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Estatal vai reduzir dependência boliviana e revender gás produzido em MS

MSGás pretende comprar até 40 mil metros cúbicos de gás por dia produzido em usinas de cana, frigoríficos e granjas de suínos e revender para seus clientes atuais

14 AGO 2024 • POR Neri Kaspary • 10h56
Na usina da Adecoagro em Ivinhema, parte da frota trocou o diesel por biometano, mas haverá excedente que deve ser comprado pela MSGás  

Dependente unicamente do gás que vem da Bolívia, a estatal MSGás pretende comprar biometano das usinas de cana-de-açúcar, de frigoríficos e dos produtores de suínos e revender para seus mais de 18 mil clientes em Campo Grande e Três Lagoas. Além disso, promete chegar a Dourados e revender parte deste combustível renovável na segunda maior cidade do Estado.. 

A estatal lançou Chamada Pública indicando que está disposta a comprar 40 mil metros cúbicos de biometano por dia, sendo 30 mil para atender as redes de Campo Grande e Três Lagoas e 10 mil para Dourados. Os interessados precisam entregar as propostas até o dia 13 de setembro. 

Os fornecedores poderão entregar o combustível tanto por meio de dutos quanto nas formas comprimida (GNC) ou liquefeita (GNL), já que atualmente não existem dutos interligando as redes da MSGás com as usinas ou granjas de suínos.

Estes 40 mil metros cúbicos diários que a empresa pretende comprar inicialmente ainda estão longe de suprir a necessidade. A empresa controlada pelo Governo de MS distribui diáriamente em torno de 560 mil metros cúbicos importados da Bolívia, pelo Gasbol.

Conforme os dados da Cibiogás, três empresas de produção de biogás e biometano já estão em operação em Mato Grosso do Sul e têm capacidade para 8,16 milhões de metros cúbicos por ano, o que equivale a cerca de 22 mil metros cúbicos por dia. 

Estão em operação as usinas da Adecoagro, em Ivinhema, com capacidade de 2,4 milhões de metros cúbicos anuais. A JBS, em Campo Grande, com capacidade de 1,38 milhão de metros cúbicos por ano, e a SF Agropecuária, em Brasilândia, com capacidade de 4,38 milhões de metros cúbicos anuais. Além disso,  a usina da Neomille, em Maracaju, também começou a produzir biometano.

Esta capacidade de produção, porém, está prestes a disparar. No dia 11 de julho, a Adecoagro, multinacional sucroenergética que atua no Brasil, na Argentina e no Uruguai, anunciou que investirá R$ 225,7 milhões para quintuplicar sua produção de biometano na usina de Ivinhema. 

A unidade ganhará dois novos biodigestores, que, juntos, terão a capacidade de fornecer, por dia, até 30 mil metros cúbicos nominais do gás, produzido a partir de vinhaça (resíduo da produção de etanol). A previsão é de concluir o projeto em 2027. Parte disso é consumido pela própria usina, mas a maior parte será vendida.

A Adecoagro é uma empresa com sede em Luxemburgo, mas atua no Brasil desde 2004. Atualmente, produz açúcar, etanol e energia elétrica a partir de três unidades industriais, uma em Minas Gerais e duas em Mato Grosso do Sul. A capacidade total de moagem é de 14,2 milhões de toneladas de cana por safra.

A expansão de biometano está programada para iniciar no segundo semestre de 2024. Atualmente, 5% da vinhaça da Adecoagro é destinada à produção de biogás, percentual que deve aumentar para 20% após a conclusão da expansão. O restante é usado para adubação das lavouras.

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Conforme nota divulgada pela MSGás, “a Chamada Pública marca um momento histórico do protagonismo de Mato Grosso do Sul no processo de transição energética. Ao mesmo tempo que investe na expansão do gás natural subterrâneo, avança na oferta de gás natural renovável, produzido pelas usinas sucroalcooleiras e suinocultores, pelo processo de purificação do biogás”.

Conforme o secretário Jaime Verruck, da Semadesc, “o biometano tem a mesma composição do gás natural e pode substituir esse combustível em todos os aspectos. A MSGás já estudava a compra do biometano gerado pelas agroindústrias para suprir sua demanda. Só precisávamos de um volume maior que possibilite essa negociação”. 

Atualmente, somente as usinas de etanol instaladas em Mato Grosso do Sul têm capacidade para gerar 126 milhões de metros cúbicos de biometano por safra, ou 345.000 mil metros cúbicos por dia.

Segundo o gerente de Produção da MSGás, Leonardo Fioratti, o “biometano é um combustível do futuro, limpo, renovável e versátil, pode ser aplicado para uso industrial, veicular, termoelétrico, comercial e residencial”. 

O potencial de produção é medido pelo número de usinas, 20 em todo o Estado, com abrangência em 42 municípios. A setor sucroalcooleiro responde por 16º do PIB Industrial de MS.

Para se ter uma ideia, a próxima safra de cana-de-açúcar e de milho vai render mais de 4,5 bilhões de litros de etanol. Para cada litro de etanol produzido a partir da cana-de-açúcar são gerados 10 litros de vinhaça. 

E, cada metro cúbico de vinhaça produz até 13 metros cúbicos de biogás, E, para cada três metros cúbicos de biogás, após a purificação, produz-se dois metros cúbicos de biometano.

Além da Adecoagro, a Atvos, em Nova Alvorada do Sul, também anunciou investimento de R$ 350 milhões em uma planta de biometano com capacidade de 28 milhões de metros cúbicos por ano, o que coloca o Estado em um outro patamar. 

A capacidade de produção de biogás do setor sucroenergético no Brasil é de aproximadamente 5,2 bilhões de metros cúbicos ao ano. Isso equivale a todo gás natural que o Brasil importou da Bolívia no ano passado, por exemplo.

De acordo com projeções da Abiogás (Associação Brasileira de Biogás), a produção de biometano deve saltar 600% até 2029, saindo do atual 1 milhão de m³ por dia para 7 milhões de m³/dia. 

Ainda segundo a entidade, atualmente existem 20 plantas no país, sendo que apenas seis comercializam o gás e a expectativa de é que o total de unidades produtoras voltadas à comercialização chegue a 90 nos próximos cinco anos, sendo 42% via setor sucroenergético.

Além da produção nas usinas, atualmente, há 22 biodigestores em atividade no Estado aproveitando resíduos da suinocultura e bovinocultura. 

EXPANSÃO DO GÁS CANALIZADO

A MSGás recebeu a Licença Ambiental da Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Gestão Urbana) para expandir a rede de distribuição em 20 ruas de Campo Grande. Serão mais 40 km de rede. 

Estão incluídas nas obras de extensão do gás canalizado as seguintes vias: Rua Antônio Maria Coelho, Avenida Noroeste, Rua Plutão, Rua Udinese, Avenida Nelly Martins, Rua Diogo Bernardes, Rua Pedro Martins, Rua Mário de Andrade, Avenida Capital, Rua Aduie Rezek, Avenida Bandeirantes, Rua Dona Otília Barcelos, Rua Engenheiro Alírio de Matos, Rua Equador, Avenida Fernando Corrêa da Costa, Rua Zola Cícero, Rua Rogélio Casal Caminha, Rua Jamil Basmage, Rua Paulo Tognini, e Rua Antônio Rahe.