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Saúde Bucal

Como vão seus dentes?

Saiba mais sobre alguns hábitos e crenças que prejudicam os dentes e conheça dicas sobre a melhor forma de cuidar desses importantes aliados do organismo, fundamentais para a mastigação, a digestão e o bem-estar

18 SET 2024 • POR Mariana Piell • 10h00
  Pixabay

O cuidado com a saúde bucal, tão fundamental para a manutenção da saúde como um todo, requer atenção e conscientização da população. Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o assunto apontam que mais de 34 milhões de brasileiros acima de 18 anos perderam mais de 13 dentes por falta de acompanhamento odontológico e de cuidados básicos.

Conforme Sumatra Melo da Costa Pereira Jales, cirurgiã-dentista habilitada em odontologia hospitalar e coordenadora de equipe em uma rede de hospitais em São Paulo, quando o cuidado com os dentes é ignorado, pode haver proliferação de fungos e de bactérias, que causam sérias doenças à boca e aos demais órgãos e constituem fatores de risco para doenças como aterosclerose, arritmias, acidente vascular cerebral (AVC) e infarto do miocárdio.

“A cárie e a doença periodontal são focos de infecção bucal e podem, por meio da circulação sanguínea, afetar órgãos como o coração e o cérebro, podendo levar à endocardite infecciosa e ao abscesso cerebral, que constituem condições graves de saúde”, detalha.

Além disso, inúmeras crenças em relação aos hábitos de higiene bucal podem atrapalhar o processo, tornando a conscientização sobre os cuidados com os dentes tão importante quanto o acesso ao cirurgião-dentista. Segundo o mesmo levantamento do IBGE, menos da metade dos brasileiros realiza consultas periódicas.

A cirurgiã-dentista explica que muitos mitos em relação aos cuidados com os dentes precisam ser combatidos, a fim de minimizar seus danos de maneira ampla. Abaixo, a dra. Sumatra lista os principais hábitos ou crenças que prejudicam a saúde bucal.

GENGIVA SANGRANDO?

A gengiva sangra porque está inflamada e, muitas vezes, pela falta de higiene oral adequada. Portanto, deve-se manter a escovação, a fim de controlar a inflamação e parar o sangramento.

DENTES BRANCOS?

A dentição decídua, aquela formada por dentes de leite, é branca, por isso recebe esse nome. Já a dentição permanente é mais amarelada, por conta da espessura maior da dentina. Portanto, a coloração dos dentes não está associada à falta de higiene oral.

ESCOVAR COM FORÇA?

Os dentes devem ser escovados com uma escova de cerdas macias e de forma delicada. “Caso contrário, pode ocorrer retração gengival, que expõe a dentina, uma parte sensível do dente, levando a um quadro de sensibilidade dentinária”, diz a médica.

SEM DENTADURA?

Durante o sono, ocorre uma redução da produção de saliva, que protege dentes e mucosas contra infecções. A permanência das próteses favorece a ocorrência de candidíase oral (estomatite protética) no céu da boca, infecção mais conhecida como sapinho, portanto o correto é removê-las.

MAIS CREME DENTAL?

O que importa é a qualidade da higiene oral, e não a quantidade do creme dental. O ideal é utilizar a quantidade de creme dental do tamanho de um grão de ervilha.

E OS ANTIBIÓTICOS?

Apenas os medicamentos à base de tetraciclina causam efeitos colaterais que danificam os dentes. Todos os outros antibióticos, desde que prescritos adequadamente, não representam riscos à saúde bucal. “A tetraciclina danifica o esmalte dentário e altera a cor dos dentes, tornando-os acinzentados”, afirma a especialista, destacando que esses efeitos colaterais representam risco apenas enquanto o dente está em formação.

QUANDO ESCOVAR?

É fundamental a escovação dos dentes após cada refeição principal, não sendo necessário mais do que isso para garantir a saúde bucal. “O importante é a qualidade da higiene, já que para uma higiene oral adequada deve-se utilizar creme dental, escova de dentes e fio dental. Esse trio promove uma higiene bucal adequada por meio da remoção química e mecânica do biofilme dental”, completa a dra. Sumatra.

A cárie, o flúor e a IA

As cáries surgem a partir de bactérias que se alimentam dos restos de alimento depositados nos dentes. Esses microrganismos formam placas e produzem um ácido que, aos poucos, vai corroendo os minerais que formam o dente, até formar um buraco. 

Elas são consideradas uma doença crônica não transmissível, e, em 2015, o gasto com seu tratamento em todo o mundo foi de 245 bilhões de dólares, segundo estudo da universidade britânica Kings College London.

Segundo o Ministério da Saúde, 50% das crianças de zero a cinco anos têm cárie no Brasil. Um dos motivos é a falta de orientação sobre como se alimentar corretamente e como escovar os dentes. 

A cárie é comum entre as crianças por causa do consumo de produtos industrializados e porque, muitas vezes, os pais também acabam deixando de lado a escovação. 

Ainda que na escola exista orientação para os professores, as crianças passam a maior parte do tempo em casa, daí a importância de esclarecer os pais e responsáveis.

FLÚOR

O flúor é um mineral poderoso na prevenção da cárie. A dentista Gabriela Couto explica que ele promove a remineralização do dente, ou seja, consegue pegar o cálcio da saliva e devolver para os dentes. O mecanismo impede a bactéria, que normalmente habita a boca, de fazer os temidos “buraquinhos”.

Segundo a especialista, a concentração do produto em consultórios odontológicos é “muito maior” do que em soluções caseiras. No entanto, a maioria das pastas de dente disponibilizadas no mercado também conta com o mineral, em menor escala. 

No Brasil, uma lei aprovada em 1974 obriga qualquer estação de tratamento de água a ajustar a concentração do fluoreto, para que seja capaz de auxiliar na prevenção de alguns casos de cárie. 

O produto é colocado na etapa final do tratamento, quando a água já está filtrada.

IA

Em quase 150 anos, os tratamentos e a qualidade dos serviços oferecidos pela odontologia evoluíram muito e já contam com inteligência artificial (IA), que, inclusive, é capaz de guiar cirurgias bucais. Além disso, já existe um equipamento que trata a cárie com laser. 

O desafio, porém, é ampliar o acesso à tecnologia: ainda há poucas máquinas como essa disponíveis no Brasil. 

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