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Capa B+: Entrevista exclusiva com a atriz Liane Maya, destaque em "Hairspray" e em série do Disney+

"Adoro o audiovisual, mas fazer uma série musical da Disney foi muito estimulante".

22 SET 2024 • POR Flavia Viana • 22h00
Capa B+: Entrevista exclusiva com a atriz Liane Maya, destaque em "Hairspray" e em série do Disney+   Foto: Cesar Campos

Liane Maya, renomada atriz, cantora, bailarina, coreógrafa e diretora, é uma figura emblemática no teatro musical brasileiro. Formada em teatro pelo O Tablado, em canto pelo Conservatório Nacional de Música do Rio de Janeiro e em Canto Lírico pela Escola de Música Villa-Lobos, Liane também possui formação em Ballet Moderno pelo Centro de Artes Nós da Dança e em Jazz e Yoga (Alongamento e Tao da Voz) em Nova York. Em Ballet Clássico, estudou com diversas professoras renomadas, completando assim um currículo de formação extremamente diversificado.

Com uma carreira que inclui mais de 25 espetáculos como atriz e cantora, Liane brilhou em produções como “As Damas de Paus”, “Crazy For You” e  “Além do Ar - Um Musical Inspirado em Santos Dumont”, que lhe renderam indicações de Melhor Atriz e Atriz Coadjuvante no Prêmio Bibi Ferreira, entre outros musicais como “Aí Vem o Dilúvio”, “Splish, Splash”, “A Família Addams”, “Cabaret”, “Noviças Rebeldes”, “Gypsy”, e, mais recentemente, “Tarsila, a Brasileira”, dando vida a Olívia Guedes Penteado. Agora, ela se prepara para um novo desafio: viver Velma Von Tussle no musical “Hairspray”, prometendo mais uma vez cativar o público com sua versatilidade e talento.

Em paralelo, a artista se prepara para apresentar ao público uma outra personagem, Dona Zefa, uma mineira apaixonada por Ópera que estará na série musical “Uma Garota Comum”, projeto com o selo Disney+ Original Productions, exclusivo da plataforma, e previsto para ser lançado ainda este ano. Estrelado pela atriz, cantora e compositora colombiana Juliana Velásquez, a trama gira em torno da estrela pop latina Alana, que, cansada de não ter o controle sobre a própria vida, foge para uma pequena cidade no interior do Brasil, onde vive seu pai, e lá desfruta do anonimato que a transforma em Drica, uma garota comum.

Liane celebra este como seu grande retorna às telas após deixar sua marca em programas icônicos como “Planeta dos Homens”, “Viva o Gordo”, “Humor Livre”, “Chico Anysio Show”, “Partido Alto” e “Escolinha do Professor Raimundo” - onde pôde ser vista como Dona Clarinha. E para além da cômica atriz, ela explorou uma outra vertente artística nas telas, a de coreógrafa, assumindo à frente em programas como “Gente Inocente” e “Bambuluá”. A função também foi exercida nos palcos, em peças como “Village Station”, “Adoráveis Criaturas” e “Primo Basílio”.

Após temporada no teatro com Hairspray, Liane Maya retornará às telas com série em streaming - Divulgação/José de Holanda

E como a atuação e música sempre caminharam juntas na vida da artista, Liane é lembrada há mais de 25 anos por sua participação na segunda formação do grupo musical “As Frenéticas”, em 1998, uma parceria que durou oito anos e resultou na gravação de um CD e um DVD, além de uma turnê nacional de shows.

Tempos depois, a artista retornou ao estúdio para gravar seu disco solo, “Sou Rio”, com a Banda SoulRio, trazendo músicas de Cassiano, Claudio Zolli e Paulo Zdan, produzido por Rafael Prista.

Com tanta experiência e conhecimento acumulados, Liane sempre buscou encontrar tempo para compartilhá-los com novas gerações de artistas; foi professora da Academia Dalal Achcar, do Petit Studio, da Casa das Artes de Laranjeiras (CAL) - onde chegou a dirigir o humorista Paulo Gustavo, em uma montagem do musical “Cazas de Cazuza”, e de outras instituições.

O resultado de sua trajetória, de mais de 40 anos na carreira artística e 30 anos como educadora, resultando em um currículo vasto polivalente, foi marcado recentemente pelo reconhecimento da Academia Abrasci de Ciências, Artes, História e Literatura, onde atualmente ocupa a cadeira de número 83, assumida anteriormente por Marília Pêra.

Liane é Capa do Correiro B+ desta semana, e em entrevista exclusiva para o Caderno ela fala de carreira, experiências, o musical "Hairspray" em cartaz no RJ e também do novo projeto na Disney.

A atriz Liane Maya é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Cesar Campos - Diagramação: Denis Felipe e Denise Neves 

CE - Início de Carreira: Como você começou sua trajetória artística? Houve algum momento específico em que decidiu que seguiria a carreira de atriz e cantora?
LM - Eu comecei comecei a dançar  ballet classico bem cedo com 4 anos, aos 12 iniciei o jazz e o canto coral no IBAM.Entrei para a Escola de Teatro Tablado do Rio e aos 15 já estava estreando profissionalmente o musical Maroquinha Fru-Fru com Direção de Wolf Maya.Na minha formação a dança, o canto e a interpretação sempre caminharam juntas.

