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ÁREAS ALAGADAS

Polícia faz 4ª ofensiva em 1 ano contra o tráfico a partir do Pantanal

Delegado da PF disse que essa rota tem se intensificado à medida que quadrilhas buscam evitar fiscalização policial

29 AGO 2024 • POR Daiany Albuquerque • 09h00
Polícia Federal cumpriu 11 mandados de busca e apreensão em MS   Foto: Divulgação/pf

A Polícia Federal (PF) fez ontem uma operação que mirou quadrilha que utilizava região inóspita do Pantanal de Mato Grosso do Sul para o tráfico de cocaína.

Essa é a quarta ofensiva, pelo menos, entre Polícia Civil e Federal, em pouco mais de um ano contra criminosos que utilizavam o bioma para a prática do crime.

Na ação de ontem, o grupo criminoso fazia uso de duas fazendas localizadas em áreas alagadiças e de difícil trânsito do Pantanal sul-mato-grossense para o depósito da droga. De lá, a cocaína era levada outros municípios de MS e também para outros estados brasileiros.

De acordo com a PF, essa prática de rotas alternativas e mais “complicadas” tem sido cada vez mais utilizada como uma forma de fugir da fiscalização que ocorre nas rodovias.

“Tem sido verificado que os criminosos têm se utilizado cada vez mais de rotas incomuns para a prática do crime de tráfico de drogas, visando evitar a fiscalização policial. Na região de Corumbá, os traficantes de drogas utilizam-se de rotas alternativas, especialmente àquelas que cortam o Pantanal. É o caso da organização criminosa investigada”, afirmou a PF ao Correio do Estado.

Na Operação Tractus, deflagrada ontem pela delegacia de Três Lagoas, as investigações começaram em fevereiro do ano passado, quando um homem foi preso em flagrante, no município de Água Clara, transportando cerca de 163 kg de cocaína em um fundo falso de um Ford F4000.

“No decorrer da investigação, foi apreendida aproximadamente uma tonelada de cocaína”, disse a PF, em nota.

A operação cumpriu dois mandados de prisão temporária e 11 mandados de busca e apreensão, além de capturar um foragido da Justiça. Outras duas pessoas foram presas por posse ilegal de arma de fogo.

Os policiais ainda conseguiram apreender: quase R$ 1 milhão (R$ 997.323,00) em espécie; 800 cabeças de gado (valor estimado de R$ 2 milhões); cinco armas de fogo, das quais duas eram de uso restrito e uma estava com a numeração suprimida (dois revólveres, duas pistolas e uma arma longa); uma embarcação; 11 celulares; e seis veículos (Land Rover, SW4, duas Hilux, Amarok e L200).

Além do que foi recuperado até o fim da tarde de ontem, a PF também tinha mandado para bloqueio de 13 contas bancárias, sequestro de seis imóveis (entre eles, duas fazendas) e de outros 19 veículos.

“A investigação aponta o envio das drogas da cidade de Corumbá para outras cidades do estado de Mato Grosso do Sul, bem como outros estados, como São Paulo e Minas Gerais. Acredita-se que a organização criminosa adquiria a droga em Corumbá, já internalizada no País, mas a origem dos entorpecentes provavelmente sejam países vizinhos produtores de cocaína, tais como Bolívia, Peru e Colômbia”, relatou a PF à reportagem.

O líder dessa organização criminosa era condenado por tráfico de drogas e era o proprietário das fazendas localizadas no Pantanal.

Segundo a PF, os membros do grupo já haviam sido presos em outras oportunidades por tráfico. Além disso, eles tinham ligação com facção criminosa que atua dentro e fora dos presídios.

“Constatou-se que alguns dos investigados possuíam vínculo com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital [PCC]”, declarou a PF.

OUTRAS OPERAÇÕES

Em junho do ano passado, a PF já havia mirado duas quadrilhas que atuavam com o tráfico de drogas a partir do Pantanal.

Conforme matéria do Correio do Estado, esses grupos criminosos aproveitavam o isolamento do Pantanal de Mato Grosso do Sul para fazer do local uma de suas bases, a fim de transportar a cocaína que seria consumida em grandes centros da Região Sudeste do País ou para traficar para a Europa via portos do Nordeste.

Para chegar às fazendas da planície alagável, pistas da região eram usadas como base para voos clandestinos vindos da Bolívia, que pousavam nas imediações de Coxim, no Pantanal do Paiaguás. 

Na região de Corumbá, a cocaína de origem boliviana entrava por via terrestre. Antes disso, porém, em meio de 2023, a Polícia Civil já investigava o uso do bioma no transporte de cocaína.

Reportagem do Correio do Estado mostrou que naquele ano, por conta das cheias no Pantanal, traficantes estavam utilizando rotas de navegação para conseguir transportar cocaína entre a região de fronteira do Brasil com a Bolívia com o norte de Mato Grosso do Sul, tendo como destino a BR-163. A rodovia é um dos principais pontos de acesso entre o Estado e a Região Norte do País.

As polícias civis de MS e Mato Grosso atuaram em conjunto para desbaratar esse esquema. As investigações da rota fluvial começaram logo após as chuvas passarem a inundar tributários do Rio Paraguai, bem como do Rio Taquari.

No início do ano passado, policiais passaram a monitorar traficantes que atuam tanto em Corumbá quanto em Coxim e identificaram que a droga saía da fronteira com a Bolívia por meio fluvial, e não terrestre.

A utilização de rios para fazer esse transporte permitiu que os traficantes conseguissem baratear o preço para distribuir a droga pelo Brasil e também encurtar distâncias.

A terceira operação foi deflagrada em julho do ano passado, pela Polícia Civil, em atuação conjunta com a Polícia Rodoviária Federal (PRF). 

A Operação Rota Pantaneira mirou organização que utilizava a mesma rota de um dos maiores traficantes de cocaína do Estado, o ex-major da Polícia Militar Sérgio Roberto de Carvalho, conhecido como Pablo Escobar brasileiro. 

A chamada rota pantaneira, que leva a droga da Bolívia por Corumbá, passando também por Rio Negro e Rio Verde de Mato Grosso, já era utilizada em novembro de 1997, quando a PF conseguiu apreender quase 250 kg de cocaína no interior da Fazenda Santa Therezinha, de propriedade de major Carvalho, no município de Rio Verde.

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