sucesso no Brasil, nos EUA e em Portugal.
Casado com a atriz luso-brasileira Gabriela Barros – vencedora do prêmio Globo de Ouro como Melhor Atriz de Ficção em 2022 por sua atuação na série portuguesa “Pôr do sol” - o artista aguarda o lançamento do filme “Biscoito da Fortuna”. O projeto foi rodado em Portugal e conta também com nomes como Milhen Cortaz e Giselle Itié no elenco.
Miguel é filho do também ator Cecil Thiré com a produtora de teatro Norma Pesce, irmão dos atores Luísa Thiré e Carlos Thiré e também do músico João Thiré, netos da atriz Tônia Carrero. Uma família de estrelas do qual teve influências positivas em sua escolha como ator e diretor.
Miguel Thiré é Capa exclusiva e especial de Dia dos Pais do Correio B+ desta semana. Em entrevista ao Caderno, ele fala sobre o seu primeiro Dia dos Pais, trabalhos e experiência morando em Lisboa há alguns anos.
CE - Miguel é o seu primeiro Dia dos Pais. Como tem sido a paternidade pra você nos últimos meses? Além de rotina, percebe alguma mudança em si desde que Laura nasceu?
MT - Olha, Tem sido uma deliciosa e desafiadora experiência. Laura é um presente, e o amor só cresce a cada dia como diziam, pois a interação só faz crescer também. O desafio pra mim é administração de tempo entre a filha e o restante da vida.
Organizar o tempo sempre foi um desafio pra mim, e com as demandas de uma bebê vejo necessário reaprender a cada dia sobre onde empregar energia. Por exemplo, agora que acabei de estrear uma peça, "O Figurante" com Mateus Solano, na qual eu dirigi e também assinei conjuntamente o texto, foi mesmo muito desafiador fazer as duas coisas ao mesmo tempo, Laura e peça.
E digo só consegui fazer bem, porque Laura é uma menina que dorme, uma sorte! E também aqui em Lisboa não tenho o suporte da minha família, então ajuda de babá torna a vida ainda mais cara, o que faz com que o trabalho tenha que render ainda mais, é a nova ciranda da vida. Agora, ela nos últimos 5 dias começou a falar "papá" e só com isso já pagou a conta dela (hahahaha).
CE - Aliás, muitas mulheres já crescem com o desejo de ser mãe. E você, pensava em ser pai? Como a notícia chegou pra você?
MT - Sempre pensei que seria pai, mas nunca tive essa pressa, nem a certeza do momento certo. Eu acompanhei e "auxiliei" todo o processo do parto (foi natural com muito trabalho nosso, pois no momento ela demorou para encaixar e fizemos muito exercício). Me lembro bem que depois dela passar pelo colo da mãe e fazer os primeiros procedimentos como pesá-la, ela veio para o meu colo. Nesse momento não havia nada de estranho, meu colo parecia conhecê-la como seu eu já estivesse acostumado a ampará-la. Isso me impressionou.
CE - Você é casado com a atriz luso-brasileira Gabriela Barros. Como tem sido pra um brasileiro educar e criar uma filha em Portugal, um país com outra cultura? E como tem sido tudo isso longe da sua família aqui?
MT - Acho que a distância da família criou é um grande desafio. O conjunto familiar ajuda a educar e cuidar. Quanto as diferenças culturais, acho que existe tantos desafios quanto eu teria se fosse no Rio. Qual ideologia de ensino se encaixa melhor conosco? Que tipo de influências ela terá? Serão sempre os desafios em todos os lugares.
Agora, existem vários outros fatores nessa equação, bons e maus. Um bom é a qualidade de vida e alguns suportes governamentais que Portugal dá mais que o Brasil, por exemplo, não pagar creche até os três anos, outra é que a parte brasileira da cultura dela, com a festa o maior calor nas relações, a espontaneidade, tudo isso vai ficar para as poucas visitas que espero que aconteçam sempre. Uma coisa que ajuda muito é que a família da Gabi tem muita relação com o Brasil. O pai dela é brasileiro, todos já moraram no Brasil em algum momento...
CE - Como pai de uma menina num mundo moderno, já pensa em como educá-la a respeito de assuntos como machismo, feminismo, preconceitos, etc?
MT - Claro que penso. Não só em educá-la, mas em constantemente em me reeducar. Acho que é esse o pensamento mais importante, estar sempre aberto a atualizar cada uma das nossas certezas. Já imagino o quanto ela vai me reeducar também pois as novas gerações são o novo. E precisamos do novo.
CE - Falando em paternidade, ser filho de Cécil Thiré, neto de Tônia Carrero e ter uma família toda super renomada na arte... Entrar para o mundo artístico foi uma escolha natural sua ou alguma pressão pra seguir os passos deles? Já pensou no que faria se não fosse artista?
