O calor extremo e o tempo seco, com umidade do ar abaixo de 10%, vêm castigando os sul-mato-grossenses, que têm se 'virado como podem' para sobreviver neste inverno brasileiro. Segundo dados meteorológicos, a tendência para a próxima semana é de piorar, com possibilidade de umidade do ar variando entre 5% e 20%.
As informações são da meteorologista Valesca Fernandes do Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima (Cemtec), que divulgou os dados da próxima semana durante a live da Operação Pantanal, realizada semanalmente pelo governo do estado, para informar sobre as ações de combate aos incêndios florestais.
Segundo os dados, a umidade do ar deve variar entre 5% e 20%, abaixo do registrado nesta semana em cidades de Mato Grosso do Sul. Valesca informou ainda que o aumento da nebulosidade registrado em Campo Grande e em algumas cidades do estado é consequência de uma leve queda de temperatura, com probabilidade de chuva nas regiões sul, sudeste e sudoeste. As temperaturas máximas devem oscilar entre 27ºC e 35ºC até sexta-feira.
Porém, no sábado (7), as temperaturas voltam a subir, com baixa umidade, cenário que deve favorecer o aumento da ocorrência de incêndios florestais. Segundo o mapa da Lasa (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais) indica risco extremo de 4 a 9 de setembro.
“Na próxima semana, vamos passar por dias complicados com umidade do ar abaixo dos 7%, como vimos ontem em Cassilândia, Paranaíba e Três Lagoas. Nesses dias mesmo será até difícil o combate aéreo do fogo”, relatou.
Pantanal deve sofrer com o calor
Segundo o coordenador do PrevFogo/Ibama, Márcio Yule, até agora, o fogo consumiu 25,47 milhões de hectares no Pantanal, em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, o que representa 16,88% da área total do bioma.
De acordo com os dados apresentados por Yule, em 2020, quando o Pantanal enfrentou incêndios até maiores, o bioma em 2024 está enfrentando um dos seus maiores riscos, já que os incêndios já devastaram mais hectares em comparação a quatro anos atrás.
Neste ano de 2024, o fogo começou entre junho e julho, meses que normalmente são dedicados à contratação e preparação. No entanto, neste ano, os brigadistas começaram suas atividades mais cedo, enfrentando grandes incêndios em Corumbá e acionando equipes de reforço do Corpo de Bombeiros e da Marinha.
“O grande problema para esses dias é o comportamento do fogo que tem sido extremo. Se alguém acender fogo para queimar lixo ou renovação de pastagem, esse fogo vai fugir do controle”, relatou.
Yule ainda relatou que somente recursos é impossível controlar o fogo. Os trabalhos dos brigadistas que encerraram em 30 de junho, deverão ser prorrogados por tempo indeterminado.
Corumbá lidera ranking de incêndios no País
Segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Corumbá é a cidade mais afetada por incêndios no país, com 4.245 focos ativos de calor registrados somente neste ano. No Brasil são mais de 54 mil focos de calor registrados, conforme dados do Programa Queimadas do governo federal. Os números são relativos ao mês de agosto.
De acordo com o Inpe, a Amazônia concentra 42,7%, colocando a região com maiores frentes de fogo no país.
Combate ao fogo no Pantanal
Na última semana, o Supremo Tribunal Federal determinou o prazo de 15 dias para que o governo reforce o número de pessoas e equipamentos no combate ao fogo no Pantanal e na Amazônia.
Pela ordem, deve ser mobilizado “todo contingente tecnicamente cabível” de diversos órgãos, incluindo das Forças Armadas, da Polícia Federal (PF), da Polícia Rodoviária Federal (PRF), da Força Nacional, incluindo bombeiros militares que nela atuem, e da Fiscalização Ambiental.
“Os equipamentos e materiais necessários devem ser deslocados, ou requisitados, ou contratados emergencialmente”, escreveu Dino.
Pantanal deve enfrentar o setembro mais quente da história
O Pantanal sul-mato-grossense deve ser o mais afetado nos próximos dias pelas altas temperaturas, que podem superar as registradas em outubro do ano passado, quando a máxima chegou a 43,4 graus em Porto Murtinho, no dia 17 daquele mês.
Segundo informações da MetSul Meteorologia, a bolha de calor extremo deve estacionar no Centro-Oeste brasileiro nesta semana, registrando temperaturas excessivas em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bolívia e Paraguai, com marcas que podem atingir entre 40°C e 45°C, quebrando recordes e fazendo de setembro o mês mais quente já registrado na história do Brasil.
Calor extremo em outubro do ano passado
Em outubro do ano passado, conforme dados do Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de Mato Grosso do Sul (Cemtec), em 12 dos 44 municípios que aparecem no boletim relativo àquele mês registraram de 40 ou mais graus. Depois de Porto Murtinho, que registrou 43,4 graus, apareceu Corumbá, com 42,5 graus, também no dia 17.
A diferença é que naquela onda de calor a umidade do ar já estava mais alta que agora, o que fez elevar a sensação de calor. Agora, também conforme o Climatempo, a umidade tende a atingir níveis de emergência, ficando abaixo dos 12% em boa parte do Estado em determinados horários do dia.
E com a baixa umidade, a tendência é de que nos períodos noturnos o calor também seja um pouco menor que em outubro do ano passado, quando Campo Grande registrou sobrecarga no consumo de energia e milhares de moradores foram impactados com quedas de energia em decorrência do elevado uso de aparelhos de ar condicionado.
Para Campo Grande, conforme o Climatempo, a máxima prevista na atual onda de calor é de 40 graus, também nos dias 13 e 14 de setembro. Se a previsão se confirmar, vai superar a máxima de outubro do ano passado, quando a Capital chegou a marcar 39,4 graus, no dia 23.
RECORDES DE 2020
Mas, tanto o calorão de outubro do ano passado quanto o de agora ainda vão ficar abaixo daquilo que foi registrado em outubro de 2020, ano em que foram registrados os recordes no Estado. De acordo com dados do Cemtec, no dia 5 de outubro de 2020, na cidade de Água Clara, os termômetros chegaram a registrar 44,6 graus.
Em Corumbá, a máxima chegou a 43,4 graus e em Campo Grande, 41. Nos dez primeiros dias de outubro daquele ano as temperaturas ficaram acima dos 40 graus na maior parte do Estado. Dos 44 municípios monitorados pelo Cemtec, 23 superaram a barreira dos 40 graus.
Para efeito de comparação, a maior temperatura registrada oficialmente até hoje no Brasil foi de 44,8 graus, em Nova Maringá, Mato Grosso, em 4 e 5 de novembro de 2020. Aquela medição superou o recorde oficial anterior, registrado em 2005 na cidade de Bom Jesus, no Piauí, de 44,7°C.
No ano passado, o calor extremo foi atribuído ao fenômeno El Niño. Em 2020 e em 2024, porém, ele está ausente. Nestes casos, a explicação dos meteorologistas é a existência de grandes bloqueios atmosféricos que impedem a passagem de massas de ar frio para as regiões central e sudeste do País.
O que é bolha de calor?
A bolha de calor que é apelidada como "domo" (em Inglês é chamada de heat dome), ocorre com áreas de alta pressão que atuam como cúpulas de calor e que tem ar mais descendente. Ela funciona como ar no solo através da compressão aquece a coluna de ar.
Traduzindo da forma mais fácil, o vento quente que vem de cima, desce para o solo e ela acaba subindo para superfície ainda mais quente, formando a "bolha de ar", sendo criada uma panela em alta pressão, fazendo com que o calor permaneça por mais tempo.