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ARTIGO

Tempos de espera e da ciência

O caos está instaurado e a sensação de "fim dos tempos" está cada vez mais presente, ainda mais levando em consideração que a escassez de chuvas deve se estender por mais algumas semanas

14 SET 2024 • POR Da Redação • 07h30
Tempos de espera e da ciência   Arquivo

Faz semanas que Campo Grande e boa parte de MS estão literalmente tomados pela fumaça procedente de queimadas daqui e de outros estados. Nesta sexta-feira, porém, a situação parecia estar bem pior que em dias anteriores. Monitoramento da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) comprovou aquilo que a visão empírica constatava: foi o dia em que a cidade amanheceu com a pior qualidade do ar do ano. 

Apontar culpados para esta situação assustadora seria algo simplista, pois nenhum cidadão comum coloca fogo para limpar um terreno, assim como nenhum proprietário de alguma grande fazenda pantaneira incendeia a pastagem por maldade ou falta de senso comunitário. Nem as autoridades deixaram de mobilizar um efetivo maior para combater os incêndios porque são omissas ou irresponsáveis deliberadamente. Várias delas até começaram a se vangloriar ainda antes do período de estiagem por conta daquilo que consideravam atuação mais efetiva que em qualquer dos anos anteriores. 

Mesmo assim, o caos está instaurado e a sensação de “fim dos tempos” está cada vez mais presente, ainda mais levando em consideração que a escassez de chuvas deve se estender por mais algumas semanas. Com isso, o que tanto o cidadão comum quanto os proprietários rurais e os governantes precisam entender é que os tempos são outros e aquilo que era normal há alguns anos já não é mais admissível. E esta convicção de que os tempos mudaram ou de que as mudanças climáticas são muito mais do que um discurso alarmista só será possível a partir da hora em que a ciência recuperar o status que realmente merece.

Enquanto houver uma infinidade de falsos profetas fundamentalistas interessados em vantagens imediatistas, tanto políticas quanto financeiras, a ciência será cada vez mais relegada a segundo plano e dificilmente haverá crença de que a situação está realmente grave e de que a coletividade precisa passar por mudanças radicais. 

Pelo contrário, o negaciosismo, boa parte dele alimentado pela religiosidade simplista e exploradora da ignorância, tende a ganhar impulso com um ambiente climático cada vez mais preocupante, uma vez que se abastece justamente do medo e da crença de que tudo depende dos desígnios superiores. Sendo assim, a salvação, tanto pessoal quanto a do planeta, não depende do comportamento humano, mas de uma intervenção do além. 

Só de pensar que, mesmo depois de toda a evolução tecnológica que o mundo alcançou, o negacionismo poderia dominar boa parte da humanidade, é algo assustador. Tão assustador quanto as próprias ameaças climáticas. Isso não significa que essas mudanças sejam resultado do negacionismo, mas as possibilidades de saída desta situação estão nas soluções apontadas pela ciência, na redefinição de certos comportamentos e na preservação do restante de natureza que ainda existe.