MT - Nunca ouve nenhuma pressão. Havia proximidade e amor pelo que faziam, e isso seduz. Eu acho que se não fosse ator/diretor eu iria trabalhar em algo criativo. Ciências, matemáticas ou químicas, nunca conversaram comigo.
CE - Falando em filhos, seu novo "filho" profissional é o monólogo “O figurante”, com Mateus Solano, que está em cartaz no Rio de Janeiro até novembro e onde você é o diretor e um dos autores do texto. Como é fazer um trabalho em que você tem múltiplas funções?
MT - Pois é. É sempre desafiador. E ao mesmo tempo é o que mais gosto de fazer. Dar molde para um trabalho de raiz, é mesmo uma paixão pois é mesmo moldar o que queremos falar. Agora, como toda a paixão me faz amar e sofrer ao mesmo tempo. A busca pela perfeição esbarra nas realidades da vida e em meio a esse duelo eu vou sobrevivendo.
CE - No Brasil parece ainda haver um certo estranhamento do público e do mercado artístico quando alguém passa a fazer várias funções além de atuar. Como tem sido pra você essa experiência? Vamos ver um monólogo seu também dirigido e escrito por você?
MT - Não sei se noto esse estranhamento em particular, e no meu caso venho fazendo esse trabalho de criador em paralelo à trabalhar somente como ator desde os meus 23 anos, no entanto já estou costumado. Eu, inclusive, cheguei em Lisboa tendo na bagagem um monólogo chamado "CidadeMmaravilhosa" no qual eu estava em cena e também assinava criação junto da equipe, do mesmo modo que Mateus participa desse - "O Figurante". Fazer "Cidade Maravilhosa" em Lisboa me abriu muitas portas.
CE - Você tem um “casamento” com Mateus Solano de 25 anos. Como é essa relação pessoal e profissional de vocês?
MT - Eu e Mateus somos como irmãos no palco e fora dele. Muitos trabalhos e muitas histórias. Nós parecemos nos complementar de uma maneira curiosa em cena e agora nessa dinâmica de diretor ator também. Quando discutimos e temos opiniões opostas acho que nossos egos dançam uma dança respeitosa entre si, e saímos sempre fortalecidos com descobertas, além do carinho, respeito e admiração naturais estão sempre presentes.
CE - Você já se sentiu figurante em algum momento da vida pessoal e profissional?
MT - Já. E acho natural. Falar desse sentimento é muito importante inclusive em um mundo em que cada vez mais nos cobra ser importantes, felizes, famosos, influenciadores e uma série de outras coisas. Querer ver o lugar que se ocupa reconhecido é humano. ao mesmo tempo a noção de que fazemos parte de um todo e que somos todos figurantes de alguém é também uma perspectiva que nos faz pensar, pra dizer o mínimo.
CE - Você tem mais de 30 anos de carreira. Olhando pra sua trajetória, teria feito algo diferente? E o que Miguel Thiré ainda não fez, mas que está nos planos?
MT - Teria investido mais em estudo com a cabeça mais jovem. Ferramentas como o canto, habilidades com línguas e coisas assim. Sonhos eu tenho alguns e nenhum que me norteie. Na verdade, um conceito, viver bem de retorno de bilheteria; saber que estou conseguindo pagar bem as minhas contas com dinheiro direto que as pessoas desprenderam para assistir algo do qual fiz parte. Reconheço a importância que existe no anunciante, no mecenas, no governo que apoia através de um edital. No entanto sonho em crescer mais e mais em vender ingresso autonomamente.
CE - Morando e trabalhando fora há oito anos, do que mais sente falta do Brasil? E o que já "pegou" dos portugueses?
MT - Sinto falta das casas de sucos a cada esquina, da mata atlântica e da festa que é o Brasil. SINTO FALTA DO CARNAVAL. Gosto do que Lisboa me proporciona como cidade, cultura, praia, comida. Já me sinto mais acostumado ao ritmo calmo e menos caótico de Lisboa, e quando vou ao Rio é uma espécie de caos e delícia que já não identifico como casa, mas que preciso de tempos em tempos pois me alimenta.
Sempre fui de amar o carnaval, mas só naqueles 5 dias. Dentro deles eu vivia tudo e era impossível abrir mão, chegava a negar trabalho se não respeitasse o carnaval, mas depois dos 5 dias já estava bom. São assim minhas passagens pelo Brasil hoje.
CE - Depois da estreia de “O Figurante”, já faz planos para novos projetos?
MT - Projetos são muitos. Estrear duas novas peças em Lisboa até janeiro, mas que ainda é cedo pra falar. E estou em conversa com uma parceria brasileira para desenvolver um formato de teatro de improviso, com o qual venho trabalhando nos últimos tempos. Como são criações, somente na hora certa posso revelar títulos e assim. Até lá , muita labuta e cuidar de Laurinha. Ah, mas o Carnaval....... que saudade...