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Música clássica

Músico Matheus Coelho volta a Campo Grande

De passagem pela Capital para participar, como regente, do Festival Encontro com a Música Clássica 2024, o campo-grandense Matheus Coelho, que atualmente mora no Canadá, destaca a importância da Orquestra Sinfônica da cidade

29 AGO 2024 • POR Marcos Pierry • 10h00
"Orquestras como a Sinfônica de Campo Grande, que lotam teatros como o Glauce Rocha, são um sonho para qualquer cidade", afirma Matheus Coelho   Foto: Alfredo Alves

Fazia cinco anos que o músico Matheus Coelho não voltava a Campo Grande, sua terra natal. Morando no Canadá desde 2020, para onde foi com o objetivo de aperfeiçoar a sua formação, o artista de 29 anos faz hoje a sua estreia como regente na capital de Mato Grosso do Sul.

Ele estará à frente da Orquestra Sinfônica de Campo Grande, a qual apresenta hoje ao público do 17º Encontro com a Música Clássica algumas pérolas de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791).

A performance tem entrada franca – com ingressos via Sympla – e começa às 20h, no Teatro Glauce Rocha.
A “Ária da Rainha da Noite”, da ópera “A Flauta Mágica” (1791) – estreada em Viena dois meses antes da morte do compositor austríaco –, o “Concerto para Clarinete” (1791) e a “Sinfonia Concertante para Violino 
e Viola” estarão no repertório.

Os solistas nessa sinfonia de 1779 serão o paulista Gabriel Meca (violino) e Brenner Rozales (viola), amigo de longa data de Matheus, desde que os dois começaram a frequentar ainda meninos as aulas de música da Fundação Barbosa Rodrigues (FBR).

Além deles, Gleison Ferreira, Rafael Henrique, Bianca Danzi, Caio Fortunato, Elouise Miranda e dezenas de outros nomes que têm renovado o cenário da música de concerto de Mato Grosso do Sul – e do Brasil – são egressos da FBR.

Na entrevista a seguir, Matheus, que fez mestrado na Universidade de Manitoba (Canadá) e que desde 2022 cursa o doutorado em Regência na Universidade de Toronto, comenta os temas da noite de hoje, fala sobre a sua trajetória e sobre a emoção de voltar à Cidade Morena, destaca a interação da Orquestra Sinfônica de Campo Grande com a comunidade local e diz qual é o papel do maestro.

O que você destacaria no concerto de hoje?

Esse concerto é especial por trazer ao palco uma variedade de solistas que serão acompanhados pela Orquestra Sinfônica [de Campo Grande].

O programa apresenta gêneros musicais significativos do repertório clássico, como o concerto e a ária, com peças canônicas de Mozart.

Além das belíssimas melodias, nas quais Mozart foi um mestre, especialmente na ópera, o repertório da noite de hoje destaca o virtuosismo das vozes de Bianca Danzi e Elouise Miranda, que dividirão o papel da Rainha da Noite na ópera 

“A Flauta Mágica”. Os concertos instrumentais ficam a cargo do violinista Gabriel Meca, do violista Brenner Rozales e do clarinetista Eliéser Sant’Ana.

Há quanto tempo não se apresenta em Campo Grande?

A última vez que me apresentei em Campo Grande foi em 2019, também no Encontro com a Música Clássica. Aliás, a primeira vez que toquei com uma orquestra na vida foi em 2009, em uma edição desse mesmo festival.

Como se sente ao estar de volta à cidade?

É sempre muito emocionante voltar a Campo Grande. Eu realmente amo esta cidade. E a cada retorno, essa admiração só cresce. As pessoas, a cultura e a hospitalidade me fazem sentir acolhido sempre que venho, 
especialmente ao reencontrar familiares e amigos.

Fale um pouco sobre a sua formação musical e a sua trajetória.

Desde criança, tive uma inclinação para a música ao ver meus pais tocando violão e cantando música popular. Meu primeiro contato com a música instrumental foi na banda do Colégio Militar, em que fui apresentado ao clarinete.

Logo depois, fui acolhido pela Fundação Barbosa Rodrigues, na figura do maestro Eduardo Martinelli, que me introduziu à música clássica. A partir da fundação, veio a inspiração para seguir a carreira de regência, o que me levou a cursar Regência na Unicamp [Universidade Estadual de Campinas].

Em 2018, participei da minha primeira edição do Festival de Inverno de Campos de Jordão. No ano seguinte, me tornei aluno da Academia de Música da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), sob a orientação da maestra americana Marin Alsop.

Durante esse período, tive a oportunidade de aprender com grandes regentes internacionais, de me apresentar na Sala São Paulo e de participar do curso de Regência da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais.

Em 2020, iniciei o mestrado na Universidade de Manitoba, no Canadá. Atualmente, estou cursando o doutorado em Regência na Universidade de Toronto, também no Canadá.

O que de mais significativo tem aprendido no Canadá durante os estudos?

Acredito que o aspecto mais significativo que aprendi no Canadá foi perceber o quanto o Brasil produz música e músicos de alta qualidade, apesar das diversas dificuldades.

O que os músicos de outros países podem aprender com a tradição brasileira da música de concerto?
Acredito que podemos ensinar muito sobre a importância e a necessidade da interação entre orquestra e comunidade.

Orquestras como a Sinfônica de Campo Grande, que lotam teatros como o Glauce Rocha, são um sonho para qualquer cidade.

Além disso, a quantidade de artistas e de grupos musicais que participam de todas as edições do festival é impressionante. O repertório é sempre convidativo, desde o mais clássico, como concertos e sinfonias, até a nossa tradicional “Mercedita”.

Como você definiria o papel do regente?

Na minha opinião, o regente tem o papel de liderar, ensaiar e instigar os músicos a produzirem o melhor de si na execução musical.

Muitas pessoas me perguntam: “A orquestra consegue tocar sem regente?”. Eu digo que sim. No entanto, isso demandaria muito tempo de ensaio, o que pode ser muito custoso para qualquer grupo.

O regente é, de fato, um facilitador do processo de criação musical em conjunto. Com poucos ensaios, o maestro consegue montar o repertório de um concerto de forma eficaz.

Além disso, o regente traz consigo uma interpretação musical única para as obras de cada concerto.

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