Testemunha de defesa de Marcelo Rios, um dos réus do assassinato de Marcel Hernandes Colombo, Eliane Banites Batalho dos Santos prestou depoimento no começo do segundo dia de julgamento e em pelo menos cinco oportunidade afirmou que só fez determinadas delações em maio de 2019 porque os policiais ameaçavam arrancar sua cabeça, a cabeça de Marcelo Rios e até dos filhos, então com 5 e 7 anos, que ficaram com com ela no Garras durante cinco dias.
O principal alvo das acusações de Eliane foi o delegado Fábio Peró, que à época comandou as investigações da Operação Omertà. Ao contrário de outros delegados, Peró não prestou depoimento nem no julgamento de julho do ano passado nem no júri que está acontecendo nesta semana no fórum de Campo Grande.
Ao final do depoimento chegou a chorar, mas durante a maior parte da oitiva, que se estendeu por cerca de uma hora, mostrou-se irritada com o tratamento que diz ter recebido e fez questão de afirmar que fora enganada pelos policiais que a levaram para a delegacia sob a alegação de que estariam protegendo a vida dela e dos filhos.
Eliane e os filhos permaneceram durante cinco dias no Garras, entre 22 e 27 de maio de 2019, logo depois da prisão de Marcelo Rios em decorrência da descoberta de um arsenal de armas em uma casa de Jamil Name Filho no bairro Monte Líbano, em Campo Grande.
Em decorrência desta descoberta, os policiais alegaram ter descoberto que havia um plano para matar Eliane e as crianças para impedir que Marcelo Rios revelasse de quem era aquele arsenal, embora tivesse sido encontrado em uma casa de Jamil Name Filho. Até hoje Marcelo Rios diz que o arsenal pertencia a ele.
E, no período em que permaneceu no Garras, ela gravou um depoimento, na presença de três promotores, delegados e investigadores, revelando detalhes que agora são usados para tentar incriminar tanto o ex-marido quanto o próprio Jamil Name Filho.
A defesa, porém, alega que esta gravação é ilegal e que foi fruto das ameaças que ela sofreu ao longo dos dias em que ficou na sede do Garras. A mesma estratégia já havia sido utilizada no julgamento relativo à morte do estudante de Direito Matheus Xavier, em julho do ano passado. Mesmo assim, tanto Jamil Name quanto Marcelo Rios foram condenados pelo tribunal do júri a mais de 23 anos de prisão.
Por ter vínculos familiares com um dos envolvidos, Eliane não foi obrigada a falar a verdade, conforme deixou claro o juiz Aloísio Pereira, que conduz o julgamento iniciado nesta segunda-feira (16) e que está previsto para acabar na quinta-feira. Porém, como várias testemunhas foram dispensadas já no primeiro dia, existe possibilidade de que acabe já nesta quarta-feira.
Em uma parte do depoimento que gravou à época, Eliane disse ter percebido que o marido recebeu uma ligação telefônica na madrugada do dia 18 de outubro de 2018 e que foi ao banheiro para atender. Nesta ligação ela ouviu ele dizendo que “está feito”.
Para a polícia, essa ligação que ele recebeu seria do pistoleiro informando que havia assassinado Marcel Colombo. Marcelo Rios foi a pessoa que contratou este pistoleiro, segundo a polícia. A encomenda e o pagamento (R$ 50 mil), por sua vez, teriam sido feitos por Jamil Name Filho.
No depoimento desta terça-feira, ela alegou que aquele telefonema que Marcelo atendeu na madruga em que ocorreu o assassinato foi de uma amante que Marcelo tinha à época. A expressão “está feito”, alegou agora Eliane, foi sobre levar um familiar a um hospital.
Para o Ministério Público e a polícia, Eliane mudou seus depoimentos porque teria recebido dinheiro da Família Name. No processo, inclusive, estão anexados três recibos assinados por Eliane comprovando que ela havia recebido R$ 15 mil da família Name.
No depoimento desta terça-feira, ela alegou que seria dinheiro relativo a verbas rescisórias às quais seu marido fazia juz, já que ele trabalhara durante alguns anos para a família Name e agora, já que havia sido preso com as armas, seria dispensado de suas atividades.
ENCONTRO COM A FAMÍLIA
Ao final do depoimento de Eliane o juiz Aloísio Pereira anunciou um intervalo no julgamento e no retorno o réu Marcelo Rios foi liberado momentaneamente do julgamento para se encontrar com os filhos e com a própria Eliane.
Marcelo Rios está desde 2020 no presídio federal de Mossoró e a última vez que esteve em Campo Grande foi em julho do ano passado, durante o júri de Matheus Xavier. “Autorizei o Marcelo a ficar com os filhos e a mulher, ou ex-mulher, por alguns momentos. Trata-se de uma questão de direitos humanos. Deixa ele aproveitar esse momento, já que a testemunha que será ouvida agora não tem relação com ele”, afirmou ou juiz ao explicar a ausência do réu, que saiu chorando da sala do júri.