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ARTIGOS

Desafios das emergências em tempos de crises climáticas

23 SET 2024 • POR Camila Lunardi Presidente da Associação Brasileira  de Medicina de Emergência (Abramede) • 07h45
Caminhos da vida   Arquivo

As queimadas que têm assolado o Pantanal brasileiro e outras regiões do País trouxeram à tona uma preocupação imediata com os impactos na saúde pública. A combinação entre altas temperaturas, tempo seco e a densa fumaça dessas queimadas cria um cenário perigoso e que afeta diretamente a saúde da população. A fumaça liberada pelos incêndios muitas vezes carrega uma mistura de substâncias tóxicas, como monóxido de carbono e partículas finas, que viajam por grandes distâncias e afetam inclusive a saúde daqueles que estão distantes dos focos de incêndio.

Ao atingirem os pulmões, podendo serem absorvidas pela corrente sanguínea, essas partículas podem desencadear uma série de reações que vão além dos problemas respiratórios, podendo agravar doenças cardiovasculares e aumentar o risco de complicações graves, como arritmias e infarto.

E é nesse contexto que o papel dos médicos emergencistas se destaca, pois estamos na linha de frente do atendimento aos pacientes que buscam os hospitais com sintomas graves, causados pela inalação de fumaça e outras complicações decorrentes das crises climáticas.

A exposição prolongada à fumaça não apenas agrava problemas respiratórios, mas também pode desencadear infecções e complicar condições preexistentes. Entre os mais afetados estão as crianças, os idosos e as pessoas com doenças crônicas, que requerem intervenções rápidas e um monitoramento constante para prevenir o agravamento de suas condições.

Nos serviços de emergência, especialmente nas Regiões Norte e Centro-Oeste, a pressão sobre o sistema de saúde tem sido evidente. Diante desse cenário, os médicos emergencistas buscam estar sempre preparados, oferecendo tratamento imediato e estabilizando os pacientes.

É nesse contexto de desafios que, neste mês, Campo Grande será palco de um dos maiores eventos de medicina de emergência na América Latina: o Congresso Brasileiro de Medicina de Emergência (Cbmede), que ocorrerá entre os dias 24 e 29. 

O evento reunirá especialistas de todo o Brasil e do exterior para discutir, entre outros temas, os desafios do atendimento emergencial em tempos de catástrofes ambientais. Será uma oportunidade única para a troca de experiências e o aprimoramento das práticas clínicas.

No Cbmede 2024, serão discutidas não apenas as melhores práticas para atender às vítimas, mas também soluções para aprimorar as políticas públicas de saúde, com foco na prevenção e no atendimento emergencial em contextos de desastres ambientais.

A presença de renomados especialistas enriquecerá ainda mais as discussões, permitindo que compartilhemos as melhores práticas e estratégias para melhorar o atendimento emergencial em todo o País.

Como sociedade, devemos compreender que a saúde pública está intimamente ligada à preservação ambiental. As queimadas e os outros desastres naturais sobrecarregam o sistema de saúde e agravam condições médicas, especialmente em pacientes mais vulneráveis. Por isso, é fundamental que as autoridades e a população unam esforços para mitigar esses danos, garantindo que todos tenham acesso ao atendimento médico necessário.

A medicina de emergência já se revelou essencial em tempos de catástrofes ambientais. Estamos preparados para o inesperado, mas também são urgentes e necessárias medidas preventivas que possam minimizar os impactos à saúde causados por essas mudanças.

Portanto, refletir sobre a preservação do meio ambiente não é apenas uma questão ecológica, mas também uma questão de saúde pública. O equilíbrio entre o cuidado com o meio ambiente e o bem-estar da população deve ser um dos pilares de qualquer ação futura.

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