CE - Formação: Quais foram as principais influências e formações que moldaram sua carreira como atriz, cantora e coreógrafa? Você teve algum mentor ou escola que foi decisiva nesse processo?
LM - Tive o privilégio de ter grandes mestres da dança no decorrer da minha trajetória: klaus Vianna,Tatiana Leskova ,  Eugênia Feodorova,Vilma Vernon. Regina Sauer e Lennie Dale.Mas a minha maior referência sempre foi minha irmã mais velha que era bailarina clássica do Teatro Municipal do Rio. Rosane Maya além de bailarina era maitre de Ballet, tinha um enorme conhecimento do corpo e desenvolveu métodos e técnicas de alongamento enquanto morou na Europa e mais tarde trouxe para o Brasil. 

Além da dança o canto lírico sempre foi uma paixão e comecei a às aulas com orientação dos mestres:Fernanda Giannetti, Nonelli Basbatefano,José Spinto e Nadja Daltro e mais tarde sendo dirigida pelos Diretores de musicais  que tive a honra de trabalhar: Claudio Botelho, Marconi Araújo Thiago Gimenes,Thiago Rodrigues,Gui Terra e agora Rafael Villar. Aprendi muito com grandes diretores do palco, entre eles: Flávio Rangel, Italo Rossi, Wolf Maya, Cininha de Paula e José Possi Neto.

A formação de um artista não é algo que se aprende rápido apenas com a técnica, existe um tempo do despertar e do amadurecer.Quando essa consciência chega no corpo,na voz e na interpretação a gente entende como esses mestres foram fundamentais para sua formação como artista.

CE - As Frenéticas: O que significou para você fazer parte de As Frenéticas, um grupo tão icônico na música brasileira? Como essa experiência influenciou o resto de sua carreira?
LM - Fiz parte da segunda formação das Frenéticas e isso foi incrível, pois já era fã de todas elas, viajamos muito e fizemos muitos shows nesses 8 anos de convívio! As Frenéticas representaram o movimento de empoderamento da mulher depois dos anos 70, na forma de se vestir, falar e cantar. 

Ser frenética é uma atitude, uma coragem,uma força e uma alegria de ser mulher, que ultrapassa qualquer padrão de comportamento ou beleza.Todas nós éramos cantrizes, assim como os Dzi Croquetes foram responsáveis pela mudança de comportamento daquela geração ,As Frenéticas até hoje são  a referência da mudança e da Renovação da mulher na sociedade.

Em As Damas de Paus - Divulgação

CE - Transição para os Musicais: Como foi a transição para o teatro musical? Quais foram os maiores desafios e recompensas da sua imersão neste gênero, que é tão completo artisticamente?
LM - Eu comecei no Teatro,sempre fui polivalente atuando em várias áreas simultaneamente. O Teatro Musical é o gênero que mais me encanta, porque posso unir o canto, a dança e a interpretação a serviço da construção de um personagem.O maior desafio do Teatro Musical e você se manter em forma, com saúde espiritual, mental e física.Somos atletas da emoção e o treinamento precisa ser diário!Os desafios ? 

Fazer personagens que não estejam na minha zona de conforto, gosto de pesquisar a psiquê humana e estudar seus comportamentos mentais e corporais.  A vovó Addams, a Glória de As Damas de Paus e agora a  vilã Velma Von Tussle foram os maiores desafios para mim no Teatro Musical.


CE - Escolinha do Professor Raimundo: Como foi sua experiência participando de programas humorísticos, alguns deles tão marcantes como a Escolinha do Professor Raimundo? O humor sempre foi uma vertente que te interessou artisticamente?
LM - Aos 17 anos, depois de fazer a protagonista do Musical O Rei de  Ramos de Dias Gomes, fui convidada para integrar o elenco de atrizes do programa Planeta dos Homens na Globo. Lá comecei a trabalhar com grandes comediantes do Teatro e da TV. Depois vieram os programas Viva o Gordo, Os Trapalhões , A turma do Didi e muitos programas do Chico Anysio até fazer a Escolinha do Professor Raimundo no papel de  Clara. 

Aprendi muito com esses gigantes da comédia, mas em especial com o gênio Chico Anysio que tinha a capacidade de se transformar a cada personagem. Essas experiências foram marcantes e com certeza foram fundamentais para a minha forma de atuar e o feeling do famoso tempo de comédia que todo ator busca na sua performance.

