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Ribas do Rio Pardo Terceirizada da Suzano que aplicou calote milionário não tem dinheiro na conta Lista das vítimas que prestaram serviço à parceira da Suzano em construção de megafábrica de celulose e que não receberam não para de crescer 17 AGO 2024 • POR Eduardo Miranda • 05h00
Fábrica da Suzano em Ribas do Rio Pardo, a maior do mundo   Divulgação

O calote da VBX Transportes Ltda. em Mato Grosso do Sul continua a crescer, e as perspectivas das vítimas da empresa terceirizada da Suzano S.A. envolvida na construção da megafábrica de celulose em Ribas do Rio Pardo, inaugurada no mês passado, estão cada vez mais sombrias.

Já são 12 empresas, tanto pessoas jurídicas quanto físicas, que alugaram máquinas ou prestaram serviços de fornecimento de combustíveis e hospedagem à VBX Transportes e ainda não receberam pagamento.

Para piorar a situação, uma decisão recente da Justiça na Comarca de Chapadão do Sul revelou que não havia nenhum valor disponível nas contas bancárias da empresa, que tem sede em Minas Gerais.

Foram bloqueadas 10 contas bancárias da VBX, indicadas pela credora Agro Máquinas e Terraplanagem, de Chapadão do Sul, mas não havia dinheiro disponível em nenhuma delas.

Essa mesma empresa que cobra R$ 317.193,93 da VBX Transportes na Justiça – e, solidariamente, da Suzano – conseguiu, no entanto, que fossem impostas restrições a bens da VBX, como duas caminhonetes (uma RAM 3500 e uma Toyota Hilux), uma van Sprinter, uma carreta Mercedes-Benz Axor e duas carretas DAF.

A Agro Máquinas e Terraplanagem, que locou duas pás carregadeiras e duas escavadeiras hidráulicas, foi a única das 11 credoras da VBX a procurar a Justiça até agora, conseguir identificar bens da empresa autora do calote e obter um bloqueio de contas bancárias, ainda que infrutífero.

TERCEIRIZADA

A VBX foi uma das maiores prestadoras de serviço para a Suzano no Projeto Cerrado, que resultou na construção da planta processadora de celulose em Ribas do Rio Pardo, cidade distante 93 km da Capital, e que demandou investimentos da ordem de R$ 22 bilhões.

A fábrica da Suzano em Ribas é a maior planta processadora de celulose do mundo, com capacidade para produzir quase 3 milhões de toneladas por ano desse composto vegetal utilizado para várias finalidades, desde a fabricação de papel até usos nas indústrias química, têxtil e farmacêutica, entre outros segmentos.

Os calotes da VBX às suas subcontratadas começaram a aparecer no fim de 2023, quando os primeiros pagamentos a seus subcontratados (os quarteirizados da Suzano) começaram a atrasar.

Na época, a gigante da produção de celulose e papel se antecipou às consequências do calote de sua parceira e honrou dívidas trabalhistas dos colaboradores da VBX. No entanto, ficaram sem receber os empresários que locaram máquinas ou firmaram contratos para prestação de serviços à empresa com sede em Abaeté (MG), incluindo donos de hotéis e pousadas em Ribas, além de distribuidores de combustíveis.

TAMANHO DO CALOTE

Os 11 processos contabilizados na Justiça de MS pelo Correio do Estado já somam R$ 2,32 milhões. Esse cálculo não leva em consideração processos que tramitam em outros estados, como Minas Gerais, onde a empresa está localizada.

Em maio último, um empresário de Minas vítima da VBX relatou que apenas ele tinha R$ 1,5 milhão para receber da VBX, além de ter amargado o prejuízo de ter uma de suas motoniveladoras furtada dentro do canteiro de obras da Suzano em Ribas do Rio Pardo em dezembro de 2023. Com esse valor, o calote atinge R$ 3,82 milhões.

À época, segundo o empresário, a VBX nem sequer arcou com o pagamento da franquia do seguro do equipamento. Dos 11 processos contra a VBX Transportes, seis foram ajuizados nos últimos dois meses, quando o Correio do Estado começou a reportar a movimentação dos empresários lesados na Justiça.

Além da Agro Máquinas e Terraplanagem (R$ 317 mil) – já citada nesta reportagem –, também recorreram à Justiça as empresas PH Agropastoril, que cobra R$ 286,5 mil da empresa mineira que parece ter sumido do mapa, Servitech (R$ 9,3 mil), M2 Tratores (R$ 9,8 mil), Vieira Construção (R$ 44,8 mil), TTZ Martins (R$ 109,9 mil) e CRG Hotel (R$ 490 mil).

Esses credores se somam à Locatruck (R$ 132,2 mil), à LOB Terraplanagem (R$ 120,1 mil), à Pousada LME Ltda. (R$ 357,6 mil), a uma empresa locadora de máquinas com processo em tramitação em MG (R$ 1,5 milhão) e à empresa Sérgio Claudemir Papa (R$ 452,4 mil).

Lista das empresas credoras com os valores correspondentes:

OUTRO LADO

Desde o início da série de reportagens sobre os calotes para a construção da megafábrica de celulose em Ribas do Rio Pardo, o Correio do Estado procura a VBX nos números que aparecem nos processos judiciais e também listados na internet, mas ninguém atende às chamadas.

A Suzano, por sua vez, alega que o caso da VBX Transportes “é uma situação isolada, haja vista as centenas de fornecedores da empresa que realizam negócios no município”.

“Tal empresa prestava serviços na área de manutenção de estradas, e durante os últimos meses de contrato a Suzano constatou que, mesmo com o pagamento em dia do contrato desse fornecedor, a VBX não estava honrando suas obrigações trabalhistas e outras obrigações de mercado, e esse último fato [foi quando] tomamos ciência via telefone da ouvidoria da empresa”, informou a Suzano.

A Suzano ainda afirma que chegou a honrar as dívidas trabalhistas da VBX, por ser a tomadora do serviço e por ter responsabilidades previstas em lei nesse quesito.

“Importante esclarecer que, ao contrário do controle do pagamento dos colaboradores de nossos fornecedores, nos outros casos, a Suzano não tem obrigação legal nem tem como controlar, acompanhar as negociações comerciais ou concessão de créditos para tais empresas prestadoras de serviço, bem como fiscalizar, participar de negociações comerciais ou se responsabilizar por pagamentos”, complementou a multinacional.

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