Ousado como nunca, porque sempre preferiu a prudência, Dorival Júnior saiu do arroz com feijão de suas declarações e partiu para ousado vatapá, carregado de dendê e pimenta.
Não revelou a receita, apenas garantiu que quando o prato sair do fogo o Brasil estará na final da Copa do Mundo de 2026, a ser disputada em Nova York, no dia 19 de julho.
Louvemos a convicção do treinador, talvez mais voltada para convencer o presidente da CBF do que a si mesmo, porque, definitivamente, o torcedor brasileiro desacredita 100% da possibilidade.
A descrença ganhou força formidável depois da pífia vitória sobre o Equador, em Curitiba, e, principalmente, da derrota pelo mesmo 1 a 0, para o Paraguai.
Menos até pelo segundo tempo no apinhado e atrevido Defensores del Chaco, em Assunção, que até olé inventou diante do inseguro time das outrora gloriosas camisas amarelas. Mais pela atuação abaixo da crítica dos primeiros 45 minutos, quando a invencibilidade de Dorival caiu miseravelmente e ele mostrou-se tímido, para ser educado, ao voltar com Vinicius Júnior em nova noite infeliz.
É compreensível a manutenção em campo do jogador mais badalado e decisivo da seleção?
É. Desde que não fosse a repetição de más apresentações.
A culpa é de Vini?
Não. E Carlo Ancelotti sabe o porquê.
Aliás, Dorival está certo ao apostar nas crenças do baiano Ednaldo Rodrigues; afinal, o cartola apostou que o italiano trocaria o Real Madrid pela seleção.
Convenhamos, quem acreditou na patacoada haverá de acreditar em Papai Noel, Saci-Pererê e na seleção na final da Copa.
A seleção chegou ao Paraguai em insatisfatório quarto lugar nas Eliminatórias e de lá voltou em vexatório quinto, embora estivesse em aterrorizante sexto lugar antes das duas datas Fifa.
De 24 pontos disputados, a seleção ganhou apenas dez e perdeu quatro dos últimos cinco jogos, números suficientemente eloquentes para demonstrar a mediocridade do trabalho que resulta em mais derrotas, quatro, que vitórias, três, e um empate, em casa, e contra a Venezuela.
Sim, a Venezuela não é mais a galinha morta de outros tempos e deixar de constatar o progresso dos adversários é erro grosseiro.
Pior mesmo só bancar o avestruz em relação a nós mesmos, longe de termos virado aves falecidas, embora distantes também dos tempos de leões.
Temos vivido de imaginar como seria diferente se Pedro pudesse jogar ou se Endrick fosse titular ou se Estêvão estivesse em campo, ou se
Ora, Pedro está fora e ponto.
Endrick foi titular no Paraguai e pouco.
Estêvão esteve no jogo só para que ninguém dissesse ser absurda sua ausência.
Entre mortos e feridos, salvaram-se Luiz Henrique, André e João Pedro, e olhe lá.
A situação é tão horripilante que entre as ausências imaginadas como capazes de transformar arroz e feijão em vatapá está, é claro, a de Neymar, cujo futebol perdeu-se em Paris faz tempo e hiberna ainda há mais tempo em festiva recuperação na cidade de Riad, na Arábia Saudita.
Parece que só em outubro estará de volta a seu clube, o que o impedirá de estar nos jogos contra o Chile, em Santiago, e contra o Peru, em Brasília, nos dias 10 e 15 de outubro, exatamente os dois últimos colocados.
Dá para fazer seis pontos. E para sonhar com a final?