CE - Hairspray e Outros Musicais: Você tem atuado em grandes produções musicais como a atual, "Hairspray". Como se prepara, em tão pouco tempo, para viver personagens tão diferentes no palco? Há algum papel na carreira que tenha sido particularmente desafiador? Como têm sido a experiência de interpretar Velma Von Tussle, mesmo papel interpretado no cinema por Michelle Pfeiffer? Buscou referências em outras atrizes das telas e palcos?
LM - A preparação do ator de Musicais é um treinamento diário como de um atleta: voz , corpo, disciplina na alimentação, o estudo constante, a pesquisa  do texto e a concentração que o trabalho exige sao fundamentais para o resultado do artista no palco. Vim para São Paulo a convite da T4f para fazer a Vovó Addams e em seguida fiz a Eulália de Além do ar e e a Olívia Guedes Penteado de Tarsila a brasileira. Agora o grande desafio é encarnar a vilã Velma Von Tussle, uma mulher intolerante, preconceituosa, vaidosa e consumida pela ideia da beleza padrão, uma mulher cruel e má, tudo isso com tom de comédia e desenho animado dos anos 60.

Liane Maya contracenará com Juliana Velásquez, atriz colombiana - Divulgação/Disney+

CE - Desenvolvimento Criativo: Além de atuar e cantar, você também trabalhou como coreógrafa. Ainda atua nessa área? Qual a sua relação com a dança hoje em dia?
LM - Já dirigiu  e coreografei alguns musicais com a direção de Wolf Maya entre eles: Village Station, Eu te amo vc e Perfeita agora muda e Nunsense e na TV Globo coreografou o programa Gente Inocente é Bambuluá. Atualmente meu foco é a direção de Movimento para o ator de musicais onde ministro workshops e cursos  com o método que criei "O corpo e a voz na criação dos personagens" Acho que o corpo e a voz podem ser trabalhados simultaneamente na criacão dos personagens e na interpretação da cena.

CE - Recentemente, você está envolvida na série "Uma Garota Comum", do Disney+. Como foi a experiência de trabalhar em uma produção audiovisual,  para o público jovem, e o que podemos esperar da sua personagem, Dona Zefa?
LM - Adoro trabalhar no audiovisual,já fiz novelas ,séries,e muitos programas de humor, mas desta vez trabalhar numa série musical da Disney foi muito estimulante!A começar pelo set de filmagem e o convívio com os colegas da cena, atores latinos e brasileiros com  com enorme talento para dançar e cantar sendo dirigidos pelo coreógrafo Alonso Barros. 

Uma experiência muito rica para todos nós! A dona Zefa que interpreto é uma mineira divertida que gosta de dançar e cantar, é fã dos ídolos da música Pop e também  muito eclética porque ama cantar ópera! Numa grande comemoração ela vai cantar Carmen de Bizet! O público vai se divertir com Dona Zefa, essa divertida cantante e faladeira mineira!

CE - Retorno ao Rio de Janeiro: Depois de dois anos em São Paulo, você retornou ao Rio de Janeiro para novas produções. Como foi esse retorno e como ele se reflete na sua vida e carreira atualmente? Sentiu alguma diferença entre os públicos?
LM - Foi muita emoção retornar ao Rio, depois de dois anos em São Paulo, e  estreando no Teatro Riachuelo! O público carioca é sempre receptivo e caloroso e nos recebeu de braços abertos lotando o Teatro nesta curta temporada. Em São Paulo o público gosta  de Teatro e  cinema, existem fãs de Teatro musical que nos seguem, a cidade é fundamentalmente cultural e a diversidade de público é imensa. Eu amo esta cidade e me encontrei profissionalmente aqui.

Liane Maya - Divulgação

CE - Futuro da Carreira: Olhando para o futuro, quais são seus próximos objetivos e projetos? Há algum sonho ou desafio que ainda gostaria de realizar no teatro, na música ou na televisão?
LM - Tenho muitos planos e projetos para o futuro próximo, entre eles: o Show musical Rosa Shock com direção de Ciro Barcellos, o Cabaret Musical As mulheres da Guerra e o  musical Invisíveis Aliados de Victor Bertolini que já está captando recursos. No Teatro Musical tenho muita vontade de fazer Sunset Boulevard, 101 Dálmatas como Cruela entre outras vilãs que são o sonho para qualquer atriz.

CE - Imortais da Abrasci: Você recebeu uma nomeação especial pela Academia Abrasci de Ciências, História, Literatura e Arte, e ocupa atualmente a cadeira que foi de Marília Pêra. Qual a importância dessa conquista em sua vida e trajetória? 
LM - Recebi a nomeação da Academia Abrasci no início deste ano para ocupar a cadeira 83 que foi de Marília Pêra, que foi a maior referência e inspiração da minha geração de atrizes, cantoras e bailarinas.Para mim uma honra e grande responsabilidade, levar o legado desta grande artista brasileira que nos deixou trabalhos inspiradores no Teatro, na TV e no Cinema, mas muito mais do que isso  nos deixou exemplos de comprometimento e respeito ao ofício, na sua disciplina, dedicação, obstinação e paixão pela arte. 

Entendo que esta nomeação é um chamado para que eu desenvolva aqui em São Paulo a formação de atores de Musicais com foco neste comprometimento e legado artístico .Os grandes artistas precisam ser homenageados e não podem ser esquecidos das novas gerações!