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Qualidade do Ar

Fumaça e tempo seco são 'coquetel' para doenças respiratórias, diz especialista

Diante da seca severa e da fumaça que encobriu Campo Grande, o pneumologista alerta para que as pessoas com quadro respiratório crônico redobrem os cuidados

11 SET 2024 • POR Laura Brasil • 17h00
Céu de Campo Grande foi encoberto pela fumaça no dia 1º de setembro   Gerson Oliveira / Correio do Estado

Desde o início do mês, o céu de Campo Grande foi encoberto pela fumaça, ou pela chamada "névoa seca". Em combinação com altas temperaturas e baixa umidade do ar, isso resulta em uma verdadeira crise para quem sofre de doenças respiratórias.

A situação climática atípica, em decorrência das mudanças climáticas, levou a Capital a registrar sensação térmica de 43ºC e umidade relativa do ar de 10%, na terça-feira (10), em pleno inverno, que termina no dia 23 de setembro. 

Conforme explicou ao Correio do Estado o pneumologista Ronaldo Perches Queiroz, essas combinações contribuem para provocar piora no quadro de em quem sofre de problemas respiratórios.

“Estamos com uma umidade relativa do ar semelhante à de um deserto. Esse conjunto, além das queimadas, fumaça, fuligem e poluição, forma um coquetel muito poderoso para provocar problemas respiratórios. A condição de ar seco, poluição e baixa umidade promove o ressecamento das vias aéreas, desde as narinas até a laringe e os brônquios”, disse o pneumologista, e completou:

“Esse ressecamento causa maiores dificuldades para respirar; a qualidade do ar é ruim, então o paciente pode ter até falta de ar”.

Mas, afinal, o que estamos respirando?

Nesta quarta-feira (11), o ar da Capital sul-mato-grossense foi classificado como ruim, segundo o Monitoramento da Qualidade do Ar (QualiAr).

"Devido à mudança de direção do vento, nesses últimos dias todos, a qualidade do ar tem, por boa parte do tempo, permanecido ruim. Essa classificação do ar, ela é bastante prejudicial à saúde, juntamente com a baixa umidade. O que está fazendo a qualidade do ar ficar nessa condição são as fumaças provenientes das queimadas, essas queimadas são de diversas regiões, o Brasil inteiro está pegando fogo", explicou o professor e coordenador do Laboratório de Ciências Atmosféricas  Widinei Alves Fernandes.

Os valores que classificaram a situação como "ruim" na escala 80 da tabela seguem recomendações da Organização Mundial da Saúde.  A medição leva em conta os níveis poluentes que são:

Material particulado (MP10); Material particulado (MP2,5); Ozônio (O3); Monóxido de carbono (CO); Dióxido de nitrogênio (NO2); e Dióxido de enxofre (SO2); Consequências

Conforme o pneumologista, em cenários de seca severa ocorre o ressecamento das vias aéreas, causando pequenas lesões que facilitam a penetração de vírus e bactérias. “Podem se desenvolver quadros de infecções respiratórias, como sinusite, pneumonia e até infecções virais e bacterianas.

Grupo de Risco

Nessas condições, em que o ar está ruim, o médico pneumologista lança o alerta para quem sofre de problemas respiratórios crônicos (como asma ou bronquite), de redobrar a atenção nos cuidados a saúde. São especialmente vulneráveis crianças de até 1 ano e idosos.

“As crianças têm o sistema imunológico em formação, e os adultos já têm baixa imunidade naturalmente, então eles correm risco de desenvolver problemas respiratórios.”

Neste período, é importante que os pacientes entrem em contato com seus médicos de confiança para realizar a consulta de manutenção preventiva.

“Neste período do ano, em que as condições da qualidade do ambiente e da umidade do ar estão muito ruins, esses pacientes aumentam muito o risco de desenvolver crises, como rinite e asma, provocando, por exemplo, falta de ar e a necessidade de procurar atendimento médico. Portanto, quem tem asma e rinite precisa tomar mais cuidado e procurar seu pneumologista para reforçar e otimizar o tratamento de manutenção preventiva.”

Dicas de prevenção

Evitar exposição ao sol entre 9h e 16h:

O sol é muito quente nesse período. Se precisar sair, use boné, chapéu ou sombrinha. Evite fazer exercícios físicos ao sol nesses horários. Opte por sair de manhã cedo ou no final da tarde. Prefira locais com vegetação, como parques, que oferecem sombra e um ambiente mais fresco.

Usar roupas leves:

Vista roupas leves para crianças e idosos.

Manter-se bem hidratado:

Beba bastante água para se manter hidratado. Recomenda-se consumir 40 ml de água por quilo de peso corporal por dia. Exemplo: uma pessoa de 60 quilos deve beber pelo menos 2 litros e 400 ml de água diariamente.

Irrigar as narinas:

Lave as narinas várias vezes ao dia com soro fisiológico. Isso ajuda a evitar o ressecamento das vias aéreas e previne fissuras que facilitam a penetração de vírus e bactérias.

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