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Cotolengo denuncia que pacientes sofrem rejeição de motoristas de aplicativo

Muitos prestadores do serviço se recusam a transportar pessoas com deficiência, principalmente aquelas que usam cadeira de rodas, e outros não entram no local para o embarque/desembarque no ponto solicitado

12 SET 2024 • POR Alanis Netto • 11h15
Motoristas recusam pacientes ou não aceitam entrar no local para deixá-los/buscá-los no local correto   Marcelo Victor/Correio do Estado

O Cotolengo Sul-mato-grossense realizou na manhã desta quinta-feira (12) uma ação para demonstrar gratidão aos motoristas de aplicativo que fazem o transporte dos pacientes da instituição, que atende mais de 650 pessoas com deficiência.

Funcionários do Cotolengo entregaram frutas e água para os motoristas de aplicativo que fizeram o transporte correto dos pacientes. Foto: Marcelo Victor/Correio do Estado

A ação, que oferece frutas e água aos condutores, chama a atenção para uma realidade dura: muitos motoristas rejeitam os clientes com destino ao Cotolengo, por não quererem transportar pessoas com deficiência e para não precisarem se adequar às possíveis necessidades do cliente.

O Cotolengo possui um espaço amplo, com diversos blocos - onde são realizados atendimentos variados -, e estacionamento. O espaço possui acesso asfaltado, mas muitos motoristas se recusam a entrar com o veículo para buscar o cliente.

"Quando os nossos pacientes buscam o transporte de aplicativo, os motoristas não entram aqui, muitas vezes cancelam a corrida ou ficam ali fora. Então, eles têm que sair para poder pedir um Uber. Hoje mesmo, já vi dois motoristas deixando de entrar aqui dentro. A gente partiu desse contexto para fazer esse dia de conscientização, falar com os motoristas, agradecer aos que entrarem, para dar essa continuidade no atendimento aos nossos pacientes", explicou a assistente social Patrícia de Oliveira.

José Celso Rocha, coordenador do Centro Especializado em Reabilitação da instituição, acredita que muitos dos condutores não entram no Cotolengo porque não sabem que podem entrar no local para buscar os pacientes. Mas, em alguns casos, o motorista apenas se recusa a prestar o serviço com qualidade.

Rocha comentou um caso recente, de uma paciente que usava muletas e teve que se deslocar do prédio do CER até a área externa do Cotolengo, justamente porque o motorista não quis entrar. O trajeto, feito por uma pessoa com plenas condições motoras, leva mais de cinco minutos para ser concluído. Nas condições climáticas atuais, com a umidade relativa do ar baixa e as altas temperaturas, o trajeto se torna ainda mais desconfortável.

A recusa de viagens é ainda maior para pacientes cadeirantes, que precisam transportar a cadeira de rodas.

"Muitos usam cadeira de roda, muleta, e os motoristas acham ruim, porque tem que entrar no carro deles com uma cadeira de roda, com uma muleta... Mas principalmente a cadeira de rodas. Tem que descer, fechar a cadeira, colocar no porta-malas. Em alguns carros o porta-malas é pequeno e outros, mesmo sendo um porta-malas grande, não gostam", disse José.

Por mais que a grande maioria dos pacientes compareçam ao Cotolengo com acompanhantes, os motoristas de aplicativo alegam que a logística atrapalha e atrasa o trabalho deles.

"Isso é o que eles dizem, né? Que atrasa e eles têm outras viagens para fazer. Então preferem não pegar a viagem", concluiu Rocha.

Clarice Maria Conso de Oliveira, mãe de Daiane, que usa cadeira de rodas, contou que já teve experiências muito ruins tentando o transporte por aplicativo com a filha.

Clarice Maria Conso de Oliveira, mãe de paciente do Cotolengo. Foto: Marcelo Victor/Correio do Estado.  

"Já encontrei muitas dificuldades, já teve motorista que me humilhou, que humilhou minha filha. Tem muito cancelamento [de viagem por parte do motorista], principalmente quando a gente coloca na mensagem que precisa levar cadeira de rodas. Então, principalmente nessa situação, quando você coloca que tem cadeira, a maioria cancela. Eu já tive motorista que falou que não ia carregar 'esses troços' no carro, que não tinha pagado R$ 70 mil no carro para carregar esses 'troços', enfim, muita coisa", relatou.

Apesar das dificuldades, Clarice prefere focar nos bons profissionais que encontra pelo aplicativo.

"Graças a Deus, essas pessoas ruins são uma minoria, a maioria é do bem. Alguns me ajudam muito na cadeira de rodas, outros não gostam, mas carregam", acrescentou.

Cotolengo

Cotolengo Sul-Mato-Grossense é uma sociedade civil com personalidade jurídica de caráter exclusivamente beneficente, cultural, educacional e assistencial.

Em Campo Grande, o Cotolengo chegou em 1996, com a missão de acolher e atender crianças, jovens e adultos com paralisia cerebral grave e/ou com múltiplas deficiências intelectuais e físicas, independente de raça, sexo, religião, bem como seus familiares, visando sua reabilitação e inclusão social.

Atualmente a instituição atende em média 650 pessoas com deficiência, através de três projetos:

CENTRO DIA, atende pessoas com a incidência de encefalopatia crônica não progressiva (Paralisia Cerebral Grave); RESIDÊNCIA INCLUSIVA, atende pessoas, com deficiência (entre 18 a 59 anos), em situação de dependência, residindo estes na Instituição Cotolengo; CENTRO ESPECIALIZADO EM REABILITAÇÃO - CER Il, atende mensalmente pessoas com deficiência (sequelas neurológicas, deficientes físicos e intelectual) através de atendimentos clínicos com equipe multidisciplinar.

Saiba: A origem do nome "Cotolengo" remonta ao ano de 1830, quando o padre José Benedito Cotolengo fundou "La Piccola Casa" (A Pequena Casa), uma instituição para pobres doentes em Turim, na Itália. A obra multiplicou-se pelas mãos de São Luís Orione, fundador da Pequena Obra da Divina Providência, sendo levada para mais de 30 países, dentre os quais o Brasil.

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